Ruel Van Dijk
Point of view"Eu queria mesmo estar bem, queria poder falar sobre, queria poder gritar até minha garganta sangrar, queria poder chorar, mas eu tenho que ser forte até meu coração parar."
{...}
Durante a quarta aula, eu já não aguentava mais ouvir os pequenos ruídos emitidos naquela sala, o giz no quadro, os fones dos alunos e cochichos, tudo isso me incomodava mesmo que eu tivesse entrado na sala a menos de cinco minutos.
Embora aquela aula estivesse apenas no começo, minha cabeça rodava até chegar aos acontecimentos de ontem. Quando mais uma vez os meus pais brigavam até cansar de arranjar xingamentos pra usar como razão.Uma garota loira vai até o professor e fala algo baixo fazendo-o parar de copiar algo "inútil" de geografia no quadro.
- Lia você está bem? -Ouço a voz do professor passando por mim e indo até a garota que ontem eu havia quase atropelado (fato que talvez fizesse com que eu perdesse minha carteira de motorista algum dia).
Eles falaram baixo, até que ela se levanta e saí sendo acompanhada pelo o professor e pela menina que presumo ser sua amiga, ela parecia estar emersa, como se tivesse paralisada, mas a respiração acelerada mostrava o contrário.
- Mais uma vez ela chamando atenção pra ver se alguém se importa, o pai dela morreu durante o verão, as coisas passam. -Um garoto do time de basquete diz.
- E você mais uma vez falando merda, são só músculos ou você tem cérebro? -Digo olhando pra o garoto que apenas ficou calado enquanto os amigos riam. - Pelo visto ainda restam alguns neurônios, então use mais eles.
Após a parte desastrosa da aula, terminou que aquilo passou rápido, os alunos gritaram e alguns saíram da sala mas o professor voltou e os que estavam ali se "acalmaram" e tudo passou.
E ao sair dali, após o sinal irritante das aulas, observei um pouco toda agitação, alguns indo para suas casas e outros sendo outros e falando super alto, entendo um pouco a Lia por ter talvez ficado incomodada com o barulho.
Sigo o meu caminho até a saída principal da escola, indo até o estacionamento onde estava mais calmo apenas com sons vindo do campo de futebol próximo, que quase não era usado e as vezes passando por ali me perguntava o porquê.
Por mais alguns minutos depois de sair do limite da escola, vinha um cheiro de café inebriante vindo da cafeteria que eu frequentava diariamente, mas não pelo o café, e sim pelas rosquinhas com cobertura de chocolate amargo e alguns granulados coloridos, que pra falar a verdade eram as melhores rosquinhas de toda cidade (em minha opinião). Empurro a porta ouvindo o sininho tocar e entro no lugar sorridente ao ver a senhora Smith no balcão.
- Boa tarde Sra. Smith. -Digo me encostando no balcão e sorrindo largo
- Boa tarde garoto, achei que não viria hoje. -A senhora diz e bagunça os meus cabelos.
- Tive que assistir a última aula, tem rosquinhas de chocolate hoje?
- Tem sim, na verdade coloquei elas no forno um pouco mais tarde, se importaria de esperar o chocolate esfriar?
- Claro que não. -Sorrio gentil pra a mesma que devolve o sorriso e vai até a cozinha.
Olho ao redor da cafeteria e vejo a Lia sentada com uma xícara enquanto estava de fones, ando até a mesa onde ela estava sentada e me acomodo na cadeira em frente a ela.
- Oi... -Digo receoso.
- Oi? -Ela diz baixinho tirando os fones.
- Você passou mal na aula de geografia. Você está bem? -Pergunto sorrindo de leve.
- Estou sim, obrigada por perguntar.
- O seu pai ele... -Digo e a vejo me olhar vago. -Desculpa, eu ouvi um garoto falar, eu sinto muito por você tê-lo perdido recentemente.
Eu entendia o porquê ela havia ficado daquela forma, as vezes o luto ferra com nossa cabeça.
- Eu também sinto, eles falaram algo quando eu saí não foi?
- Não se importe com eles, você é uma garota legal demais, aliás bonita a blusa. -Digo apontando para sua blusa com uma frase de uma música do Harry Styles.
- Você gosta do Harry? -Ela diz sorrindo largo como se a anos ninguém com gostos em comum tivesse reparado nela.
- E quem não gosta?
Ela sorri e checa o celular e estala a língua logo depois.
- Preciso ir, foi bom conversar com você, obrigada novamente. -Ela diz pegando sua bolsa e deixando na mesa uma nota de dez dólares.
- Eu quase te atropelei, deixa que eu pago o seu café.
- Não precisa eu...
- Como eu disse, eu quase te atropelei, pode ficar com o dinheiro eu pago o café.
- Obrigada, até amanhã. -Ela fala saindo.
- Te vejo na escola. -Falo um pouco mais alto enquanto via ela sair da cafeteria.
Após conversar com ela, eu percebi que na maioria das vezes... As pessoas estão erradas, ela parecia perdida.
{...}
"A minha família anda me questionando o porquê eu uso os fones de ouvido na maior parte do dia. Eu só queria uma resposta concreta para dar pra eles, as vezes é só porquê encontrei uma música legal, mas também é porque eu estou triste."
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𝐒𝐓𝐎𝐍𝐄, 𝒓𝒖𝒆𝒍
Romance𝐒𝐓𝐎𝐍𝐄 || ❝ ela é a melhor parte do mundo, tem esperança nele, mesmo que não tenha em si mesma.❞ Onde Ruel e Lia acabam sendo ligados por dor e conflito, mas mesmo assim, se tornam o próprio lar.