EPÍLOGO

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MARCO

— Olha só, você tomou tudo — declarei, pegando o copo sujo de sangue das suas pequenas mãos e o analisando. — Ainda está com sede? — perguntei, fazendo-a balançar a cabeça bruscamente e seus cabelos curtos balançarem. — Então está na hora de dormir — avisei, sentando-me na cama.

— Mas papai, ainda é meu aniversário — apontou, segurando meu braço e me puxando para cama. Sorri para ela.

— E o que você quer fazer? — perguntei, deixando o copo perto do abajur e me acomodando na cama. — Nós já brincamos, cantamos parabéns, dançamos e brincamos de novo. Já esta tarde, descanse um pouco — pedi, limpando o canto dos seus lábios, sujos de sangue.

— Mas ainda é meu aniversário! — resmungou, levantando na cama. Arrumei seu pijama e a ajudei a descer da cama. Ela correu, pegando o filhote de gato entre seus brinquedos de pelúcia e o trazendo para cama. — Vamos brincar com o Liam — disse ela, acariciando as enormes orelhas do animal, que miou e fechou os olhos, gostando do carinho.

— Você colocou o nome dele de Liam? — questionei, segurando uma risada. — Será que o verdadeiro Liam sabe disso? — Franzi a testa, fazendo-a rir. Suas bochechas ficaram coradas e fez meu coração vibrar.

— Não — disse, ainda sorrindo. — Mas eles têm pelos negros, orelhas grandes e dentes afiados, são praticamente iguais — explicou, cariciando o filhote com cuidado.

— Tem razão, não sei por que ainda questionei — brinquei, fazendo apoiar as costas no meu peito. — Eles são igualzinhos. — Ela balançou a cabeça, concordando. — Pronta para dormir? — perguntei, depois de passar alguns minutos vendo-a acariciando seu primeiro animal de estimação.

— Mas o papai não veio me dar um beijo — rebateu, me fazendo olhar para a porta entreaberta. — Ele disse que viria — resmungou, fazendo biquinho.

— Claro que ele vem — avisei, bagunçando seus cabelos negros. Ela riu, fugindo de mim. — Porque não se deita e eu vou chama-lo — sugeri. Ela confirmou e se acomodou entre os travesseiros, ainda com o gato em seus braços. Levantei devagar, pegando o copo sujo. Assim que sai do quarto, encontrei Liam vindo à minha direção.

— Você está atrasado — apontou, com um sorriso sem jeito.

— Eu sei, me desculpe — pedi, suspirando longamente. — Prometo que vou recompensa-lo — avisei, fazendo um sorriso malicioso se formar em seus lábios grossos.

— Então esse atrasado valeu muito pena — disse, me fazendo sorrir.

— Eu só preciso encontrar o Alec e voltamos para casa — avisei. Liam pegou o copo sujo das minhas mãos e concordou. Segui até o escritório no próximo corredor. Assim que cheguei, bati duas vezes antes de entrar.

— Marco! — Alec levantou da poltrona com ansiedade. — Você não vai acreditar o que eu encontrei — disse rapidamente. Olhei para os papéis jogados sobre a mesa, notando várias fotos e mapas. Não me foquei nas imagens, sabendo que só sentiria mais falta dela.

— Para! — mandei e ele se calou, surpreso. — Você prometeu que não faria mais isso. — Arranquei o papel de suas mãos e o amassei. — Essa não é a Lia, Alec — falei, tentando lembra-lo. — Ela não é a nossa Lia. — Seu sorriso morreu e o vi engoli em seco. — Você não pode procurar por ela, você prometeu isso.

— Eu sei... — murmurou, sem me olhar.

— Sua filha está esperando você — avisei, fazendo-o me olhar. — Ela quer passar as últimas horas do aniversário dela com você. Então pare com isso e faça companhia a ela — mandei.

— Eu vou — confirmou rapidamente.

— Ótimo. — Respirei fundo, dando as costas e saindo do escritório. Passei os dedos entre os cabelos, sabendo que precisaria me livrar de tudo aquilo novamente.

Quando ele vai aceitar?

~*~

ALEC

Segurei a caixa com cuidado, sem querer arruinar o que criei. Estava chegando em seu quarto quando ouvi o som da sua voz. Parei em frente da porta, sorrindo com sua voz suave e inocente.

— Hoje é meu aniversário — disse ela, roubando-me outro sorriso. — Estou fazendo quatro anos e meus amigos vieram para comer bolo comigo. — Mordi o lábio, sentindo aquela onda quente abraçar meu coração. — Eu também ganhei muito presentes — contou ela com animação. Acho que ouvi-la falando com seu gato será algo frequente. — Eu achei que você não viria — murmurou, fazendo-me franzi a testa.

— A mamãe ama você — disse outra voz, uma voz familiar que há anos não ouvia. Com a mão trêmula, abri a porta lentamente. Morgana me olhou, ainda sentada na cama bagunçada, mas ela estava sozinha. Olhei ao redor rapidamente, procurando-a com desespero.

— Papai — chamou, roubando minha atenção. — Por que você demorou? — Ela cruzou os braços finos e me olhou com a testa franzida.

Com receio, me sentei ao seu lado na cama, ainda vasculhando o quarto vazio.

— Papai estava pegando isso para você — comentei, entregando a caixa. Ela sorriu, abrindo-a com ansiedade. Tirei o gato do seu colo, ainda olhando ao redor, esperando vê-la em algum lugar. Se é que ela realmente estava aqui. Talvez, eu só esteja alucinando? Não ando me alimentando como deveria. — O que achou? — Peguei a coroa de flores dentro da caixa e coloquei na sua cabeça, fazendo as flores se destacarem em seus cabelos negros. — Agora você é uma princesa.

Ela sorriu docemente para mim. Tateando com cuidado as flores.

— Eu gosto de ser princesa — comentou ela com diversão e olhos brilhantes. Com cuidado, tirei alguns fios do seu rosto, fazendo-a deitar com calma ao meu lado. — Vamos dormir? — perguntou, se virando na minha direção.

— Vamos — comentei, relaxando a cabeça no travesseiro e tudo o que eu conseguia sentir era seu cheiro único e familiar. Morgana pegou o gato do meu colo e se acomodou com ele ao meu lado. Ela não fechou os olhos e continuou encarando a cicatriz no meu olho destruído.

— Eu te amo papai — falou, fazendo-me beijar seus cabelos.

— Eu também amo você minha princesa — murmurei, fazendo-a apoiar a cabeça no meu peito. — E eternamente irei ama-la.

Fechei os olhos, sentindo-me cansado, mas antes que eu pudesse cair no sono, sua voz suave invadiu meus pensamentos.

— A mamãe disse que também me ama.

Meu coração parou e abri os olhos rapidamente.

Lia.

Fim

ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora