A fúria do destino

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A morte novamente estava sozinha, mas em algum lugar existia a vida que poderia ser tocada por seus dedos finos de ossos, mesmo distante ela existia, e eles se amavam.

A vida ainda estava ao lado da cachoeira esperando que a morte voltasse, dias se passaram, a morte não voltava, pessoas e animais voltaram a morrer, a vida então resolveu voltar a vagar por todos os lados trazendo assim o fim do caos que o amor dela pela morte havia trazido.

O destino manipulava todos os seres vivos, mostrava a vida e a morte quem deveria morrer e quem deveria se reproduzir, mas nunca deixava que a vida é a morte se esbarrassem.

Centenas de anos se passam, a morte se sentindo solitária e cansada vagava sem rumo, e ao ver um caçador atirando em uma fêmea de cervo que caminhava com seu filhote em busca de comida no inverno rigoroso, perdendo seu controle, e ao invés de ceifar a alma do animal ataca o homem que morre no mesmo instante que é tocado por seus dedos de ossos.

Algo inesperado acontece, uma luz ilumina o corpo caído do homem, que retorna a vida. A morte que estava ao lado do cervo caído o encara, sem entender o que estava acontecendo.

- Minha doce e amada morte, sua piedade por cervos feridos e fúria por caçadores sempre nos fará nos reencontramos.- diz uma doce voz, vinda de uma forte luz.

- Vida? - pergunta a morte.

- Quem mais séria?- responde ela se aproximando.

- O que está fazendo aqui? Por favor se afaste, eu não quero que o destino cumpra o que disse, eu quero pensar que ainda existe alguém que eu possa tocar.

- Como deseja pensar que existe alguém que possa ser tocado pelos dedos da morte sem que sua alma seja ceifada, mas vive longe desse ser?

- Desde que te conheci eu me sinto menos solitário, seu amor me aqueceu.

- Você não me tocava naquela época, como isso foi possível?

- Eu tinha medo.

- E agora?

- Agora eu tenho vontade de te abraçar e nunca mais soltar.

- Como podemos nos amar sem nunca termos nos tocado?

- Talvez seja o destino.- diz a morte soltando uma pequena gargalhada.

- Nós sabemos bem o quão distante ele quer que nós estejamos um do outro.

- Então porque ele te mandou aqui ?

- Ele não me mandou, senti que algo estava errado, alguém havia morrido sem ter chegado sua hora, pois essa pessoa tinha no seu futuro um filho que mudaria o rumo do mundo, pois ele seria o primeiro da linhagem dos Baruk que daqui muitos anos formarão o reino de Baruk.

- Pois bem...eu matei esse cara e você o reviveu, isso me deu uma idéia.

- Eu poderia saber qual?

- O destino nos quer separados, e se eu acidentalmente matar pessoas por engano e você ter que desfazer esse pequeno erro?

- Nós iríamos nos encontrar, mais isso é muito arriscado...

- Não se tomarmos cuidado, não vamos fazer com que pareça de propósito, três mortes por mês, é tudo que preciso, eu só quero te ver... Eu sinto tanto sua falta.

- Eu também sinto a sua... talvez deveríamos tentar nos tocar da próxima vez, um abraço...

- A próxima vez pode demorar, porque não hoje ?- diz a morte logo se arrependendo de sua idéia- Não, é melhor não, não sabemos o que pode acontecer com você se eu te tocasse.

A vida encara a morte, e antes que a mesma virasse as costas, ela corre de braços abertos abraçando finalmente a morte.

Luz e sombra se misturam, lágrimas quentes escorrem de seus rostos, a felicidade de ambos se misturam, a vida era capaz de abraçar a morte sem deixar de existir.

- Você é quente, como eu achei que seria.- sussurra a morte.

- E você é fria, como eu imaginei que seria.- sussurra a vida de volta.

- Eu te amo.- diz a morte.

- Eu também te amo.- responde a vida.

- Deveríamos ir antes que o destino perceba nosso encontro.

- Sim, mas eu não quero.

- Nos encontraremos novamente.

- Me promete?

- Sim, eu prometo.

A morte cumpri sua promessa, mas se encontrava todos os dias com a vida, pois todos os dias a morte tocava em alguém que não deveria, então a vida para manter o controle ia ao seu encontro para desfazer o ocorrido, o destino estava ocupado demais manipulado o futuro dos seres vivos e não percebia que em poucos segundos uma de suas peças preciosas havia morrido.

Anos se passaram até que o destino percebesse que estava sendo enganado, e com fúria espera que a morte e vida se encontrem novamente.

Vida e morte estavam reunidos ao lado de um corpo caído, mesmo com um cenário mórbido, eles estavam felizes, mas tudo muda quando um sentimento de um vazio profundo toma conta de seus corpos, o destino se aproximava enfurecido.

- Eu os avisei, vocês novamente estão quebrando o ciclo de vida e morte, eu brefei dizendo que era capaz de tornar a vida incapaz de ser tocada por você, mas parece que isso não os deu medo, tem algo que eu posso fazer, posso fazer com que vocês se tornem humanos, e assim eu poderei os afastar.

- Não seja tolo, mesmo em forma humana nós ainda seríamos Vida e Morte, e você não teria controle do mesmo jeito que não tem agora.- diz a morte.

- Vocês sim, mas as famílias que cuidarão de vocês ainda serão de carne e osso, facilmente manipuladas fazendo com que vocês nunca se encontrem, e mesmo que eu vacile e deixe escapar algo, vocês não se recordação da suas reais personalidades.

- Você não pode fazer isso, quem irá dar e ceifar almas?- diz a vida.

- Vocês mesmos, ou melhor...o subconsciente de vocês, continuarão fazendo o dever que tem que ser feito, sem que nem percebam, e como corpo e alma estarão separados eu poderei separar os dois pela eternidade, e assim vocês pararão com o caos que sempre fazem quando estão juntos, o amor de vocês é impossível, e se é difícil entenderem isso por bem, entenderão por mal.

Uma luz forte envolve o corpo da vida enquanto uma fumaça negra envolve o corpo da morte, eles trocam olhares assustados, seus corpos começam a se desfazerem, e em uma atitude de desespero os dois tentam correr um ao encontro do outro dando seu último abraço.

- Eu irei te encontrar.- diz a morte antes que seus corpos fossem completamente consumidos pela luz e pela escuridão.

A maldição do reino de Baruk (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora