Como preparar um bolo (quase) perfeito

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Depois daquela cena no corredor, voltei para o quarto. Estranhamente, me senti feliz ao ver aqueles dois ali. Desde que eles entraram na minha vida, me sinto mais... completo. Como se antes faltasse algo.
Posso estar trilhando um caminho perigoso, mas me sinto tão bem com isso... É inexplicável. Não me vejo mais sem eles, mesmo que faça tão pouco tempo.
Me sento na cama, tirando as pantufas. Fico por um tempo encarando o nada, tentando acalmar as batidas do meu coração antes de me deitar para, finalmente, dormir.
\ ♡ /
Algumas horas mais tarde, acordo com Jaemin falando sozinho.
- Onde diabos eu enfiei?! - ele pergunta indignado. Levanto minha cabeça a tempo de vê-lo encarar a parede, como se ali estivesse a resposta para sua dúvida.
Ao virar para o lado, vejo Jeno esparramado por mais da metade da cama, dormindo serenamente. Me levanto devagar, para não o acordar.
- Bom dia - sussurro ao pé do ouvido de Jaemin, abraçando-o por trás. Vejo ele se assustar levemente com o ato repentino ao que apoio meu rosto em suas costas.
- Bom dia. Dormiu bem? - ele pergunta se virando.
- Não dormi muito - apoio meu queixo em seu peito, enlaçando sua cintura com meus braços.
- Você sabe que isso faz mal, não é? - ele me repreende, acariciando meus cabelos. Assinto de leve, não querendo contar o motivo pelo qual não dormi direito.
- Gente, venham tomar café! - Felix grita do corredor, nos assustando.
Observo Jaemin se afastar e ir acordar Jeno, que parece ter virado pedra na cama. O mais novo chacoalha o Lee, recebendo apenas um resmungo em resposta.
- Jeno! Levanta! - ele diz, fazendo o mais velho abrir os olhos sonolento.
- Bom dia. Levanta, vamos tomar café - digo ao que Jaemin sorri satisfeito. Jeno me olha perdido, esperando seu cérebro carregar.
- Onde estamos? - ele pergunta encarando as paredes do enorme quarto.
- Jeno, você bebeu? Estamos no castelo do Lado Sul - Jaemin responde, puxando o outro para fora da cama. Me prontifico em ajudar, empurrando o Lee.
O garoto, ainda meio desnorteado, se levanta. Logo nós três saímos do quarto, de pijama mesmo, e vamos até o local indicado pelos garotos. Observo o que parece ser uma enorme sala de jantar, vendo meus amigos sentados na mesa.
- Por que demoraram? - Jeongin pergunta confuso ao reparar que chegamos um pouco depois de todo mundo. Bem, quase todo mundo.
- Jeno não queria levantar - digo rindo da expressão indignada do Lee.
Antes que mais comentários possam ser feitos, as duas pessoas que faltam na mesa chegam. Uma sorrindo convencida e a outra com uma feição irritada.
- Vejo que a noite foi boa - Felix comenta ao ver Hyuck se sentar ao meu lado, com alguns chupões no pescoço. Mas gente...
- Fica na sua, Lee! - ele rebate, fechando a cara.
- Dava pra ouvir do nosso quarto. Vocês traumatizaram o Innie - Seungmin diz abraçando Jeongin de maneira protetiva, que o encara estranho.
- Por que vocês me tratam como um bebê?! Eu nem sou o mais novo aqui! - Jeongin diz indignado, empurrando de leve Seungmin.
- Innie, você vai ser pra sempre o nosso bebê - Felix acaricia o cabelo do mais novo, que infla as bochechas em resposta.
- Bom dia. Todos prontos? - Minho surge no ambiente, já vestido.
- O que?! Ainda estamos de pijama! - respondo ao ver meus amigos olharem confusos para o recém-chegado.
- Então se apressem, temos que sair daqui a pouco - ele diz calmo, se sentando ao lado do irmão.
\ ♡ /
Depois do café, nos apressamos para arrumar tudo antes de sairmos. Acho que doze garotos juntos não dão certo. No momento, estamos terminando de colocar as coisas nos cavalos. Nós vamos com eles até a fronteira. Segundo Seungmin, o lugar por onde vamos passar depois da fronteira é muito frio para irmos com os cavalos.
- Gente, esse aqui é o Changbin. Ele é um dos melhores soldados e também um grande amigo meu. Ele vai nos acompanhar na viagem - Minho chega com o último garoto que faltava, sorrindo para ele.
- Oi - Changbin diz, sem demonstrar muita emoção. Gente, vocês acreditam se eu disser que esse cara é menor que eu?! Tipo, eu já não sou alto, e ele é mais baixo que eu! Isso sem falar nos músculos definidos dos braços dele, são enormes! Me lembrem de nunca irritar ele.
- Binnie, tira essa carranca da cara! - Seungmin o chacoalha, fazendo ele perder a pose séria ao sorrir fofinho. Que dualidade!
- Beleza, então agora que o Chambinho chegou, vamos! - Jeno diz animado, movendo as mãos.
- Me chamou de que?! - Changbin semicerra os olhos ao ouvir o que o Lee disse.
- Chambinho. Aquele sorvete, sabe? É igual a você. Rebaixado e fofinho - ele junta as mãos, simulando algo pequeno. Changbin... rosna (?) para ele, fechando a cara novamente.
- Então vamos logo, né? - Woojin interrompe, empurrando Felix para subir no cavalo. Jisung nos arrumou mais dois cavalos, já que ele, Minho, Chan e Changbin vão conosco agora.
Pelo inverno finalmente ter chego, o tempo está mais frio. Pedi para Jeongin me deixar ir na frente novamente, coisa que o garoto fez de bom grado. Por termos saído bem cedo e a distância do castelo para a fronteira não ser muito longa, fomos mais devagar dessa vez.
Agora já no final da tarde, estamos praticamente no meio do nada. Jisung arregala os olhos, parecendo se lembrar de algo, apertando os ombros de Minho para que ele pare o cavalo.
- Gente, lembrei de uma coisa! Minha família tem um chalé perto daqui. Eu sempre ia lá com meus primos - ele diz animado, pulando do cavalo. Observo Minho se desesperar, descendo do cavalo também para acompanhar o outro.
- Mas nós podemos ficar lá? - pergunto ao ver ele começar a caminhar.
- Claro! Venham - ele nos chama, passando por entre as árvores.
Relutantes, seguimos ele. Após um curto período de caminhada, chegamos a um enorme chalé. Fala sério, esse lugar é umas dez vezes maior que a minha casa!
Jisung aponta um lugar coberto para deixarmos os cavalos, indo destrancar a porta do chalé. Depois de nos certificarmos de que os animais estão com comida, água e confortáveis, voltamos para a entrada do local.
Ao entrar, fico deslumbrado, para variar. Praticamente tudo é de madeira, trazendo uma sensação de conforto. Jisung corre animado pela ampla sala, acendendo as velas pala iluminar o cômodo.
Enquanto ele ajeita as coisas, o restante de nós fica observando. O que se faz no chalé da família real?!
- Gente, se movam! Venham ver os quartos! - o príncipe grita subindo as escadas. Admito que foi engraçado quando nós subimos também, porque digamos que ainda não sabíamos o que fazer direito.
- Jisung, esse lugar não é muito grande para nós? - Jeongin pergunta desconcertado, olhando todo o ambiente do enorme corredor dos quartos.
- Claro que não. Temos onze quartos, como querem dormir? - o Han pergunta, fazendo nossos neurônios travarem. Observo Hyuck puxar Mark pelo pulso até um dos quartos, arrancando um sorrisinho ladino de mim.
- Felix? - Woojin pergunta para o mais novo, que estava muito ocupado encarando um Changbin distraído.
- Hm? Ah! Sim - ele sai de seu transe, seguindo o mais velho até outro quarto.
Observo Jisung olhar para mim e depois para Jeno e Jaemin. De imediato entendo o que ele quer dizer, logo tratando de puxar os dois bobões para o último quarto.
Ao entrar no cômodo, percebo que ele é um pouco menor do que o do castelo. Deixo minha bolsa no canto, perto da cama, logo me jogando nesta. Sinceramente, graças aos deuses que Jisung veio conosco. Já amo esse garoto.
- Vocês também perceberam que o Mark e o Haechan estão estranhos? - Jeno pergunta fechando a porta.
- Jeno, você é burro assim por natureza ou fez curso? - digo indignado com a lerdeza do Lee. Como pode ser tão lindo, mas tão besta?
- O que? Vai me dizer que sabe de algo que eu não sei? - ele põe as mãos na cintura, semicerrando os olhos. Bato minha mão na testa, suspirando.
- Nono, não precisa de muito esforço pra ver que eles estão tendo alguma coisa - Jaemin diz se jogando na cama, se ajeitando ao meu lado.
- Sério?! E aquele desgraçado do Mark nem pra me contar... - ele resmunga, fazendo bico.
- Você que é muito bocó pra perceber - dou risada da careta dele, vendo-o se jogar em cima de Jaemin e eu.
- Ai Jeno, sai daqui! Você é pesado demônio - Jaemin diz tentando empurrar o mais velho, que apenas se remexe mais.
- Tá esmagando meu pobre corpo, eu vou morrer! - dramatizo, dando leves tapinhas no Lee.
- Vocês não me amam mais, é isso mesmo?! - Jeno se senta, nos encarando com os braços cruzados.
- A gente nunca te amou - Jaemin ri da expressão “magoada” do mais velho.
- Então eu vou embora! - ele se levanta, saindo do quarto com o nariz empinado.
- Será que ele levou a sério? - pergunto para o Na, me virando para ele.
- Acho que não. Ele só é dramático - ele responde se levantando também, sendo seguido por mim.
Descemos juntos para o andar de baixo, encontrando nossos amigos reunidos na sala, fazendo vários nadas.
- O que a gente vai fazer? - Jeongin pergunta encarando o teto.
- O que acham de fazermos uma brincadeira? - sugiro para eles, vendo-os me encararem interessados.
- Que tipo de brincadeira? - Woojin pergunta desconfiado.
- Sabe, no nosso mundo existe um programa chamado “Masterchef”, que é sobre culinária. Vamos fazer tipo isso! Jaemin, Woojin e Hyuck serão os jurados porque eles sabem cozinhar, o restante de nós vai formar duplas para cozinhar. Quem fizer o melhor prato escolhido pelos jurados ganha - explico, vendo eles concordarem com a ideia.
- Vamos fazer sorteio então - Jisung diz pegando alguns papéis, para anotarmos os nomes.
Depois de escrevermos tudo, o resultado foi: Changbin e Jeno; Minho e Jeongin; Seungmin e eu; Felix e Mark e Jisung e Chan.
Jaemin, Woojin e Hyuck escolheram algo fácil, um bolo. Mas ele tem que ser recheado, aff.
- Você sabe fazer um bolo? - pergunto para Seungmin quando arrumamos um canto para nós na enorme cozinha. Por sorte (já que cof cof Jisung é podre de rico cof cof) temos ingredientes de sobra. Não sei como eles não apodreceram, mas ok.
- Eu não. E você? - nego com a cabeça, rindo para ele.
- Podem ir! - Woojin grita animado.
- Acho que vai ovo, né? - pergunto pegando um ovo.
- Deve ir. Bota dois - ele diz pegando um saco de farinha. - Vai isso também né?
- Sim. Cuidado pra não colocar... muito. Seungmin! - grito para ele quando o garoto coloca quase todo o pacote de farinha na tigela.
- Ops - ele diz rindo, tentando desviar dos meus tapas.
- Tenta tirar um pouco - resmungo pegando o chocolate em pó. A questão é: quanto colocar? Encaro o pacote confuso, tentando decifrar. Coloco um pouco, por precaução.
- Leite? - me lembro, apontando para o ingrediente. Seungmin o pega, colocando um pouco na mistura.
- E manteiga. A gente derrete? - ele pergunta ao que eu pego uma pequena quantidade de manteiga.
- Acho que não - coloco na tigela, rindo ao ver Seungmin misturar tudo com uma colher. Não ficou bonito...
- Fermento! - me estico para pegar o ingrediente. Quase esquecemos do que faz o bolo crescer.
- Coloca bastante, aí ele cresce mais - o Kim diz colocando um monte de fermento na massa. Não questiono, afinal, não entendo de bolos. Depois colocamos a massa em uma fôrma, logo levando ao forno.
- A gente faz recheio de que? - pergunto ao observar nossas opções.
- Chocolate? - ele sugere, muito criativo.
- Isso! Vamos fazer brigadeiro - digo animado, pegando as coisas para fazer.
- Briga o que? - meu parceiro pergunta confuso.
- Brigadeiro. É um doce do meu mundo. É feito de leite condensado, chocolate em pó e manteiga. Ou margarina, sei lá - respondo pegando tudo o que vamos precisar. Tudo bem que essa é uma receita típica do Sul do meu mundo e que eu nunca fiz antes, mas vamos tentar né?
- Eu acho que não deu muito certo - Seungmin tem uma crise de riso ao ver que meu brigadeiro grudou na panela. Insensível!
- Para de rir! Tá lindo, olha - tento mexer a mistura, mas ela nem se move. O Kim se apoia na bancada, se acabando de rir. - Eu vou te bater com a colher! - ameaço apontando minha colher na cara dele, que prende o riso.
- Eu vou checar o bolo - ele se afasta, voltando a rir. Pensa que eu não vi, Seungmin?
Volto minha atenção para... o que quer que seja isso. Tento dar uma salvada, fazendo o “brigadeiro” pelo menos ficar meio mole. Não julguem os meus dotes culinários!
Um tempo depois, Seungmin volta com nosso bolo já assado. Até que ficou bonitinho.
- Vamos desenformar. Segura que eu puxo - digo segurando a borda da fôrma, puxando pra cima enquanto Seungmin pressiona pra baixo. Deu certo, pelo menos.
- Tem certeza que tá bom? - ele pergunta ao ver o recheio.
- Espero que esteja. Me dá a faca pra cortar o bolo - digo para ele, que se vira para pegar o objeto.
Tento cortar o mais alinhado possível, com calma. Assim que termino, não consigo segurar o riso.
- Ficou tudo torto! Olha isso, parece uma minhoca! - aponto rindo para o bolo, me apoiando nos meus joelhos.
- Ficou horrível! - Seungmin me acompanha, se apoiando na bancada de tanto rir.
- Ok, ok, precisamos terminar isso - limpo as lágrimas, voltando minha atenção ao bolo.
Colocamos o brigadeiro no meio do bolo, como um recheio meio estranho. Saiu torto, fodido, amassado, quase caindo e feio, mas saiu! Quase tive outra crise de risos ao ver a cara de Woojin, Jaemin e Hyuck para essa obra de arte.
- Parece que foi atropelado - Jaemin não segura o riso ao comentar.
- Ei! Não fala assim do Seungjuninho! - digo, indignado, apontando para o bolo.
- Ok, então nos deem licença, vamos provar.
Me afasto junto com Seungmin, rindo muito. A gente tem minhoca na cabeça, só pode.
Alguns instantes depois, os jurados nos chamam de volta.
- Depois de provar todos, podemos dizer... - Woojin começa.
- ... que todos estavam horríveis... - Hyuck continua.
- ... mas que o do Minho e do Jeongin foi o menos pior - Jaemin termina.
- Aprendi com o mestre - Jeongin se gaba, sorrindo para Woojin.
- Não é pra tanto, o de vocês também não tava bom - o Kim alfineta, arrancando uma expressão descrente do Yang.
- Assim magoa, hyung! - dramatiza, com um bico. Woojin dá de ombros, rindo.
- Gente, já tá tarde. Acho melhor irmos dormir - Felix, que estava estranhamente calado, se pronuncia, bocejando.
- Concordo. Tá começando a nevar agora - Chan comenta olhando pela enorme janela, onde é possível ver a neve caindo.
- Podem tomar banho nos banheiros dos quartos, só vou checar se a caldeira tá funcionando - Jisung diz indo para o lado de fora da cabana, sendo seguido por Minho.
E com isso subimos para os quartos de novo, nos preparando para dormir. Amanhã seguimos viagem, então é bom irmos dormir cedo. Claro que eu tô amando ficar nesses lugares chiques né, aproveitar a chance. E é bem melhor dormir numa cama quentinha do que no chão.
Quase senti meu corpo ir junto com a água naquele banho gostoso, relaxando meus músculos. Por um momento até esqueci dos meus problemas. E por falar nisso, as coisas só vão de mal a pior. Como se não bastasse ter me metido em uma grande confusão envolvendo Jeno e Jaemin, eu ainda tinha que vir parar aqui, em outro mundo, pra complicar ainda mais. Por favor, me deem o prêmio de mais azarado do ano. Obrigado.
Esquecendo um pouco essa situação, voltemos ao presente. Depois de sair daquele maravilhoso banho, me enrolo nos cobertores, pronto para dormir. Ah! Acabei de lembrar de algo.
Me levanto de novo, estranhando o fato de Jeno e Jaemin não estarem no quarto. Ignoro isso, indo para o corredor.
Ando um pouquinho até parar na porta do quarto do meu melhor amigo. Bato duas vezes, não obtendo resposta. Mando a privacidade pra casa do caralho e entro no quarto.
- Hyuck? - pergunto baixinho, não recebendo uma resposta. Cadê todo mundo?!
Saio do quarto novamente, logo descendo as escadas. Ao entrar na cozinha, encontro os meliantes aprontando. Mark, Haechan, Jeno e Jaemin estão comendo os bolos que fizemos mais cedo.
- Vocês vão morrer se continuarem comendo isso - digo rindo.
- Olha, até que não tá tão horrível. Melhor que nada - Hyuck, todo lambuzado de bolo, comenta rindo.
- É um lanchinho antes de dormir - Jaemin ri também, colocando o prato na mesa.
Observo eles terminarem de comer, rindo das gracinhas. Depois de um tempo, eles terminam de comer, e então voltamos aos quartos. Mas antes que Haechan volte para o dele, eu o puxo para a varanda que tem aqui no andar de cima.
- Pensa que eu esqueci? Desembucha! - digo a ele assim que entramos no local.
- Ah, Injun, você não vai nem acreditar! Finalmente me resolvi com o Mark - ele sorri ao dizer.
- Percebi - digo ironicamente, me referindo às recentes marcas no pescoço dele.
- Idiota. Quer mesmo saber o que rolou? - ele pergunta meio nervoso, recebendo um aceno positivo por minha parte.
Bem, não vou dizer o que houve porque a história é grande e ela já foi contada aqui. Fica repetitivo, não é legal. Então vamos pular para a parte em que ele termina de contar.
- E aí deu no que deu. Agora a gente tá meio que enrolado, sabe? Não sei o que fazer - ele suspira, desviando o olhar.
- Hyuck, quero que seja sincero comigo. O que você sente por ele? - minha pergunta o pega de surpresa, porque vejo ele arregalar os olhos.
- Eu não sei. Me sinto estranho em relação a ele. Por muitos anos a gente se odiou e agora do nada estamos... enrolados - ele ri de leve por conta da situação complicada.
- Antes de tentar entender, você precisa deixar de se preocupar. Sabe, não tem nada de errado em gostar dele. Se você não se sente pronto pra dar um nome ao que vocês têm tá tudo bem, mas não se prive de sentir o que quer que seja por ele - sorrio para ele, vendo-o olhar para baixo antes de dizer.
- Acho que gosto dele há mais tempo do que meu lado orgulhoso admite - ele sussurra, brincando com os próprios dedos.
- Conversa com ele. É o melhor jeito de resolver isso - lhe dou um beijo na testa antes de puxá-lo de volta para os quartos. Vejo ele se afastar, entrando no próprio quarto depois de me dar boa noite.
Contente pelo meu amigo, entro no meu também.
Sorrio levemente ao ver Jeno sem camisa (não que esse detalhe importe...) discutindo com um Jaemin indignado.
- Minha bunda! Dormir no meio é horrível. Você me chuta e o Renjun me empurra. Eu fico na ponta! - o Na, muito revoltado, põe as mãos na cintura ao dizer.
- Mas eu não quero ficar no meio! - Jeno faz um bico, arrancando um riso do mais novo.
- Meninos, a cama tem duas pontas. Eu fico no meio - interfiro na “briga”.
- Ah, é mesmo. Ok então - Jaemin se joga na cama, se embolando nas cobertas.
- Põe a camisa, tá frio pra ficar sem blusa - digo para Jeno antes de entrar no banheiro.
Algum tempo depois, eu já estava pronto para dormir de novo. Assim que saí do banheiro, fiz um paranauê doido para deitar na cama sem pisar nos garotos. Deu certo? Não muito.
Me deitei enfim, me sentindo quase no paraíso naquela cama macia. Fechei meus olhos, sorrindo para o nada mais uma vez. Será que eu tô usando drogas? Sinceramente, não sei. Não faço ideia do que tá acontecendo comigo.
- Durmam bem - sussurro antes de pegar no sono.
\ ♡ /
Horas depois, em plena madrugada, eu acordo novamente. Com uma sensação ruim no peito, abro meus olhos e não encontro nem Jeno e nem Jaemin na cama. Meio tonto pelo sono, me levanto. Cambaleio para fora do quarto, descendo as escadas com dificuldade. Ao chegar no andar de baixo, encontro os dois na sala.
- Nono... Nana... - sussurro em meio ao escuro do ambiente.
- Injun? O que você tá fazendo acordado? - escuto Jeno dizer.
- Eu tive um pesadelo - respondo ainda meio sonolento. - O que estão fazendo aqui na sala?
- Escutamos um barulho estranho e viemos ver. Vem aqui! - Jaemin me puxa, me rodeando com seus braços.
- Meu pai sempre me disse que a melhor maneira de lidar com pesadelos é esquecendo deles - Nono se aproxima de nós, calmamente. - Vamos falar sobre coisas boas. Vocês sabem como faz pra transformar o giz numa cobra?
- Não - Jaemin ri, já prevendo a piada bosta.
- É só colocar na água, porque aí o gizboia. Entenderam? - ele diz rindo. E eu também ri. Foi tão merda que eu ri.
- Jeno, cala a boca - brinco com ele.
- Eu só tava tentando ajudar! - ele diz indignado.
- Você ajudou. Obrigado - lhe dou um selar na bochecha.
Antes que alguém possa dizer alguma coisa, um barulho alto se faz presente. Com o susto, me afasto dos dois. O barulho se repete. Olho assustado para a janela, onde uma sombra meio torta pode ser vista. Mais uma vez o barulho ecoa pela sala. Presto atenção, identificando como um... rugido?
Observo Jeno e Jaemin ficarem apreensivos, se aproximando da janela devagar. Dessa vez, escutamos uma pessoa caindo no chão.
E depois ouvimos o grito agudo de Jeongin, nos desesperando.

O diário de um cupido completamente fracassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora