Almas

Capítulo 10

A escola acabou por afastar-nos um pouco, Alma. Estávamos ambos num dos anos mais exigente, problemático e decisivo da nossa vida académica. Não tínhamos tempo a perder. Tínhamos horários demasiado preenchidos, estávamos demasiado atarefados. E isso provocou um certo afastamento entre nós, Alma. Porém, ainda nos encontrávamos todas as semanas e conversávamos quase todos os dias. Fomos mantendo uma relação minimamente estável consoante o tempo que tínhamos disponível.

Contudo, perto do final de 2018, um acontecimento bastante inesperado veio alterar drasticamente o rumo da relação de amizade que tínhamos construído.

Recordo-me que era o nosso último dia de aulas do primeiro período e que tínhamos vindo embora de autocarro. Naquela altura, eu costumava ficar a conversar contigo à porta de tua casa, durante uns momentos. E, nesse dia, não foi diferente. Não me lembro do que falamos nesse dia, mas, em algum momento, devemos ter falado de coisas dos velhos tempos das quais sentíamos falta, porque tu pegaste-me ao colo como antes fazias. E depois disso, simplesmente beijaste-me.

Ainda hoje, penso no quão confuso esse dia foi. E, olha que a confusão ainda nem começou realmente. Ainda tínhamos um longo e tortuoso caminho para percorrer.

Assim que saí de tua casa, lembro-me de tentar ligar para uma das minhas amigas e de estar extremamente feliz. Acho que foi nesse momento que percebi que ainda estava completamente apaixonada por ti, Alma.

Mas o dia estava longe de acabar. Horas mais tarde, recebo uma mensagem tua a dizer que o beijo tinha sido um erro, que não devia ter acontecido e que nos devíamos afastar. Quando li a mensagem, fiquei automaticamente em choque, não queria acreditar que aquilo estava realmente a acontecer. E cometi o meu segundo erro. Agi por impulso e disse-te coisas que não devia ter dito.

Contudo, o Destino deu-me uma oportunidade para esfriar a cabeça e tentar concertar o que tinha feito de errado. A amiga, que tinha tentado contactar depois de sair de tua casa, ligou-me. Recordo-me de atender a chamada extremamente nervosa e frustrada, mas dei o meu melhor para lhe explicar a situação em que me encontrava. Acho que nesse dia tive exageradamente perto de ter um ataque de ansiedade. E ela foi um anjo, deu-me os melhores conselhos possíveis e, acima de tudo, conseguiu acalmar-me.

Mais calma, tentei falar contigo das mais variadas formas. Mandei-te mensagens, liguei-te incontáveis vezes. Eu só queria que tu me ouvisses. E tu ouviste, mas a tua decisão já estava tomada. Precisavas de um tempo e eu dei-to. Mas não desisti de ti, Alma. Não iria cometer mais nenhum erro.