Capítulo 23

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Vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais

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Vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele.

Victor Hugo.


Laís Silva

Vazio. Quem sabe eu esteja sonhando, mas eu me sentia sozinha. Apalpo a cama ao meu lado e constato que Bi não estava ali.

Uma sensação de solidão permeou meu coração, mas a afasto assim que levanto para encontra-lo pela casa. Hoje, eu estava de folga, entretanto, Gabriel não estava.

Vagueio meio sonolenta por entre os corredores até alcançar a cozinha, onde um bilhete escrito a mão fora deixado. Senti um sorriso se erguer em minha face.

Flor, sei que neste momento você deve estar se indagando muitas coisas. Bom, eu mesmo me perco na imensidão em que vivo. Não quero que pense coisas inadequadas sobre minha decisão, apenas deixe-me conta-la sobre coisas que prendi em mim mesmo durante bons meses.

Você de certa forma me fez enxergar muito além do que jamais pensei ver. Sem ti, eu não teria conseguido chegar onde cheguei, mas venho percebendo que não faço o mesmo por você.

Onde um homem tão morto por dentro conseguiria fazer uma mulher como você feliz? Sua imensa alegria, sua ternura e paixão me envolveram de uma forma inexplicável, mas o que eu a ofereci além de um passado repleto de dor e rancores?

Sei mais do que ninguém que Laís Silva merece o mundo, e desta forma aconselho que busque o melhor para você mesma.

Seus sonhos são a chave que tem para a prosperidade e o mundo em que vivemos lhe trará alegria se souber busca-la em lugares inigualáveis. Conheça o que queira conhecer, viva o que tem de viver. As coisas são mais simples quando as encaramos de forma que as fazem deixar de ser um enigma.

Enfim, ontem recebi a chave que precisava e buscava durante todos estes meses. Desta forma, com minha total imprudência, me levo a concretização de um objetivo. Prenderei Jorginho hoje e sei que tenho boas condições ao fazê-lo. Porém, caso algo saia de meu controle e por algum motivo eu não sobreviver, quero que saiba que te amo.

Te amo e te amarei pelo resto de minha vida, mesmo que eu não a passe ao seu lado. Mas o amor que sinto por ti ultrapassará quaisquer barreiras, até a morte.

Com amor,

Seu Bi.

Meus olhos, agora embaçados pelas lágrimas, releram a carta inúmeras vezes antes que eu pudesse ao menos compreender o que ali estava escrito.

Eu não conseguia pensar em meio ao redemoinho de informações que meu cérebro tentava processar. Meu coração, agora em estilhaços, queria que isto fosse mentira.

— Não! — Sussurro em prantos. Gabriel não era louco para ir atrás de Jorginho desta forma, não mesmo.

Bom, pelo menos eu queria acreditar que não. Passei bons minutos imersa em pensamentos, sem ao menos conseguir concluir algo.

Ele havia se declarado a mim, contudo, ao mesmo tempo se foi sem me deixar espaço para lhe dizer o mesmo. Não tenho ideia se conseguirei lhe falar o quanto o amo.

Faze-lo entender que o quero ao meu lado para enfrentar quaisquer barreiras que forem postas em nossa frente. Quero ouvir o som de sua risada e senti-lo em mim quando nosso desejo crescer.

Eu não podia lhes dizer quanto tempo levei para sair do lugar e deixar aquela carta — tão perfeita e perturbadora — de lado. Era inevitável que eu me sentisse desamparada. Gabriel havia me feito a mulher mais feliz do mundo.

Sua história me fizera enxerga-lo com outros olhos. Pude interpretar diversas coisas que eram um mistério em Bi. Tive a total capacidade de ver que ele era sim um homem ferido, que seu passado carregava bem mais do que eu jamais imaginei.

Apesar disto, eu estava com raiva dele. Na verdade, furiosa seria uma palavra bem mais adequada. Jorginho, pelo o que eu sabia, poderia facilmente mata-lo sem deixar qualquer rastro. O cara é a merda do criminoso mais procurado de São Paulo.

Não faço ideia do que este homem, —que eu tinha o prazer de dizer que era louco — tinha na cabeça ao ir em uma busca suicida para prender o cara. Gabriel estava bem longe de estar com suas devidas faculdades mentais.

Todavia, eu sabia que isto iria acontecer algum dia. Fazer Jorginho cair era seu plano de vida, seu trabalho. Bi deixara claro que isto era seu objetivo deste que nos conhecemos. E mesmo que nossas vidas juntas tenham passado a significar bem mais do que pensamos, ainda assim, eu não era sua total prioridade.

Era deprimente pensar desta forma, contudo, é a mais pura realidade. Meu coração doía ao constatar tais informações, apesar de ama-lo, Gabriel tinha me ferido ao sair desta casa e me deixar nada mais do que um bilhete idiota.

As lágrimas - que neste momento eu recusava a deixar cair — se sessaram assim que a raiva fora permeando meu corpo. Eu me sentia dilacerada, impotente. O que eu poderia fazer além de cair em prantos enquanto o homem que eu amava se levava a morte?

Talvez eu estivesse passando por um colapso. Ou isso era apenas um pesadelo inoportuno pela qual eu queria desesperadamente acordar. No entanto, eu sentia em minha alma que tudo não se passava da mais pura — e cruel — realidade.

Mas eu era ingênua, toda esta dor era o inicio dos maus bocados que eu teria de passar. Aqui, sentada neste hospital gélido e triste eu tive a certeza que minhas angustias só haviam começado. Gabriel tinha sim encontrado Jorginho. Meu homem era a porra de um herói naquela merda de delegacia. Porém, por sua imensa coragem ele estava agora entre a vida e a morte.

Eu não fazia ideia do que poderia ter acontecido com ele. Que horror ele tivera de passar para conseguir completar seu objetivo. A minha raiva não adiantaria de nada agora. Tudo o que me restara fora a ansiedade e a amargura.

A bala que fora cravada em seu corpo fizera que Bi perdesse sangue demais. Os médicos já nos alertaram das possíveis complicações. Era incrível como as coisas podiam mudar de curso tão rápido.

— Fique calma, minha querida. — Carol tentara me acalmar. Apesar de partilhar da mesma aflição que eu. -—Gabriel é forte, tenho certeza que ele sairá desta.

— É bom que saia. — Fungo, analisando seus irmãos, agora tão quietos e magoados quanto eu.

Horas se passaram até que pudéssemos sequer ter alguma notícia dele. Bi — pelo o que o médico disse — tivera uma hemorragia interna durante a cirurgia, o que complicara ainda mais seu estado.

Meu coração errava sua batida a cada palavra que aquele médico me dizia. Aos poucos, o som de sua voz passou a ficar longe. Meus olhos se embaçando com as lágrimas que teimaram a aparecer.

Eu não conseguia mais firmar meus pés ao chão. A dor passou a transcorrer em meu corpo como o sangue que corria em minhas veias. Talvez eu estivesse morrendo, mas eu não me importava.

Não mais.

Não mais

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Uma Chance Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora