Capítulo 04 ( natal )

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Foi escolha minha passar o natal em Hogwarts, eu era capaz de tudo para evitar a bruxa má do oeste, vulgo minha avó, pelo maior período de tempo possível, o que quer dizer que eu planejava passar todas as festas em Hogwarts dali em diante, o que também queria dizer que eu teria muito tempo sozinha, porque nessas épocas a escola ficava quase deserta, e não havia um lufano sequer alem de mim em todo o castelo.

gastei minhas primeiras horas livres jogando xadrez de bruxo comigo mesma na torre de astronomia.Chato, não é? Mas foi o melhor que eu consegui.

Era o segundo natal sem a minha mãe, e eu estava evitando pensar nisso, porque eu ficava muito triste, e tinha um vontade louca de chorar, porque eu começava a lembrar de tudo. Uma lágrima morna desceu por meu rosto, e foi seguida por outra e outra, e eu tinha parado de mecher nas peças do jogo e estava chorando quieta, sem nenhum som, sem sequer um solução. Só as lágrimas caindo devagar, em um ritmo constante.

- Não deveria jogar sozinha. É estranho. - enxuguei as lágrimas com as costas das mãos rápido. E olhei para cima, vendo Severo encostado na armação da entrada.

- Você ficou no colégio. - Digo surpresa.

Nunca me passou pela cabeça que ele pudesse passar o natal ali, quando a maioria dos alunos ia para suas casas. Mas eu selti um calor no coração com isso.

- Evidentemente. - ele ergueu um pouco a sobrancelha, com aquele rosto inexpressivo de sempre, e a voz áspera.

Ele não fez comentário sobre meus olhos e nariz avermelhados, nem perguntou sobre o meu choro. Mas eu não vi isso como indiferença, vi isso como o jeito dele de me ajudar, um jeito estranho e distorcido, mais era o máximo que eu podia exigir dele quando eu o vinha chateando esse tempo todo.

- Você quer jogar comigo? - perguntei, surpresa com a firmeza na minha voz, era a primeira vez que eu falava uma frase inteira a ele, sem gaguejar, titubear, demorar demais, ou parecer uma idiota, e isso me fez encontrar mais força naquele momento, e por isso eu não queria deixa-lo, porque ele me fazia esquecer das coisas ruins.

Ele deu de ombros descontraído, se aproximou, sentou a minha frente e começou a arrumar as peças do tabuleiro sem dizer nada.

E eu tinha um sorriso no rosto, mesmo que choroso dado ao meu estado emocional. Funguei, e me concentrei no início do jogo.

- Cheque mate. - digo quando meu cavalo destruiu sua rainha.

- Impossível! - diz boquiaberto, os olhos arregalados. - quero revanche.

Eu concordei com a cabeça, e comecei a arrumar nosso exércitos conforme os componentes do jogo iam se reconstruindo.

Snape estava bem mais atento do que a princípio, e a partida demorou mais, e eu gostei disso. Ele fazia uma careta muito fofa quando estava concentrado, e por isso eu me distraí algumas vezes e acabamos ficando com o mesmo número de peças em certo momento, mas eu ganhei assim mesmo.

- Como você fez isso?! - questionou olhando para o tabuleiro e aparentemente revendo meus movimentos anteriores para descobrir como virei o jogo.

- Talento nato. - falei exibida, com expressão vitoriosa.

Ele pegou uma pecinha do tabuleiro e atirou fraco em minha direção antes de se levantar com um sorriso quase imperceptível de canto de boca, sem dizer nada, e se virou para ir embora.

- Vamos jogar amanhã? - questiono antes que vá.

- Não sei. - então ele se retirou.

Me deixando em um estado esperançoso e frustrado ao mesmo tempo. Então eu percebi que aquela foi a primeira vez que consegui agir normalmente na frente dele, que fui eu mesma, sem aquele nervosismo assustador e a timidez descompassada, e consegui o mais perto de um sorriso vindo dele, e um sorriso que eu causei.

Me joguei de costas, deitando no chão e rir como uma criança, todos os meus músculos tremendo e meu coração batendo como um louco.

Não nos falamos nos dois dias que se seguiram ao jogo na torre, mesmo que eu o visse em muitos momentos durante os mesmos, ele claramente voltou a fingir que eu não existia e não demostrava a minha vontade de falar comigo, ou com qualquer outra pessoa, para falar a verdade. No entanto isso não me deixou menos chateada, pensei que haviamos evoluido. Pensei de verdade. Não entrava na minha cabeça o porque de ele querer distância de mim, se eu não fiz nada de mal para ele, e gostava muito do mesmo, mas Severo era um grande incógnita.

Na vespera de natal Hogwarts deu uma festa pequena e aconchegante para os alunos que ali ficaram. As mesas do grande salão foram substituídas por uma única mesa maior, porque o número de estudantes na escola foi bem menor que nos últimos anos, por isso - no clima de natal - uniram todas as casas.

E ali estava eu, me sentando em um espaço qualquer vestindo minha saia xadres e meu suéter amarelo, os cabelos em um rabo de cavalo alinhado, incomum para mim, que sempre o prendia de qualquer jeito, isso quando não o deixava solto.

Não fui para a festa que começou as dez, vim apenas para a ceia, chegando poucos minutos antes da meia noite, sentando com algumas pessoas pois muitos foram para o pátio ver os fogos de artifício, só que eu não gostava da ideia de ve-los "sozinha", com pessoas que eu só conversava vez ou outra nas aulas ou sequer conhecia, principalmente porque agora, sem a minha mãe, eu não tinha alguem especial para dividir esses momentos comigo, e fazer isso sozinha me deixaria desolada.

Alguém sentou em meu lado, e vi que era Snape.

- O..oi.- gaguejei hesitante para o garoto, silencioso.

Ele fingiu não ouvir, mais algo o fez mudar de idéia, só não sei oque. Ele virou para mim.

- Não gagueje, Blackwood. Isso é ridículo. - falou.

Fiquei pálida com a grosseria, não que ele não o fosse muitas vezes.

- Desculpe. - falei baixinho.

- E não se desculpe, quando não tiver feito algo errado. - falou logo após. - é isso o que me irrita em você.

Voltou a me ignorar, tentei falar algo mais sem sucesso, as palavras ficaram desconexas na minha boca, e não disse nada mais que um curto sussurro sem nenhum sentindo. Fiquei calada depois disso. A meia noite a unica coisa que fiz foi pegar o cordão que eu fiz para ele e enfiar em sua mão por debaixo da mesa, me sentindo muito idiota por gastar um tempão montando ele nos últimos dois dias com algumas coisas que eu tinha. Fiquei retraída o resto da ceia toda sem nem conseguir olhar para ele, e quando ela terminou eu quase corri para fora do salão.

Fui dormir em lágrimas aquela noite.

Na manhã seguinte encontrei Severo na frente da minha comunal, que deveria ser _supostamente_ secreta. Eu passei a manhã na cama, pedi a um elfo para me tranzer um lanche e só saí por volta das duas da tarde. Me perguntei como ele sabia que eu sairia aquele horário. Me pareceu um absurdo pensar que ele havia ficado me esperando.

- Está atrasada. - olhou em seu relógio. Então olhou para mim com a sobrancelha erguida, como se me desafiando a contradize-lo. - Nós iamos estudar as uma.

Quando marcamos isso? - me perguntei confusa, mais depois pensei - Ah, quem liga?! _ comecei a sorrir e acenti com a cabeça. Dando a ele a razão. Quem precisa dela?

- Vamos logo com isso. - ele se virou e saiu andando, comigo logo atrás.

Talvez nós dois sejamos loucos, mas novamente, quem liga? Eu com certeza não, não mesmo.



 ℳℯ𝓊 𝒫𝓇𝒾𝓃𝒸𝒾𝓅ℯ ℐ𝓂𝓅ℯ𝓇𝒻ℯ𝒾𝓉ℴ.- 𝐒𝐞𝐯𝐞𝐫𝐨 𝐒𝐧𝐚𝐩𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora