Copos-de-Leite

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A senhora Inoichi só conseguia bebericar o chá enquanto se perguntava se Shikamaru havia conseguido pensar em alguma desculpa para a floricultura estar vazia. Tudo havia acontecido rápido demais, no mesmo dia que em que a filha partiu animada para comprar flores novas...

Só de se lembrar, ela teve um arrepio e deixou a xícara de lado.

O diálogo com o Rokudaime denigriu completamente a estima que ela possuía por ele. Um diálogo seco, curto, dentro do estabelecimento quando o mesmo já estava sendo esvaziado, sem aviso prévio:

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— Mas o que estão fazendo!? Não podem simplesmente fazer isso! — a mulher falava aflita, havia acabado de abrir as portas e vários integrantes da AMBU entraram sem cerimonias.

— Fui eu mesmo quem mandei... — Kakashi falou com a voz arrastada e o olhar indiferente, enquanto também entrava no recinto.

— E por que!? O que tem de errado com as flores Yamanaka? — ela segurou um belo jarro com flores brancas, belíssimos copos-de-leite, tentando salvar algo.

— A floricultura pode ter relação com os assassinatos recentes, estamos recolhendo todos os materiais para testes... — a resposta saiu indiferente.

— Como pode falar isso daqui!? De nós!? — a mulher disse desesperada — Nosso clã viveu aqui por décadas, como iriamos cometer crimes com flores!? — a senhora Inoichi, em um ato de nervosismo, beijou alguns dos copos-de-leite. Era uma tentativa de mostrar que elas não poderiam fazer mal a ninguém.

— Todas as pistas indicam isso — dessa vez, a fala de Kakashi foi séria e gélida.

Os AMBUs pararam o de carregar tudo e colocar as "provas" em pergaminhos, olhando para a mulher. Copos-de-leite podem significar tranquilidade, paz e inocência, mas todos estes significados eram antônimos da situação atual. Mesmo que os beijos tenham sido curtos e só em algumas flores, foi o suficiente para fazer com que os lábios da senhora Yamanaka já estivessem visivelmente inchados.

— Que pistas!? — ela disse irritada, cortando o silencio que se instalou no lugar, deixando o jarro cair no chão devido ao nervosismo.

— Flores na cena do crime, compradas aqui, e que provavelmente mataram as vítimas devido a alguma substancia... — a resposta do Hokage saiu calma, enquanto ele se abaixava no chão e pegava uma das mudas que ela derrubou — Flores não cometem crimes... — ele segurou a calla branca com as pontas dos dedos, como se fosse uma víbora — Mas quem as manuseia comete.

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Ela conseguia se recordar perfeitamente dos olhares acusatórios que recebeu enquanto tudo acabava de ser levado. Por sorte, devido ao horário, mais ninguém havia notado toda aquela movimentação. Porém, não foram só olhares maldosos que ela recebeu naquele dia.

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Quando tudo terminou e ela saiu pela porta da floricultura, com os olhos cheios de lágrimas e se culpando por não conseguir preservar a imagem do clã, deparou-se com Shikamaru. O rapaz sempre foi próximo de Ino, mas ultimamente andava sumido devido ao trabalho... Daí ela se recordou: tempo atrás ele havia feito algumas perguntas a ela, enquanto andavam pelo jardim.

— Shikamaru Nara... — ela falou com a voz tremula devido à raiva, só em pensar que era por causa dele que tinham ido lá.

— Eu não vou deixar eles acusarem a Ino e nem o clã Yamanaka... — a fala saiu arrastada, enquanto ele soltava a fumaça de um de seus cigarros — Estou investigando sobre isso também, sei que não são os culpados.

— Sa-Sabe? — a voz saiu tremula — Não foi a minha filha, mas eles... — antes de conseguir completar ela foi interrompida, tanto pelas lágrimas que teimaram em sair de seus olhos quanto pelo rapaz.

— Eles não vão achar nada, mas eu vou. — ele disse em tom firme — Melhor a senhora ir para casa... — ele tragou o cigarro e depois soltou a fumaça — Pensar em uma desculpa para a Ino vai ser problemático... — Shikamaru sorriu de canto, passando a mão na nuca e começando a andar.

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Se recordar de tudo isso fez com que uma pontada de esperança surgisse na mente da mulher. Se Shikamaru acreditava em Ino, assim como ela, haveriam mais pessoas que acreditassem!

Com os pensamentos começando a entrar em ordem novamente, ela sorriu e pegou a xícara de chá, bebericando e admirando alguns dos copos-de-leite que havia conseguido salvar naquele dia. Era um belo arranjo branco, bem no centro da mesa de jantar.

Olhar para eles fazia com que a calma fosse restaurada.

Crime das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora