Certo, certo, eu poderia começar isso aqui dando um contexto sobre o que está acontecendo, mas acho que não vai dar, porque o cheiro de comida maravilhosa é a única coisa ocupando minha mente no momento. Bem, e talvez a imagem de Jaemin mexendo nas panelas com tanta tranquilidade também seja. Mas o que eu posso fazer se meu marido é tão delicioso quanto a comida que ele faz?
Acho que no fim acabei dizendo o que estamos fazendo, não é mesmo? Hoje é mais um típico domingo na casa dos Huang, e Jaemin e eu nos encontramos na cozinha preparando o jantar, já que iremos receber as crianças (eles não são mais tão pequenos assim, mas me deixem ser um papai babão, certo?) em casa, como fazemos toda semana desde que quase todos eles se mudaram. Nem preciso dizer que foi um chororô danado quando cada um deles se mudou, mas, graças aos deuses, Seungkwan continua conosco. Não suportaria ver nosso caçulinha partindo de vez para a vida adulta! Mas não contem a ele.
- Você também reparou que o Jeno anda meio estranho esses dias? - pergunto a Jaemin quando ele desliga o fogo e vem em minha direção.
- Sim… será que ele está escondendo algo? Geralmente ele me conta quando apronta e eu ajudo ele a se safar do sarrafo que você dá nele… - ele diz, pensativo, enquanto abraça minha cintura. Passo a mão de leve no cabelo dele, reparando nos fios grisalhos que começam a dar as caras pela idade, e reviro os olhos, já acostumado com a cumplicidade dos dois em fazerem merda.
- Não sei, ele geralmente deixa bem na cara quando esconde algo, então o que quer que ele esteja tentando fazer, está fazendo muito bem. - Ele concorda com a cabeça enquanto passa o nariz de leve pela minha bochecha, me fazendo sorrir com o contato. Mesmo que já faça mais de 35 anos que estamos juntos, Jeno e Jaemin ainda fazem com que eu me sinta um adolescente apaixonado.
- Mingyu deve ter algo a ver com isso, sabe, eles andam muito juntos esses dias. E você sabe como os dois são discretos - o mais alto comenta, me arrancando um risinho. Nossa conversa é cortada quando uma barulheira bem comum se faz lá fora, indicando que a trupe chegou.
- O que?! Nem ferrando, Real Magic é definitivamente o melhor time! Ganha de lavada do Encanta Juniors - Mingyu aparece na porta, gritando com Jeno, que aparece atrás de si muito indignado. Claro que eles estão discutindo sobre times de podball, é só do que eles sabem falar.
- Os dois times têm três mundiais, então dá pra considerar que são bons igualmente, não é mesmo? - Jun tenta mediar a situação, mas parece não surtir muito efeito.
- Você só fala isso porque torce pro Duender Plate, que só tem um mundial e nem pode entrar na discussão! - Nayeon alfineta, rindo da cara do cunhado de insatisfação.
- O Vernon torce pro Dragoneiras, que nem mundial tem, e ninguém ataca ele! Eu sofro demais nessa família - Jun lamenta, enquanto Hansol o encara confuso, sem saber por que foi metido na confusão.
- Ele não é zoado porque só esse fato em si já é vergonhoso! Dragoneiras nem é time, até o Orcthians tem mundial e ele não - comento rindo. Óbvio que não perderia a oportunidade de tirar uma com a cara do vampiro!
- Ei! Você nem pode falar muito, torce pro Lobengo, que tem um mundial só - Jaemin, como o bom dragoneirense que é, completamente indignado com o ataque ao seu time do coração, diz para mim. Ora, abusado!
- Gente, todos precisamos concordar que, não importa o que os invejosos digam, o Encanta Juniors é o melhor de todos! É simplesmente a realidade - Jeno diz, convicto, enquanto me aproximo dele, deixando um breve selar em seus lábios. - Oi, amor - ele volta a dizer, sorrindo e passando a caminhar em direção a Jaemin para repetir o ato.
A partir dali, enquanto arrumávamos a mesa para o jantar, pegando as comidas e os pratos, foi o puro caos, como sempre. Ninguém concordava sobre qual era o melhor time, afinal cada um torce para um diferente. Vocês tinham que ver essa casa em época de mundial, rola até ameaça de cuecão. Porém, Jaemin, Vernon e Johnny, que nem está aqui no momento para defender seu time, são os únicos que perdem o bolão que fazemos todos os anos por acreditarem que finalmente o Dragoneiras conquistará o mundial. Claramente estão muito enganados.
- Vocês vão ver, esse ano a gente ganha o mundial! Eu tô sentindo aqui - Vernon diz, colocando teatralmente as mãos no peito.
- Deve ser gases, isso sim. Se liga, garoto, mais fácil o J.J falar do que o Dragoneiras ganhar - tiro sarro, fazendo Hansol e Jaemin bufarem ao mesmo tempo.
- Semana que vem começa a Copa del Fatum. As apostas estão fortes para o Encanta Juniors. Quem vocês acham que ganha? - Minghao pergunta, usando seu poder de pirocinético para tostar um pouco mais seu bolinho de kraken.
- Definitivamente acho que o Scaris Saint-District leva esse ano. Eu vi postagens deles dizendo que estão treinando muito ultimamente - Moonbyul comenta, com um sorrisinho convencido pendurado em seus lábios. Mingyu parece engolir em seco antes de dizer algo à irmã gêmea.
- Maninha, cuidado com suas palavras. Vamos apostar! - o mais novo propõe, atraindo o olhar da garota. - Se o Real Magic ganhar a copa, você aceita ser a madrinha do meu casamento? - Mingyu solta a bomba de uma vez só, deixando todos na mesa estáticos, incluindo Wonwoo, que provavelmente não estava esperando que o namorado fosse jogar a informação desse jeito. O único que não parece surpreso é Jeno, que troca um olhar cúmplice com Mingyu durante os segundos de puro silêncio enquanto todos tentam processar o que foi dito. Como é que é a história?!
- Oi?! - Moonbyul é a primeira a se pronunciar, com os olhos quase saltando para fora de seu rosto em tamanha surpresa. Te entendo, filha, consigo até sentir um fiozinho de baba escorrendo pelo tempo exagerado com a boca aberta em puro choque.
- Bem… - o gêmeo mais novo começa a dizer, segurando a mão do rapaz ao seu lado. - Wonwoo e eu estamos noivos. Estava pensando no melhor jeito de contar isso a vocês e pedi ajuda para o papai Jeno, mas nós não somos muito bons em criar planos… Bem, mas o que importa é que vamos nos casar! - completa, sorrindo para o Jeon, que dá um sorriso tímido em resposta. Os olhos de Jeno se enchem de lágrimas e, antes que ele se desfaça de chorar, seguro sua mão e vejo Jaemin segurar a outra também, acalmando nosso marido. Certo, é uma informação e tanto, mas deixamos para chorar depois!
- Eu não acredito que você vai casar antes de mim! Pelos deuses, Min, eu tô tão feliz por você! - Moonbyul diz, saltando de sua cadeira para espremer o irmão em um abraço alegre e carinhoso. Os outros irmãos não demoram a se juntar também, logo virando uma bagunça de braços e gritinhos histéricos.
As parabenizações não demoram em tomar conta de todos, e logo em seguida começam as perguntas. Ora, como bons fofoqueiros, óbvio que queremos saber os detalhes de como foi o pedido! Wonwoo parecia prestes a derreter a qualquer instante, mas ele já está acostumado com a loucura dessa família o suficiente para saber que faríamos isso. No fim, conseguimos descobrir que Mingyu pediu o Jeon em casamento no local do primeiro encontro deles, bem clichê (para combinar com os pais dele) e simples. Porém, ele sabe que foi especial para os dois, e é isso que importa. Depois eles disseram que o casamento será em quatro meses, que pode parecer pouco tempo, mas com a família enorme e intrusiva deles, obviamente que faremos isso dar certo.
Pelos deuses, acho que nunca vai cair a ficha de que meu bebê vai se casar!
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No fim, a ficha realmente não caiu. É hoje que Mingyu se casa, e os nervos de todo mundo estão à flor da pele. Os últimos meses foram uma loucura com os preparativos para o casamento porque, bem, os ensaios não foram exatamente fáceis… ora, era de se esperar com uma família enorme dessas! Os tios de Mingyu fizeram a maior algazarra quando souberam que ele ia casar, então vocês já sabem o caos que foi o processo, não sabem?
- Onde é que tá a minha camisa? - Seungkwan grita do andar de cima, ainda vestido apenas com uma toalha. Pelos deuses! De quem foi mesmo a ideia de trazer todo mundo para se arrumar na nossa casa? Ah, sim, claro, do Jeno e do Jaemin!
- Tá aqui embaixo, no corrimão! - Feliz grita de volta, avistando a peça de roupa enquanto ajeita o cabelo de Moonbyul. Os únicos que não estão na sala são os noivos, que estão lá em cima, em quartos separados, se arrumando com os respectivos pais. E eu estou aqui embaixo para garantir que nada pegue fogo, afinal, Lucas nunca é confiável.
- Eu perdi uma criança! Alguém viu um pirralho correndo por aí? - Jaehyun aparece desesperado, olhando para todos os lados em busca do fugitivo. Bem, os filhos dos meus primos, que agora já são adultos, serão responsáveis pelas pétalas e as alianças, e o meu cunhado é o responsável por tomar conta deles junto com Mark e Hyuck, mas acho que não deu muito certo.
- Tem um na minha perna! - Lele grita do outro lado da sala, levantando a perna o suficiente para que uma criança seja vista ali. Apesar disso, ele se mantém concentrado em maquiar o próprio marido, que parece estar quase dormindo, apesar da bagunça ao seu redor.
- Seu safado, vamos voltar para o cercadinho agora! - Jaehyun diz ao pegar a criança no colo, quase tropeçando em Yuta, que dorme no chão. Sim, foi necessário um cercado para manter as crianças, afinal, elas são tão pentelhas quanto os pais eram.
- Eu vou precisar tomar banho de novo - Lucas coça a nuca ao dizer, aparecendo com o cabelo todo pra cima e a cara suja de fuligem. Espera aí… o cabelo dele tá pegando fogo?! Certo, dessa vez ele se superou, conseguiu colocar fogo em si mesmo!
- O que foi que você fez, Lucas?! - pergunto, incrédulo, enquanto ele abre um sorriso amarelo.
- Eu queria fazer um penteado maneiro para o casamento do meu sobrinho, mas não deu muito certo… - ele diz o óbvio, dando de ombros como se não tivesse culpa do que aconteceu. Respiro bem fundo para não surtar. Vai dar tudo certo!
- Deixa que eu resolvo, vem aqui, Lucas - Winwin chama, não demorando em usar seu poder de hidrocinético para molhar o rosto e o cabelo do irmão, começando a ajeitá-lo logo em seguida.
Observo a sala da minha casa e questiono como foi que viemos parar ali, mas não consigo conter um risinho com a constatação de que, onde quer que a gente vá, a nossa bagunça vai junto. Ver todos os meus amigos, junto com suas famílias, ali reunidos, como sempre fazemos, me dá aquela sensação acolhedora de que estaremos juntos em nossos melhores momentos. Certo, esse dia promete ser muito especial!
Alguns instantes se passam até que Wonwoo desce já arrumado e escuto Jeno gritar que Mingyu só sairá quando o noivo estiver no carro, afinal, não podemos estragar a brincadeira de só se verem na hora de casar, não é mesmo? Sorrio para meu genro ao passo em que seus pais o acompanham para fora, levando uma parte da trupe que já está pronta para fora também. Serão muitos carros para levar todos até o local, e diga-se de passagem que será uma longa viagem.
Os que sobraram terminam de arrumar as coisas, afinal, tem roupa e equipamento pra tudo que é lado. Alguns minutos depois, Jeno, Jaemin e Mingyu aparecem no topo da escada, já prontos. Com essa imagem, não consigo controlar as lágrimas que se formam em meu rosto. Ver meus maridos, os amores da minha vida, junto do meu filho, prontos para o casamento do meu bebê, é algo que meu coração já prejudicado pela idade não estava pronto para ver. Pelos deuses, acho que vou infartar!
Ao descerem a escada, Jeno vem me abraçar enquanto Jaemin termina de arrumar a gravata do nosso filho com um sorrisão no rosto. Quando ela parece estar perfeita, Nana segura o rosto de Mingyu com as duas mãos e lhe dá um beijo na testa antes de se virar para vir até nós quando Hyuck aparece histericamente para paparicar o sobrinho.
- Eles crescem muito rápido, não é? - Nana pergunta, olhando para Mingyu rodeado pelos nossos amigos mais próximos e os irmãos.
- Parece que foi ontem que a gente correu pelo quintal com eles desse tamaninho aqui. - Jeno ri de leve ao dizer, usando a mão para apontar uma altura próxima à sua coxa.
- Eu nunca vou esquecer do dia que vocês me fizeram sair de um plantão porque não conseguiam encontrar o Minghao na brincadeira de esconde-esconde - comento, sorrindo com a memória de encontrar o garotinho escondido dentro de um armário naquele mesmo dia.
- Ele sempre foi muito bom nesse jogo, não era nossa culpa! - Jaemin se defende, me arrancando um risinho. Na verdade, ele e Jeno é que eram muito ruins em encontrar as crianças.
- É melhor irmos logo ou chegaremos atrasados - Seungmin alerta, atraindo a atenção de todos para si.
Mingyu solta um último gritinho antes de ser quase escoltado para fora. Lá, organizamos os carros da maneira mais prática possível, afinal, provavelmente chegaremos em cima da hora. Claro que, como pais do noivo, Jeno, Jaemin e eu vamos junto com ele. Só que eu devia ter pensado melhor na hora de dizer para todo mundo só entrar em qualquer carro de uma vez, porque agora terei que aguentar Hyuck, Felix e Jeno cantando pelas próximas duas horas. Maravilha!
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Quando chegamos lá, Jaemin estava todo amassado por dormir o trajeto todo e eu estava com dor de cabeça pela gritaria. Só acho que não tive uma sorte pior que a do Doyoung, que foi com Jaehyun e as crianças. Dava pra ver o ódio estampado na cara dele. Como o previsto, fomos os últimos a chegar, o que fez com que tudo tivesse que ser muito rápido.
Cada um foi para o seu devido lugar na plateia e eu e meus maridos acompanhamos nosso filho até a salinha anterior ao salão da cerimônia. O casamento está acontecendo no sítio do Jisung e do Chenle, então ele acontecerá em uma cabana enorme e a festa vai ser próxima ao lago, mais pra baixo do sítio. A ideia inicial era casar na fazenda da minha família, mas o local era longe demais para que todos os convidados fossem e voltassem no mesmo dia, e, convenhamos, não caberia todo mundo para dormir lá. Foi mais prático fazer aqui (e mais barato).
Mingyu vai ser o primeiro noivo a entrar na cerimônia, então já estamos posicionados na ordem de entrada. Wonwoo está no cômodo atrás de nós, afinal, ele vai entrar depois. Eu vou entrar primeiro porque vou esperar pelo meu filho ao pé do altar, enquanto Jaemin e Jeno levarão ele segurando um em cada braço seu. Por razões de Mingyu não ter três braços, fiquei responsável por levá-lo de fato até o centro do altar.
Quando a música escolhida começa a tocar e as portas se abrem, começo a caminhar, ouvindo os passos dos três atrás de mim depois de alguns instantes. Paro no local indicado e me viro a tempo de ver Mingyu com um sorriso radiante e os pais dele caminhando ao seu lado com olhares orgulhosos, fazendo com que meu coração se aqueça mais uma vez. Passando os olhos pelo ambiente, vejo todos os meus amigos e minha família, todos aqueles que mais amo, reunidos para prestigiar o casamento do nosso filho. A família de Wonwoo também está presente, mas parece minúscula diante da família Huang e suas extensões. De volta ao caminho central, Jeno me entrega a mão direita de Mingyu enquanto Jaemin deixa um breve carinho em seu ombro esquerdo. Os dois se afastam quando eu conduzo o gêmeo mais novo até o centro do altar.
- Eu te amo, filho. Estamos muito felizes por você. - Me ponho na ponta dos pés para deixar um beijo em sua testa, enquanto ele murmura de volta um “também te amo” e ajeita a postura. Ao me afastar, observo Moonbyul, a madrinha escolhida por Mingyu, se posicionar ao seu lado e sorrir para o irmão. Do outro lado, Minghao, o padrinho escolhido por Wonwoo, aguarda pelo melhor amigo.
O outro noivo não demora a adentrar o ambiente também, arrancando um olhar completamente apaixonado e transbordando ternura de Mingyu, que abre um sorriso enorme ao ver seu futuro marido. Os dois trocam olhares tímidos, quase como se não acreditassem que aquele momento finalmente tinha chegado. Mas chegou. E isso é surreal.
Quando Wonwoo é deixado pelos próprios pais no altar, Johnny, eleito o mestre de cerimônia de todos os casamentos, dá início à cerimônia. O período restante foi repleto de discursos e muita choradeira, até que o momento da troca de votos e alianças finalmente chegou. Nesse instante, Jeno já estava soluçando de tanto chorar e Jaemin não sabia se chorava ou se ria do estado dele, enquanto eu tentava acalmá-lo (falhando miseravelmente, porque também estava chorando). Quando o momento acabou e os recém-casados saíram da cabana, toda a folia começou.
Gritaria pra cá, choro pra lá, logo todos estávamos no deck montado perto do lago para a festa. Bem, não é uma festa nossa se não tiver música antiga e bebida, não é mesmo? A diferença é que agora temos que beber menos, afinal, envelhecer é o mal do mundo. Pelo menos Mingyu e Wonwoo não estavam bêbados quando cortaram o bolo, e agora estamos desfrutando dessa delícia enquanto fofocamos, como nos velhos tempos. Os jovens dançam e nós cuidamos da vida alheia, é assim que funciona.
- Sabe, fiquei sabendo que vem netinho por aí - Felix comenta, olhando para Donghyuck e fazendo Mark quase se engasgar com o bolo.
- Como é que é? Nem vem, Yeri é puríssima - Hyuck argumenta, convicto.
- Puríssima aonde, Donghyuck? Ela é sua filha, impossível ser pura - Chenle alfineta e Mark não consegue segurar a risada, fazendo o marido lhe dar um tapinha.
- Você devia começar a fazer show de comédia, palhaço - Haechan resmunga, voltando a comer seu precioso bolo.
- Ei, alguém viu o meu… AAAAAH! - Seungkwan aparece correndo, mas acaba escorregando no bolo que alguém tinha deixado no chão, próximo às bolsas, para levar pra casa mais tarde. Ei, esperto é quem guarda antes de acabar!
A queda era iminente, mas, com uma velocidade que só os deuses sabem de onde veio, Vernon aparece a tempo de segurar o namorado. O detalhe é que ele estava lá do outro lado da festa e veio parar quase instantaneamente aqui. Assim, eu sei que os vampiros têm uma velocidade bem acima do normal, mas teletransporte é novo, viu? Quando o vampiro usa suas mãos para segurar Seungkwan pela cintura, pequenos choques podem ser vistos saindo da barriga dele com o toque de Hansol. Certo. Isso aí é bem estranho.
- Você tá bem? Se machucou? - Vernon pergunta para o namorado ao colocá-lo sentado em uma cadeira. Seungkwan, confuso com toda aquela preocupação diante de um simples escorregão, apenas assente.
- Ei, Kwan, você tá com diarreia explosiva, por acaso? - Jisung pergunta, aumentando ainda mais a confusão do garoto.
- Não que eu saiba… Por quê? - ele pergunta, observando os olhares curiosos direcionados a si.
- Então o que são essas faíscas que saíram da sua barriga? - devolvo a pergunta com uma sobrancelha arqueada, já temendo o pior ao encarar Doyoung. Meu cunhado olha de volta como se já soubesse o que estava acontecendo.
- Hansol, põe a mão na barriga dele de novo - Jeongin pede, encarando com dúvida a região citada. O vampiro, sem entender onde aquilo ia chegar, obedece.
- Pelos deuses! Que merda é essa?! - Jaemin grita, começando a se desesperar quando as malditas faíscas aparecem de novo. - Alguém encosta, sem ser o Vernon, pra gente ver!
Então, a barriga de Seungkwan virou ponto turístico, com todo mundo botando a mão para ver se acontecia alguma coisa. Depois de alguns minutos de apalpação, todos voltaram aos seus devidos lugares e uma discussão começou. As teorias mais fortes são: uma lombriga, Hansol está infectado com radiação interestelar, é uma mensagem divina dizendo que o vampiro safado é um perigo (acho que vocês conseguem adivinhar de quem é essa, não?), o fim do mundo está próximo, e entre outros absurdos. Obviamente, nenhuma delas está certa. O buraco é bem mais embaixo.
- Ei, gente, calma aí! Me deixem fazer algo - grito, em meio à confusão do debate árduo que estamos tendo. Todos parecem calar a boca quando me aproximo de meu filho, colocando as mãos em sua barriga para ler quaisquer sentimentos que existam ali. Bem, se o que estou pensando estiver certo, conseguirei ler alguma coisa.
Dito e feito: um pequenino sentimento inocente pode ser sentido, tão minúsculo que tenho que forçar minhas mãos contra a pele de Seungkwan para sentir melhor. Ele é diferente dos sentimentos de amor comum… sim! Não é como se algo… ou melhor, alguém, estivesse emanando e sentindo amor, talvez tão jovem que sequer possa sentir isso, mas sim se originando dele. Como o fruto de um amor além da compreensão física. Abro meus olhos com a constatação, vendo todos encarando a cena em expectativa.
- Seungkwan, querido, acho que tem um bebê aí dentro - digo, chocado, ao me afastar apenas para encarar os olhos espantados dele, ouvindo as exclamações surpresas ao redor de nós.
- Um bebê?! - E lá se foi o barulho de Jeno caindo no chão.
- Vamos manter a calma, gente - Doyoung toma a frente ao dizer, se sentando ao lado de Seungkwan para tentar explicar a situação. - Essas faíscas que estão saindo são típicas de uma gravidez vampírica, o bebê vampiro interage com seu pai através delas como uma maneira de se comunicar inconscientemente. Não deve significar grande coisa por agora, pelo bebê ser muito pequeno, mas vai ficar melhor conforme ele for crescendo. Outra característica marcante quando um vampiro engravida seu parceiro é o laço que se forma entre eles a partir do bebê, que se torna quase um instinto. Vernon só conseguiu segurá-lo por causa disso. Mas, agora que sabemos disso, parabéns aos papais! - ele completa, deixando todos em um estado de choque, ainda. Espera aí! Então quer dizer que Seungkwan, meu caçulinha, além de namorar um vampiro safado, ainda está esperando um bebê dele?! E o bebê, o nosso primeiro neto, é um VAMPIRO?! Ora, mas é agora que esse desgraçadinho morre!
- Hansol, você sabe que agora não tem escapatória, não sabe? - ameaço, já arregaçando as mangas da blusa para pegá-lo. Posso não estar mais na minha melhor forma, mas o ódio sempre foi o melhor combustível!
- Ei, Injun, calma aí, você não quer que o nosso neto fique órfão antes mesmo de nascer, não é? - Jaemin me segura, me impossibilitando de voar no pescoço do vampiro medroso, que parece mais pálido do que o normal. Ele não tava verificando como o Jeno tá, não? Por que teve que aparecer bem na minha hora de brilhar?!
- Sorte sua, Hansolino, que prezo pela minha família! - resmungo, cruzando os braços ao concordar com a ideia de que seria um pouco cruel deixar a criança sem pai.
- Então… temos um vampirinho na família?! - Mingyu pergunta, sem saber se fica surpreso, feliz ou assustado. Nesse momento, reparo que todo mundo está observando a confusão que se instaurou aqui, inclusive os noivos, que parecem terem esquecido que ainda estamos na festa de casamento.
- Gente, calma aí, tô sentindo um negócio estranho aqui… - Mark diz, encarando Seungkwan com uma careta esquisita e atraindo os olhares para si. - Puta merda, pelos deuses! Tem um segundo coração batendo dentro dele, bem fraquinho, mas tem!
- Como assim, Mark? Isso não faz o menor sentido - Jaehyun diz, externando a dúvida de todos nesse momento.
- Eu tô falando sério! Tem um coração batendo na barriga dele! - Mark insiste, com os olhos arregalados. Ninguém sabe ao certo o que pensar, até que Hendery parece ter uma ideia.
- Posso usar meu poder de fonocinético para aumentar o som dos batimentos cardíacos, assim todos podem ouvir - ele diz, parecendo se concentrar para ouvir o som dito por Mark. - Certo, acho que consegui identificar o som, agora vou aumentá-lo… - E assim ele faz. - Esse mais alto é o coração do Seungkwan, inclusive, tá bem rapidinho, hein? Cuidado que pode ser hipertensão. O mais baixinho é o segundo batimento que o Mark disse.
- Espera… isso significa que… Pelos deuses! Gente, vampiros não têm batimentos cardíacos! Eles não têm sangue no corpo! - Hyuck grita, abismado com a constatação.
E foi aí que o caos se instaurou. Gritaria, coisa voando, feições evidentemente confusas, um Doyoung sendo chacoalhado e bombardeado de perguntas, fogo, Seungkwan tendo uma crise existencial, Hansol tentando ver se o namorado ainda estava vivo, Jeo chorando e Jaemin tentando acalmá-lo, eu me aproveitando da distração dele para calcular o melhor ângulo para acertar Vernon com uma cadeira, Johnny ameaçando correr pelado caso Jaehyun não aceitasse o fato de que ele seria o tio preferido, Mingyu rindo da cara dos dois e magoando seus sentimentos ao dizer que ele que seria, Hyuck gritando palavras desconexas apenas porque a situação permitia, Felix dando estrelinhas completamente insano, Allen se questionando o que havia feito de errado para estar ali, Yuta casualmente cuidando da churrasqueira e uma situação absolutamente fora do controle. Porque, sim, qualquer coisa é motivo de surto por aqui.
- Pelos deuses! EI, VAMOS PARAR COM ESSA PORRA?! E, Doyoung, tira a cara do Donghyuck do bolo agora! - Taeil, que até então estava quieto, grita, fazendo com que todo mundo congele em suas posições. Algumas não muito favoráveis, como a de Lucas, que está pendurado em um poste de luz de cabeça pra baixo. Ora, é pra entender melhor como as coisas vão funcionar para o seu sobrinho-neto!
Alguns instantes são necessários até que todo mundo se acalme para que Doyoung, que tinha aproveitado a baderna para se desvencilhar das perguntas e tentar se livrar de Haechan mais uma vez, possa tentar dar uma explicação para o fato que gerou a confusão.
- Certo, estão todos mais calmos? - meu cunhado começa, voltando a se sentar como se nada tivesse acontecido. Todos prestam atenção nele. - Isso, definitivamente, foi uma surpresa. No entanto, o fato de o bebê interagir com Vernon como se fosse um vampiro e ter batimentos cardíacos só pode significar que… bem, ele é um híbrido.
- O que?! E isso existe? - Jaemin pergunta, tão chocado quanto todos ao seu redor. Pelos deuses, hoje é um dia com grandes emoções!
- Aparentemente, sim. São casos raríssimos, mas possíveis de acontecer. Eu mesmo só tinha ouvido falar em aulas de mitologia na faculdade, porque os únicos casos foram registrados muitos anos atrás. Acredito que o Renjun possa falar melhor sobre isso - ele diz, olhando para mim um pouco perdido.
- Bem… esses casos só acontecem quando almas gêmeas de classificações diferentes têm um bebê, o que já é uma coisa bem incomum, e se torna mais ainda por ser uma porcentagem bem baixa desses indivíduos que mistura os genes dos pais ao invés de desenvolver o dominante. É muito curioso, porque os cupidos mais velhos costumam dizer que isso só acontece quando existe um amor em sua forma mais bela e pura entre as almas gêmeas. Quase como se o bebê fosse a materialização da união delas - digo, encantado com a ideia. Nunca achei que fosse presenciar algo que estudamos tão vagamente no treinamento de cupidos por se tratar de uma chance tão, tão remota. É incrível!
- E existe algo com que devemos nos preocupar? - Hansol pergunta, segurando a mão de Seungkwan, que parece ter acordado de seu transe, com carinho.
- Do ponto de vista científico, além das preocupações comuns de uma gravidez, acredito que não. Quer dizer, não posso te dar uma resposta concreta agora por não saber direito o que pode acontecer, mas para isso faremos um acompanhamento intensivo, já que é um caso instável. Mas eu não acho que vá ter grandes complicações, afinal, como o Renjun disse, o bebê de vocês é fruto de um sentimento admirável. Não haveria como fazer algum mal - Doyoung diz, acalmando os ânimos de todos com relação à ideia de aquela criança ser um perigo.
Porém, apesar de ter acalmado a todos sobre um possível risco para Seungkwan, ainda estamos em uma festa e, com uma notícia boa dessas, mesmo que assustadora à princípio, não há motivo para não celebrarmos! Os irmãos de Kwan parecem ser os mais animados, gritando a plenos pulmões que finalmente serão tios. E devo dizer que estou devendo uma noite “de apreciação a uma verdadeira obra de arte” assistindo “A Proposta” com Jeno, porque fizemos uma aposta alguns anos atrás sobre quem seria o primeiro a nos dar um neto e ele apostou que seria Seungkwan, por causa do namorado safado dele, enquanto eu me recusei a acreditar que seria o caçula, apostando em Nayeon. Jaemin ficou indignado diante da minha proposta, mas quis ser diferente e apostou que Mingyu seria o premiado, logo, ele também está devendo essa noite para Jeno. Eu só espero que ele não lembre disso, porque, convenhamos, “Meninas Malvadas” é bem melhor, certo?
Brincadeiras à parte, a festança só está começando por aqui, e a loucura nem saiu do estágio um ainda! Pois acreditem, daqui a pouco eles inventam de nadar pelados no lago. Devo dizer que Johnny é sempre quem dá essas ideias? Não sei qual é a obsessão dele em ficar pelado. Ah! E, para fazer jus à sua chatice, Hyuck logo aparece com o suquinho para Seungkwan. Ele não perde essa mania de fazer bullying com os grávidos!
Mesmo que seja do nosso jeito bagunçado, todos estão felizes com a chegada de mais um bebê na família, que já está pra lá de grande. Pode ter certeza que, pelo longo período sem novas crianças, essa aqui vai ser muito mimada! Teoria essa que é comprovada quando Jun, que parece ser um dos mais empolgados com a ideia de ser tio, improvisa uma coroa com os arranjos florais decorativos da mesa (sem que Wonwoo veja, para não levar uma bronca) e coloca na cabeça de Seungkwan, já meio bêbado, levantando, logo em seguida e com a ajuda de Mingyu, um Hansol confuso, parabenizando-o por aquele feito. Eles serão ótimos tios!
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Querido diário, é um dia difícil na casa dos Huang. Quatro meses se passaram (voando, diga-se de passagem) desde que descobrimos a gravidez de Seungkwan. Doyoung está acompanhando tudo de pertinho, e, conforme o esperado, não houve nenhuma complicação. O bebê é bem calminho e todos estão ansiosos com sua chegada. Ah, aliás, perdão, trata-se de uma garotinha!
As últimas semanas vêm sendo estressantes para Seungkwan e Hansol, afinal, serem pais de primeira viagem não é uma tarefa fácil, ainda mais quando acontece de surpresa e tão cedo. Os dois ainda estão na faculdade, o que dificulta um pouco a preparação para o evento, mas todos da família estão ajudando como podem. Especialmente eu e meus maridos, afinal, trata-se do nosso neto. E, bem, experiência temos de sobra, depois de cinco pirralhos.
É de madrugada, e um sentimento nostálgico me invade quando, inesperadamente, sinto um peso em meus pés. Não pode ser o gato que adotamos nesse meio tempo, porque ele dorme serenamente na cabeça de Jaemin. Ao abrir os olhos, me deparo com Seungkwan, vestindo seu pijama de patinhos e chorando baixinho, com aquele olhar perdido que ele me dava toda vez que tinha um pesadelo e vinha correndo para o nosso quarto quando era criança. Me levanto rapidamente, sentindo minhas costas reclamarem, e acendo o abajur, acordando Jaemin e Jeno no processo.
- Ei, filho, o que houve? Vem aqui - digo, calmamente, enquanto estendo os braços para aconchegá-lo. Ele não demora em engatinhar em minha direção e se espremer ali, virando o rosto vermelho para as feições agora preocupadas dos recém-acordados.
- Eu tô com tanto medo, papai, isso é tão novo, sabe? Eu não tenho a menor ideia do que vou fazer com a minha vida, nem formado estou e já vou ser pai! Não quero ser um pai ruim - ele diz, entre soluços, fazendo meu coração se apertar um pouquinho. - Isso é tão assustador… Não queria que tivesse acontecido tão de repente. Eu sinto que não estou pronto para essa nova etapa da minha vida. De encarar essa jornada e… crescer.
- Filho, você sabe que não vai ser um pai ruim. Você e o Hansol estão fazendo tudo o que podem para se prepararem, e isso é ótimo! Óbvio que é assustador, vocês são novos e isso foi repentino, mas, se quiser saber, dá medo até quando já se passou por isso antes. E você só se sente aliviado quando finalmente pega o pacotinho nos braços, e, pelos deuses, sente que toda a loucura valeu a pena. Sabe, todas as quatro vezes que fomos para a emergência à espera de um de vocês, o meu estômago embrulhou e fiquei apreensivo o tempo todo, agoniado com o pânico de ver o Renjun gritar. Todas as vezes! Mas nem eu e nem o Jeno saímos do lado dele, sabe, porque estávamos juntos nessa. E você não está sozinho nessa jornada. Você tem o Hansol, tem a gente e todos aqueles malucos que te amam e moveriam montanhas para te ajudar. Eu sei que é desesperador, mas, filho, nós estamos aqui para te apoiar - Jaemin diz, daquele jeito que só ele consegue fazer, num tom de voz tão calmo que consigo sentir o coração de Seungkwan bater mais devagar enquanto Jeno faz carinho em seu cabelo e eu o aconchego em meus braços.
- E você sabe que pode contar com a gente pra qualquer coisa. Não precisa ser uma mudança abrupta. Ninguém aprende as coisas do nada, então você não deve ter receio de nos chamar caso não saiba o que fazer. Ou simplesmente quando estiver com medo. É pra isso que os pais servem - Jeno continua, sorrindo ternamente para o filho, que finalmente parece se acalmar.
- Nós te amamos, filho, e não deixaremos você começar essa nova fase da sua vida sem o devido suporte - completo, deixando um beijo no topo de sua cabeça. Ele sorri com o contato, observando os três olhares protetores direcionados a si.
- Eu também amo vocês, papais. Obrigado por tudo - ele diz, se ajeitando melhor em meu colo apenas para dar uma risadinha logo em seguida. - Me sinto uma criancinha agora. Queria que Mingyu estivesse aqui para limpar minhas lágrimas e dizer que derrotou o monstro debaixo da cama. Minghao diria que pareço uma bolacha chorando, mas faria carinho no meu cabelo. Nayeon traria comida pra me acalmar, e Moonbyul contaria uma história para me distrair. No fim, acabaríamos os oito fazendo graça na cama até que pegássemos no sono - ele comenta, sorrindo abobado com a memória distante da infância de anos atrás. Encaro meus maridos com um mesmo olhar tristonho, com aquela saudade de ter as crianças por perto batendo forte no coração.
- Kwan?! Ei, o que aconteceu? - Hansol aparece preocupado na porta, provavelmente acordado no susto de não achar Seungkwan. Ele não demora em se aproximar do namorado, segurando seu rosto delicadamente.
- Você sabe, Ver, as preocupações que vêm nos assombrando ultimamente - ele responde, observando a expressão cuidadosa do outro antes de fechar os olhos para sentir o carinho deste.
Observo a cena de coração limpo. Sabe, sei que fico pegando no pé de Vernon, mas acredito que ele é um bom garoto e que é a pessoa certa para Seungkwan. E me tranquiliza muito saber que meu filho tem alguém em que pode confiar ao seu lado, esse garoto, bem, foi uma das melhores coisas que já aconteceram com Kwan. Eles vão ficar bem.
Só não sei se posso dizer o mesmo de mim. Seungkwan está se mudando com Vernon para um pequeno apartamento, para que possam se organizar melhor com a chegada de sua filha. E, bem, vendo meu último filho partir para embarcar de vez na vida adulta não tem sido uma coisa fácil, ainda mais agora, que é o dia final da mudança.
Essa casa nunca esteve tão vazia. E, para falar a verdade, eu sinto falta da bagunça deles.
- Qualquer coisa liga, tá bom? Sério mesmo. A gente pega o carro e chega rapidinho! - Jaemin reforça, segurando os ombros de Seungkwan.
- Tudo bem, pai, eu prometo ligar se precisar de alguma coisa. Ainda vamos passar no mercado antes de ir para a casa nova, então mais tarde eu ligo - ele assegura, entregando algumas caixas para Minghao, afinal, os irmãos vieram ajudar na mudança.
- Tá tudo pronto, já podemos ir - Moonbyul anuncia, aparecendo ofegante na porta. Minghao sai para guardar as últimas caixas em seu carro e Seungkwan se vira para nós com um sorriso medroso, mas feliz.
- Obrigado por me ajudarem. Amo vocês. Tchau! - ele diz, se despedindo de nós com um abraço apertado em cada um antes de sair com Hansol e seus irmãos para fora.
Na porta da casa que um dia fora tão barulhenta, observo meus filhos entrarem nos carros e partirem, como passarinhos aprendendo a voar e sair do ninho pela primeira vez. Eles acenam mais uma vez antes de se afastarem definitivamente, deixando para trás rabiscos coloridos pelas paredes da casa em que cresceram e um sentimento um pouco preto e branco de vazio.
Ao me pegar ali, tantas décadas depois, sozinho novamente com Jeno e Jaemin, diversos sentimentos rondam minha mente. A saudade, a felicidade, a tristeza, o medo, a ternura, o carinho, a incerteza. Mas, principalmente, a incomparável satisfação de pensar que, bem, meus filhos estão crescidos. E o orgulho. O orgulho de tudo o que construímos, a nossa família, a nossa história. O nosso final talvez amargo, mas feliz.
- Ei, o que acham de cozinharmos o jantar juntos hoje? Podemos fazer ensopado - Jaemin sugere, finalmente nos tirando do transe de ficar encarando a rua.
- Eu corto os legumes! - Jeno grita, já correndo para dentro feito uma criança. Incrível como, mesmo depois de tantos anos, ele não parece ter crescido nada.
- Eu tempero os camarões, Renjun cuida do arroz - Jaemin dita, fechando a porta enquanto me prontifico em pegar as panelas e Jeno separa os ingredientes.
- Foi a primeira coisa que cozinhamos juntos, sabiam? - Jeno começa a dizer, descontraidamente. Jaemin pigarreia, como se estivesse tentando lembrar. - Tínhamos acabado de nos conhecer, Injun, e fomos para a minha casa pesquisar sobre as corridas de dragões. Jaemin estava lá e, quando terminamos, fomos fazer o jantar. Era esse mesmo ensopado.
- Como você ainda lembra disso? - pergunto, um pouco chocado com a lembrança. Ora, nem venham me julgar, isso aí já faz muito tempo!
- Ao contrário de vocês, eu sou um romântico! - Jeno alfineta, nos arrancando risinhos.
- Nem vem, você vive esquecendo do nosso aniversário de casamento! - Jaemin retruca, separando os temperos que irá usar enquanto Jeno para dramaticamente de cortar os legumes. Me ponho a rir enquanto encho a panela com água.
- É sempre um acidente! - Nono se defende, fazendo Jaemin arquear uma sobrancelha.
- Incrível como sua memória é seletiva - comento, fazendo Jeno fingir indignação.
- É sempre isso! Vocês dois formam um complô contra mim e quem sofre as consequências sou eu! - acusa, limpando lágrimas falsas com a própria mão. Jaemin atira um pano na cara dele.
- Para de graça, Jeno, você que dá razão pra gente te zoar - ele diz, arrancando um olhar nada satisfeito do marido.
- Não aguento mais ser oprimido nesse casamento! - reclama, finalmente voltando à sua tarefa.
- Não foi o que você disse quando estava se desfazendo em lágrimas na nossa lua de mel - digo, rindo com a feição galanteadora que toma conta de seu rosto de repente.
- Ah, mas é claro, me casei com dois gatões, como poderia conter as emoções? - ele diz, ignorando completamente o drama de alguns segundos atrás.
- Não estava reclamando agorinha mesmo do casamento? - Jaemin pergunta, com um ar provocativo.
- Não está mais aqui quem falou isso! Sou extremamente feliz no meu casamento - Jeno responde, na maior cara de pau, fazendo com que eu encare Jaemin com aquele mesmo olhar questionador, como quem diz “o que foi que vimos nesse idiota?”.
Bem, o que foi que vimos talvez seja difícil de responder, mas o que sentimos é mais fácil. Observo Jaemin semicerrar os olhos diante de mais alguma gracinha de Jeno e me perco em pensamentos diante daquela cena tão cotidiana, mas tão significativa. Porque, bem, não importa o quão vazia essa casa esteja, ela sempre estará repleta do amor exuberante que sentimos uns pelos outros.
E nunca haverá sentimento mais completo do que o de estar junto dos meus maridos, os amores da minha vida, aproveitando cada segundo e cada experiência do para sempre que continuaremos a viver.
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O diário de um cupido completamente fracassado
FanficEm um lugar mágico distante daqui, Huang Renjun, um jovem cupido, vivia sua vida, que aparentava ser normal. E tudo ia bem, era o que ele achava. Só que, de uma hora para a outra, a vida do garoto virou de cabeça para baixo, graças a um não tão pequ...