Capítulo 8

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Segui com a minha vida, Alma. Dia após dia, aprendi a valorizar o que tinha e o que estava a conquistar. Queria acreditar que ainda teria oportunidade de voltar a ter-te presente na minha vida. Mas, ainda demorou algum tempo para que o Destino decidisse juntar-nos novamente, Alma. E se este realmente existe, decidiu fazer-me sofrer mais um bocadinho antes de me dar tréguas. No dia 26 de abril de 2018, estava eu a voltar para casa depois de ter ido ao dentista, quando me deparo com um acidente. Quando vi o local e a pessoa que tinha sido atropelada, não pensei que pode-se ser alguém que eu conhecesse nem tão pouco que dali a uns minutos já não estaria entre nós. Mas a verdade é que quando chego à paragem de autocarro no dia seguinte, deparo-me com uma rapariga a chorar e com uma notícia que ainda hoje me custa relembrar. O rapaz do acidente tinha morrido e era um ex-colega meu. Foi um choque de realidade. Ainda hoje o é. Os dias seguintes foram complicados, a dor era grande. Mas com o tempo, aprende-se a lidar e a viver com ela. Hoje, essa dor parece distante, anestesiada por tantas outras, mas ainda dói, ainda custa recordar.

E, mais uma vez, foi obrigada a abrandar o ritmo. Aprender a valorizar o momento e as pessoas que no futuro próximo poderão já não estar mais presentes. E, lentamente, voltei à realidade. Precisava de reagir, não ficar presa ao momento.

Segui com a minha vida. E, de certa forma reencontrei o passado. Não me recordo com exatidão a altura em que as nossas vidas se cruzaram pela primeira vez desde o fim do nosso relacionamento, Alma. A minha memória foi bastante afectada pelos acontecimentos marcantes destes últimos anos. Contudo, recordo-me como é que aconteceu.

Era um dia como os outros e eu ia de autocarro para casa. Por algum motivo que só ao Destino cabe saber, tu também tinhas ido de autocarro com três amigos. Vocês juntos, eu sozinha. Lembro-me de vocês estarem a comentar acerca das minhas ex-relações porque um deles tinha ouvido falar da minha relação com a Escuridão. Lembro-me também dos teus amigos te terem desafiado para te sentares ao meu lado. Tu arranjaste várias desculpas para não puderes cumprir o desafio, como seria óbvio. Já não falávamos há mais de um ano. Muita coisa tinha mudado. E eu dei-te a oportunidade e o motivo para cumprires o desafio. E, pela primeira vez em muito tempo, tivemos uma conversa. E tu, Alma, contaste-me do teu acidente de bicicleta e de como tinhas ganho umas cicatrizes. E eu ouvi-te e ri-me com as tuas histórias.

Mas nenhum dos dois estava ainda preparado para voltar a ter uma amizade. E, por isso, afastamo-nos novamente. Mas, desta vez, não por muito tempo.

Numa noite de junho de 2018, já perto da meia-noite, recebo uma mensagem de um número desconhecido. Se fiquei com medo? Fiquei, era uma mensagem de um número que eu não conhecia e enviada a uma hora nada convencional. Se fiquei curiosa? Devo admitir que fiquei. Principalmente por a mensagem referir explicitamente o meu nome. Claro que pensei que pudesse ser engano, o meu nome não é propriamente incomum. Mas algo me dizia que aquela mensagem tinha sido propositadamente enviada para mim. E, por isso, tive coragem para responder. 

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