O toque da morte

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Era uma tarde ensolarada, mas o clima ainda se mantinha fresco, pássaros cantavam entre as árvores, borboletas dançavam no céu, cervos corriam livremente perto da cachoeira, todos os animais pareciam estar felizes naquele dia, tanto que não percebiam que algo sombrio se aproximava dentre as árvores em passos lentos.

Algo se aproximava da cachoeira, sua presença obscura podia ser percebida até mesmo em um dia ensolarado.

Os pássaros se calaram, as borboletas sumiram, e os cervos pararam e se esconderam.

A criatura se aproxima da água olhando seu reflexo, seu capuz negro deslizava em sua face coberta por uma máscara de crânio de dragão. Seus olhos vermelhos estavam tristes, solitários, não por escolha, pois qualquer um que fosse tocado por suas mãos morreria, porque ela era a morte que vagava solitariamente por todos os lados.

Ela estava cansado, estava triste...estava sozinha.

Ela olha ao seu redor, os cervos escondidos atrás das árvores, unidos, com medo... Seus olhos voltam para seu reflexo, ela caminha pela floresta cabisbaixa, passos atrás dela a surpreende, ela se vira vendo um pequeno cervo a seguindo, a criatura não segura dando um sorriso, suas mãos se levantam lentamente para acariciar o pequeno animal, então se detém, ela o mataria se o tocasse, ela se desvia e continua sua caminhada enquanto o pequeno cervo continua a segui-la para perto da cachoeira novamente.

A morte se senta encostada em uma árvore que se seca morrendo, enquanto o pequeno cervo a observa, comendo a grama ao seu redor.

A morte não estava mais sozinha, mas ainda assim se sentia triste, seu toque era fatal. Ela sente uma presença de um humano que se aproximava entre as árvores, humanos não podiam a ver...um som alto de um tiro é ouvido, cheiro de sangue e pólvora se espalham pelo ar, o pequeno cervo se engasga em seu sangue, a morte em um ato de desespero tenta o levantar, rapidamente se lembrando do seu toque, mas era tarde de mais, o pequeno cervo da seu último suspiro no colo da Morte que o olha, e em um ato de fúria ataca o homem o matando.

Uma forte luz aparece do outro lado do rio, uma presença diferente de todas é sentida, cheiro de flores é espalhado pelo ar, os passarinhos voltam a cantar.

Seus olhos se cruzam, a morte que não sentia nada além de tristeza sente algo aquecer seu corpo, uma felicidade a contagiar, uma imensa vontade de ser tocado pela vida que havia aparecido do outro lado da margem.

A vida sorri para a morte que a contempla, então atravessa o rio ficando frente a frente da morte, que estica seu braço e logo se contém.

A vida a encara, mesmo com um pouco de medo se aproxima levantando suas delicadas mãos de pele pálida e brilhante, antes que pudesse tocar a face da morte, a morte se afasta, correndo para a árvore que havia matado com seu toque se agachando, a vida encara sua tristeza de longe e se senta de frente, sua luz se mistura com a escuridão da morte, a tristeza e solidão da morte se vai enquanto observa a vida diante de seus olhos.

A vida se levanta se aproximando do corpo caído do homem o tocando trazendo-o para a vida novamente, a morte a encara, seu dedo de ossos aponta para o pequeno cervo sem vida no chão e para os outros que se escondiam atrás das árvores, indicando uma fêmea de cervo que estava procurando seu filhote.

Naquele momento a vida percebe o que a morte queria, deixando que a morte passasse e tocasse novamente no homem o matando, então tocando seus dedos no corpo do pequeno animal o trazendo para a vida.

A vida acaricia o corpo do animal já de pé, enquanto outros se aproximavam, sua luz a envolvia deixando tudo ao seu lado mais vivo, a morte a olhava de longe, observava o pequeno cervo sendo acariciado, então ele também olha para a morte, e novamente se aproxima, a morte se afasta com medo de matá-lo novamente, a vida se aproxima tocando o corpo do animal, a morte lentamente levanta seu braço e o cervo encosta sua cabeça em sua mão, a morte de olhos fechados esperando pelo pior sente o calor percorrer pelo seu corpo, então abre seus olhos vendo que o sangue quente ainda percorria pelo seu corpo, uma felicidade toma conta de seu ser e ele abraça o pequeno cervo sentindo o calor do corpo do animal e seus pelos deslizarem entre seus dedos, pequenas lágrimas escorrem de seus olhos sendo sugadas pela sua máscara de ossos.

A maldição do reino de Baruk (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora