Como se resolver com Mark, por Lee Donghyuck

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Oi meu povo! Tudo bem? Vou roubar vocês um pouquinho, hehe. Bem, hoje vou contar pra vocês sobre a minha história com o Mark. Estão prontos?
Posso dizer que conheço aquele boboca desde que me entendo por gente. Tempo pra caramba, né? E durante praticamente toda a minha vida, eu acreditei que eu e ele nunca iríamos nos entender. Ledo engano.
Para que vocês não fiquem boiando, vou explicar o que houve entre nós para todo o ódio surgir. Mas, por favor, não estranhem. Eu vou narrar essa parte da história como outra pessoa, porque naquela época eu não tinha pensamentos muito... coerentes.
Mark e eu éramos grandes amigos. Daqueles inseparáveis, sabe? Nossas mães eram muito amigas, então nos víamos sempre. Mas isso só durou até um dia. O dia em que tudo começou.
Era uma bela tarde em que... Não. Não foi assim. Na verdade, era só mais um dia normal. Eu devia ter dois ou três anos naquela época, e ainda estava na creche.
- Markie, olha pa mim! - o eu mais novo grita entusiasmado, atraindo a atenção do outro garoto.
- Tá lindo, Hyuckie! - Mark diz sorrindo, apertando as bochechas do mais novo.
- Mamã que fez pa mim! - ele diz feliz, exibindo sua coroa de papel feita pela mãe.
- Você tá igual a um príncipe! - o outro diz, não pensando muito em se aproximar do mais novo, deixando um leve selar na boca pequena do garoto.
- Markie, o que é isso? - ele diz repetindo o ato, confuso.
- Não sei. Mamãe sempre faz isso com o papai - Mark responde sorrindo, acabando por contagiar o outro.
E então, inocentemente, os dois garotos passaram a trocar pequenos e rápidos beijos, sorrindo um para o outro a cada toque. Imersos em uma bolha de felicidade e ternura, as duas crianças sequer notaram a aproximação de suas mães.
- Ah! Pelos deuses, o que é isso?! - a mãe de Mark grita, afastando rapidamente o filho do outro garoto.
- Mamãe, o que foi? - Mark pergunta confuso para a mãe, que olha com desgosto para o filho de sua amiga.
- Não chegue perto desse garoto, nunca mais! Você me ouviu, Minhyung? - ela diz séria, pegando o filho no colo.
- Mas mamãe... - o garoto se debate, tentando descer para alcançar o amigo.
- Não! Vamos embora! - a mulher alta diz antes de pegar a bolsa do filho, saindo logo em seguida. Ela não sabia, mas havia levado consigo um coração partido. O outro ficou ali, batendo rapidamente naquela sala.
- Mamã, por que o Markie foi embola? - o outro garoto, com uma sensação ruim no peito, pergunta para sua mãe.
- Filho, o Mark não pode mais brincar com você. A família dele é ruim e eu não quero que você sofra, meu bem. Promete pra mamãe que vai ficar longe deles? - a mais velha pergunta, aconchegando o filho em seu colo. Lhe doía fazer isso. Suna era uma grande amiga, não queria se afastar dela. Muito menos queria fazer o filho se afastar de alguém que amava tanto, mas assim teve de fazer.
Com lágrimas nos olhos, a pequena criança assentiu.
\ ♡ /
Anos depois, Mark e eu não voltamos a nos falar. A mãe dele enfiou na cabeça dele que eu era uma má influência. E eu fiquei com muita raiva por ele ter me deixado. Mas nenhum de nós sabia que nada disso era verdade. Eu não era uma má influência. E Mark não havia me deixado. Não por vontade própria. Mas, de corações partidos e tomados pela ignorância, nós dois passamos a nutrir ódio um pelo outro.
Contudo, outra parte importante da história acontece alguns anos depois, porque fomos obrigados a ficar juntos no acampamento do sétimo ano. Aqui eu já tinha treze anos e o Mark catorze. Cinco anos antes, eu conheci o Renjun e o Chenle.
Agora eu já posso narrar em primeira pessoa, então vamos voltar para aquela época.
Férias! Finalmente o momento mais esperado do ano. Sabem o que isso significa? Diversão! Esse ano nós vamos a um acampamento nas férias de verão, que no caso já começaram. Claro que eu mal consigo pensar direito de tanta empolgação. Por isso, agora, plenas seis da manhã, eu estou a caminho de acordar a minha mãe. Ora, eu quero chegar cedo!
- Mamãe, acorda! Levaaaanta! - ao entrar no quarto da mais velha, me jogo na cama dela, chacoalhando-a.
- Haechan... são seis da manhã! - ela resmunga, se virando para mim.
- Mas o ônibus parte às sete! Temos que ir. Eu já tô pronto! - digo cruzando os braços, acabando por arrancar um riso da mais velha pela minha ansiedade.
- Tudo bem então. Vai tomar café que eu vou me arrumar - ela diz se levantando. Assinto indo para a cozinha.
Comi uma banana elemental, porque se eu comesse o que eu queria minha mãe ia brigar comigo. Nutricionistas...
- Já pegou suas coisas? - ela diz aparecendo já arrumada na cozinha, recebendo inúmeros acenos positivos por minha parte. - Então vamos - dá uma leve risadinha antes de pegar as chaves, sendo seguida por uma criatura muito animada.
O caminho até a escola não foi demorado, afinal, moramos perto desta. Fiquei o tempo todo observando as ruas, tentando me distrair. Ao chegarmos, quase saí correndo do carro, mas tive que ouvir todas as instruções da minha mãe antes. Depois de me despedir dela, corri para dentro da escola, sorrindo ao encontrar meus amigos ali.
- Lele! Injun! - grito empolgado, atraindo a atenção dos dois.
- Hyuck! Animado? - Injun pergunta sorridente.
- Muito! Vai ser tão divertido! - respondo quase tendo um treco. Eu gosto tanto da natureza! E ainda mais de esportes. Então mistura os dois pra ver se eu não piro!
- Ainda não acredito que vocês me arrastaram pra cá - Chenle resmunga, apertando um de seus livros contra o próprio peito.
- Lele, vai ser legal! - Renjun passa os braços pelo ombro dele, sorrindo para o mais novo.
- Se não for eu vou dar na cara de vocês! - ele diz nos fuzilando.
- Não se preocupa, com a gente lá vai ser incrível - sorrio de maneira convencida para eles, arrancando um risinho dos dois.
Alguns instantes depois, o diretor apareceu dizendo para irmos para o ônibus. Eu e Renjun arrastamos o Chenle para sermos os primeiros a entrar, para podermos pegar um lugar com três assentos.
- Eu vou dormir, me acordem quando chegarmos - Renjun diz se sentando no meio, logo se ajeitando para dormir.
- Ok, mas se você roncar eu te acordo! - digo abrindo a cortininha da janela, para ver a paisagem.
- Façam silêncio, eu quero ler - Chenle diz após guardar nossas coisas na prateleira de cima, logo se sentando e abrindo um bom e velho livro.
Assim que o ônibus começa a se mover, me apresso em pegar minha câmera. Mamãe me deu de aniversário e eu simplesmente amo fotografar tudo! Claro que eu não tenho técnica né, mas o que vale é a experiência.
Poucas horas depois, chegamos ao enorme local. Antes de começarmos as atividades, fomos instruídos a irmos aos nossos quartos para deixarmos nossas coisas lá. Vamos ficar duas semanas aqui!
Saí correndo para o meu quarto, queria ir para as atividades o mais rápido possível. Ao chegar lá, me deparei com uma surpresa não tão agradável. Ignorei a presença daquela criatura que me dá nos nervos e deixei minha mala na cama, correndo para fora logo em seguida.
Durante o dia, fizemos as coisas normais de acampamento. Me diverti horrores. A comida não era lá essas coisas, mas isso não importa muito agora. Foi só o primeiro dia e eu já amei. Vocês têm noção do quão bom foi derrubar Mark Lee da canoa?
E por falar no diabo, depois de um banho gostoso e bem geladinho pra refrescar nesse calor, dei de cara com ele no quarto. Me pergunto de quem foi a ideia de jerico de me deixar no mesmo quarto que ele. Deve ter um neurônio a menos.
No momento, já é tarde da noite. Todos já foram para os quartos. Claro que eu enrolei o máximo que pude, porque não queria encontrar com ele. Mas isso não deu muito certo, porque já fazem dez minutos que eu estou aqui encarando ele. Eu juro que não queria, mas não pudemos trazer eletrônicos e eu não consigo dormir. Pelo menos ele já está dormindo, então vou ter paz.
- Vai ficar me admirando até quando? - ouço-o dizer, se virando na cama, de modo que possa me encarar de volta.
- Não tô te admirando - respondo desviando o olhar, passando a achar muito interessante a mancha da parede.
- Tem certeza? - ele diz em um tom de voz baixo, acabando por atrair minha atenção novamente.
- Me erra, Mark! - é a última coisa que digo antes de me deitar na minha cama, me virando para o lado oposto a ele.
Algumas horas depois, eu acordo. Assustado, suando.
* “- Você não pode fazer nada, pirralho!” A memória ecoa em minha mente como um tiro. Me encolho, tentando não pensar nisso.
“- Não! Por favor!” Abro meus olhos, me sentindo enjoado. Tento me levantar, já sentindo as lágrimas se formando.
“- Já é tarde. Diga adeus, bonequinho.” Prendo minha respiração, vendo meu corpo todo tremer. Paraliso ao enxergar um vulto, me desesperando com a aproximação repentina. Ouço a sombra dizer alguma coisa, mas não consigo entender o que é.
De repente, tudo fica em silêncio. Não consigo escutar mais nada. Até que a última memória vem.
“- Eu te amo, Hyuckie! - foi a última coisa que ela disse antes de morrer.” Perco o equilíbrio, caindo de joelhos no chão. Tento dizer alguma coisa, mas minha voz não sai.
Meu rosto se encharca ao que inúmeras lágrimas descem continuamente. Com o coração acelerado, sinto minha visão ficar turva. Tento, novamente, ficar em pé, mas acabo apenas ficando mais fraco.
Recobrando um pouco minha consciência, sinto braços me envolvendo. Tento normalizar minha respiração, apertando com muita força o corpo à minha frente.
- Haechan? Fala comigo! - escuto, não muito bem, uma voz dizer. - Pelos deuses, respira! - demoro um pouco para reconhecer Mark, vendo-o me encarar desesperado.
Abro minha boca, entretanto, nada sai dela. Tento mover minha mão, trêmula, até o rosto dele.
- Você quer que eu chame seus amigos? - ele diz ameaçando se afastar, mas eu o impeço, agarrando com um pouco mais de força o braço dele.
- F-fica a-aq-qui - digo com a voz fraca, entre soluços. Observo-o se ajeitar melhor no chão, me puxando para o seu colo com cuidado. Apoio minha testa em seu ombro, colocando minhas mãos em seu peito.
- Tudo bem, eu fico. Respira comigo - ele diz num tom de voz trêmulo, passando a respirar bem devagar, para que eu o acompanhe.
Depois de alguns minutos, minha respiração fica mais calma. Sinto meu coração bater mais devagar, me acalmando um pouco.
Afasto meu rosto do seu ombro, passando a encará-lo nos olhos. Vejo o olhar preocupado dele, tentando não me desesperar ainda mais.
- Se sente melhor? - ele pergunta calmamente, tentando me tranquilizar. Assinto levemente ao que ele me puxa novamente para um abraço cuidadoso. - Você tá muito quente. Quer se deitar?
- Sim - digo ao que ele se levanta comigo no colo, logo me colocando de volta na cama.
- Descansa um pouco. Não sei o que houve, mas você me parece muito cansado - ele se senta ao meu lado, acariciando levemente meu cabelo.
- Mark... fica comigo - digo quando ele se levanta, segurando seu pulso. Vejo ele me olhar surpreso antes de se deitar ao meu lado.
- Quer mais alguma coisa? - ele pergunta cauteloso. Nego, logo me aconchegando no corpo dele. *
E então, peguei no sono. Sem mais pesadelos.
\ ♡ /
Anos depois, fui diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático. Aquela foi minha primeira crise.
Quando eu tinha meus doze anos, uma das minhas mães foi morta na minha frente. Não gosto de me lembrar disso, mas, infelizmente, é algo que aconteceu.
Hoje (com meus belíssimos quase dezesseis anos) já lido bem melhor com isso. Faço o tratamento e, por isso, quase não tenho crises.
Confesso que depois do que aconteceu naquela noite eu fiquei sem jeito perto do Mark. Talvez meu ódio por ele tenha diminuído, mas só talvez! Sabe, foi bom ele não ter sido babaca. Por isso agradeci a ele no dia seguinte, mas isso não mudou o fato de que não nos dávamos bem.
E com isso chegamos a um momento mais recente. Então vamos voltar duas semanas, que foi quando finalmente as coisas passaram a funcionar entre nós.
- Hyuck... precisamos conversar - escuto minha mãe dizer encostada no batente da porta, com um semblante abatido.
- O que foi? - pergunto me sentando na cama, chamando a mais velha para se juntar a mim.
- Tem uma coisa que aconteceu há vários anos e eu nunca te disse. Acho que já é a hora de você saber - ela suspira antes de começar. - Quando você era bebê, Mark era seu amigo. Tenho quase certeza de que você não se lembra, mas eu sim. Vocês eram inseparáveis. Sinceramente, sempre esperei que vocês tivessem alguma coisa - ela dá um leve sorriso, se lembrando de alguma coisa. Me ajeito melhor na cama, prestando muita atenção. - A mãe dele nunca gostou muito do meu relacionamento com a sua mãe, mas isso nunca foi um grande problema entre nós. Eu era muito amiga dela, por isso vocês ficavam quase o tempo todo juntos. Mas teve um dia que aconteceu uma coisa que fez vocês dois deixarem de ser amigos. Eu tinha me encontrado com Suna para irmos juntas buscar vocês na creche, e quando chegamos lá vocês estavam muito próximos um do outro. Como eu estava mais atrás, não pude ver muito bem, mas ela viu. Vocês estavam se beijando. Foi muito bonitinho, era apenas um encostar de lábios. Vocês fizeram isso várias vezes, até que Suna os interrompeu. Eu sempre soube que ela é muito preconceituosa, mas nunca imaginei que ela faria algo assim com o próprio filho. Ela tirou o Mark de perto de você e o proibiu de te ver. Ele nunca pôde fazer nada, afinal, era só uma criança. Ela brigou comigo também. Me fez jurar que te manteria longe do filho dela. Mas estou te contando isso agora porque acho que você já tem idade suficiente para tomar as próprias decisões. Eu não queria que você sofresse caso continuasse falando com ele, por isso te mantive longe dele esse tempo todo. Então sim, Mark nunca te deixou. Ele foi tirado de você - ela encara os próprios dedos antes de terminar. - Eu nunca quis fazer isso. Eu sabia que você o amava, mesmo sendo tão pequeno. Mas aquela mulher tem muito poder, ela poderia nos destruir em um passe de mágica, e eu não queria tornar sua vida um inferno. Agora você sabe o que houve e cabe a você decidir o que fazer. Vou respeitar qualquer que seja a sua decisão, mas pense bem - ela deixa um beijo em minha testa antes de sair do quarto.
Encaro o chão, estático. Eu o amava? Sinto minha mente entrar em colapso, fazendo milhares de pensamentos virem de uma vez só.
Depois de alguns instantes processando as informações, me levanto da cama. Vou até o meu guarda-roupa, pegando um casaco e saindo logo em seguida.
Disse à minha mãe que iria sair para esfriar a cabeça, recebendo um “tome cuidado” por parte dela.
Caminhando pelas ruas geladas do bairro, observo o movimento da rua. Não deve ser mais que seis da tarde. Todos vivem suas vidas imersos em uma rotina costumeira. Desvio meu olhar para o céu nublado, tentando encontrar lá uma resposta para meus problemas.
Até alguns instantes atrás, eu acreditava que Mark havia me deixado por se achar superior a mim. Claro que eu sabia que éramos amigos antes, mas nunca imaginei que outros sentimentos estivessem envolvidos.
Sinto meu peito palpitar ao pensar no outro garoto. Tantos anos tomados por um ódio sem sentido. Nunca pensei na possibilidade de não o odiar. Agora, tudo parece fazer sentido. Transformei toda a mágoa de perdê-lo em ódio, culpando-o por tudo.
\ ♡ /
Depois daquele dia, Mark e eu chegamos a “conversar” sobre isso. Na realidade, a gente só conversou sobre nossa relação de ódio. Por isso ele vem me enchendo para resolvermos isso. Claro que eu quero me resolver com ele, mas eu tenho medo. Medo do que ele pode dizer. Por isso evitei falar disso com ele. É um assunto muito delicado para nós dois.
Mas, depois de toda essa confusão, chegamos ao presente. Onde, finalmente, as coisas serão resolvidas.
Dou graças aos deuses por estar em um castelo chique que tem água quentinha, porque ninguém merece tomar banho frio no inverno.
Me despeço daquela gostosura saindo do enorme banheiro, voltando para o quarto. Aqueles salafrários pensam que eu não sei que eles me colocaram com o Mark de propósito...
Aproveito que Mark bobão Lee não está no quarto e me jogo na cama, me embolando nas cobertas. Penso estar em paz, mas isso não dura muito porque logo ele entra no quarto. Escondido nos panos, observo o mais velho se aproximar da cama, se sentando ao meu lado. Ouço-o suspirar antes de começar a falar.
- Haechan... eu sei que você não tá dormindo. Ouvi você se jogando na cama - ele diz me cutucando. Me viro para ele, me descobrindo.
- Eu sei - sussurro para ele. - Acho que tá na hora de conversarmos - enfim tomo coragem para dizer, arrancando uma expressão surpresa do outro.
- Sério? - ele pergunta, atônito, recebendo um aceno positivo de mim.
- Não vai adiantar nada ficar enrolando. Precisamos nos resolver - me levanto, sentando de frente para ele. - Só nós dois. Sem preocupações. Vamos nos abrir.
- Ok - ele suspira. Incentivo-o a começar, vendo seu olhar cair para as cobertas enroladas em nossas pernas. - Eu acho que comigo foi a mesma coisa que você. Minha mãe me disse que você não era uma boa influência pra mim por ter me deixado de lado porque não queria um amigo como eu. Quando tudo aconteceu, eu ainda era criança então não entendi o que ela quis dizer. Com o passar do tempo, presumi que o que ela quis dizer é que você foi “babaca” por simplesmente não querer ser mais meu amigo. Eu fiquei muito magoado, por isso passei a te odiar. Eu nunca consegui entender por que você tinha ido. E o fato de você nunca ter vindo tentar ter uma amizade comigo de novo acabou com as minhas esperanças, além de ter contribuído com a ideia de que você realmente não se importava - olho para ele levemente chocado. Esse tempo todo nós dois só vivemos esse caos porque não conversamos a respeito. Olhando agora, me sinto ridículo. Uma simples conversa teria resolvido tudo...
Cabisbaixo, perco as palavras. Silêncio. Voltamos a nos encarar. Um sentimento diferente toma conta do meu corpo.
- Mark... me perdoa - digo baixinho, mas o suficiente para que ele ouça. - Fui tão ignorante ao ponto de nem ter pensado que era difícil pra você também - desvio o olhar, envergonhado.
- Me perdoa também. Nós dois erramos. Éramos crianças, Hyuck, éramos imaturos. Mas tá tudo bem. Podemos fazer direito agora - ele segura meu queixo, sorrindo sinceramente para mim. Não hesito em sorrir de volta, me sentindo, pela primeira vez em muito tempo, completo.
Não consigo descrever a explosão de sentimentos que tive quando encarei seus olhos. Uma doce lembrança me veio à mente, trazendo consigo uma sensação gostosa de felicidade. Observando aqueles olhos iluminados pela luz lunar que entrava pela grande janela de vidro, me vi perdido em seus detalhes.
Tudo é tão novo, mas ao mesmo tempo tão antigo. Parece que já vivi isso antes. Sinto meu corpo todo tremer quando ele, lentamente, coloca sua mão livre em minha cintura, acabando por aproximar nossos corpos.
Inconscientemente, desço meu olhar para os lábios entreabertos dele. De maneira delicada, seguro seu rosto. Fecho meus olhos, finalmente fazendo algo que queria fazer há mais tempo do que consigo me lembrar.
Sinto seus lábios se tocarem com os meus suavemente, em um primeiro contato. Me afasto dele em seguida, vendo-o abrir os olhos também.
- Quero fazer isso há tanto tempo - ele sussurra me deitando na cama, dando início a um beijo de verdade.
Não penso muito antes de fechar meus olhos novamente e retribuir, intensificando o beijo. Passo minhas mãos pelos fios dele, buscando mais contato ao que ele aperta com mais força minha cintura. Sinto sua língua roçar na minha, causando um atrito leve.
Quando o ar se faz ausente, nos afastamos. De repente, me dou conta da minha situação. Ofegante, quente, com um leve probleminha lá embaixo... Me desespero. Tiro ele de cima de mim, correndo para fora do quarto sem dizer nada.
Ao sair, dou de cara com um Renjun sorridente e perdido no mundo da Lua. Tento normalizar minha respiração para não parecer tão suspeito.
- Ah! Hyuck?! - ele diz, surpreso em me ver ali.
- Injun? Tá fazendo o que acordado? - pergunto, vendo ele me analisar. Droga! Ele é um cupido, sabe das coisas.
- Eu não consegui dormir. E você? - pergunta dando um sorrisinho malicioso, me fazendo ficar mais vermelho do que já estava.
- T-também não consegui dormir. Coincidência, né? - tento disfarçar, sorrindo nervosamente. Do nada, Felix surge ali também.
- Tão fazendo uma reunião e nem me chamam? - ele sussurra, se espantando ao ver o meu estado. - Eita! Tava correndo numa maratona ou o que?
- Isso mesmo! Entrou um esquilo no meu quarto e eu tive que correr atrás dele - dou uma desculpa qualquer, na esperança de enganar alguém.
- Sei. Tenho certeza que você tava é mandando ver com o- Felix tenta dizer, mas eu o impeço tapando sua boca.
- Nada disso! Para de pensar besteira! - tento parecer indignado. Novamente, uma pessoa surge do além. Jeongin aparece mais morto que vivo.
- Hyung... bananas não falam... - o humano mais novo diz com uma cara esquisita.
- Eita! Esqueci que o Innie é sonâmbulo. Vou levar ele de volta. Boa noite - Felix diz levando o zumbi de volta pra toca.
- Vou dormir também, ou pelo menos tentar. Mas você não pense que vai escapar de mim! - meu melhor amigo semicerra os olhos para mim.
- Boa noite, Injun - saio correndo antes que ele possa dizer mais alguma coisa.
Ao entrar de volta no quarto, vejo Mark ainda deitado na cama. Me encosto na porta, tentando processar tudo o que aconteceu.
Isso deveria ter acontecido? Como vai ser agora? Quer saber? Foda-se! Mando todos os questionamentos pra casa do caralho ao trancar a porta e andar até a cama.
Mark me olha confuso enquanto eu subo no colo dele, sorrindo antes de começar um dos muitos beijos dessa noite.
O que aconteceu depois fica na imaginação de vocês.

O diário de um cupido completamente fracassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora