A maldição do lobo

62 29 0
                                    

Edgar levanta o corpo de Hector e o leva para uma pequena cabana, uma cortina negra cobre a entrada da porta.

- Você está bem? - Pergunta Ágatha olhando para Christopher.

Ele a puxa pelo braço para dentro da mata, sem dizer nada.

- O que você está fazendo? Para onde está me levando? - pergunta Ágatha tentando puxar seu braço.

Christopher ainda em silêncio continua a puxando.

- Como você conseguiu? - Enfim pergunta ele parando do lado de uma árvore.

- O que ? - pergunta Ágatha confusa.

- Como entrou na minha mente ?

- Eu não sei.- Diz ela enquanto via ele virar as costas pondo suas mãos em sua cabeça esfregando seus cabelos loiros, e logo a encara.

- Eu me sinto menos culpado. - diz ele novamente virando as costas para ela.

- Mas você na verdade não é nem um pouco, você não escolheu ser o que é, e não pode controlar.

- Na verdade eu escolhi.

- Como assim?

- Muito tempo atrás minha aldeia sempre era invadida por caçadores, dragões, demônios... enfim, nosso mago ancião estava velho de mais para nos proteger, logo partiria dessa para melhor, nossa aldeia iria se desfazer, eu conhecia a lenda do lincontropo, de todas as formas de se transformar, eu queria ser um original e pedi para que o mago da aldeia me transformasse, e ele claro negou alegando que meus pais não suportariam me ver assim e que eu seria um risco para todos, então eu parti, deixei meus pais e minha esposa, parti atrás de alguém que me transformasse... Então encontrei, um mago exilado, ele me cobrou trinta moedas de ouro para isso...e eu não tinha, então ele me propôs uma troca, ele me transformaria se eu fizesse algo para ele, eu aceitei sem saber o que era, então ele disse "- Mate aquele que condenou seu próprio irmão e traga seu coração para mim." Foi então que percebi que ele era corrompido pelo ódio e vingança, mas eu estava desesperado com a situação da vila e aceitei, cumpri o prometido, não foi meu primeiro assassinato, mais foi diferente, não foi por defesa, foi para me beneficiar, fui um assassino pago, matei um inocente quebrando meus princípios, e o pior eu gostei, então deixei seu corpo caído em sua cabana, não foi uma morte limpa, então levei seu coração para o próprio irmão, e ele me transformou, de repente uma dor terrível consumiu meu corpo, como se meu couro estivesse sendo arrancado por uma faca sem corte, tudo ficou preto e eu não me lembro mais, depois de um tempo eu acordei,meu corpo estava estirado no chão, um cheiro forte de sangue estava no ar e estranhamente era um cheiro bom, eu me levantei e segui o cheiro vendo então sangue espalhado por cima de um tronco de árvore caído em frente da cabana solitária do mago, e ele estava cozinhando algo em um caldeirão enorme, me aproximei permitindo ver o que era....o coração do homem que eu havia matado, eu me afastei esbarrando no mago, "- Você já acordou?" Perguntou ele normalmente mexendo o coração do irmão dentro do caldeirão, eu não respondi apenas me afastei dele, voltando para a aldeia, eu não sentia nada de diferente, passaram dias e nada, eu então voltei para tirar satisfação com aquele homem que havia me enganado e me fez matar alguém, para minha surpresa no lugar aonde ficava a cabana solitária era um rio, talvez eu tenha me enganado, procurei, voltei outras vezes e nunca mais achei aquela cabana, eu me culpei todos os dias pelo o que eu fiz, o mago da aldeia morreu dias depois, todos partiram, viramos nômades, pois nunca estávamos protegidos, então acabamos indo para a vila do mago que eu matei, eles estavam estranhamente bem, diziam que eram protegidos por um lobo negro, eles nos deixaram ficar. Era lua cheia, minha esposa juntamente com meus pais veio me dizer que eu seria pai, eu fiquei tão feliz, mas senti algo batendo no meu peito além da felicidade, era ódio, então vi o rosto da minha esposa espantada, ela se afastou em pânico, então tudo ficou preto e eu acordei coberto de sangue ao lado dos corpos, todos os da minha aldeia caídos sem vida, éramos onze, todos mortos com os corações arrancados menos eu e o povoado que havia nos acolhido, eu saí da aldeia e só então eu percebi minha forma, um lobo de pelos negros como os aldeões haviam descrito o lobo que os protegia que impedia a destruição da vila, e então lembrei de tudo do que havia acontecido, minhas garras arrancando o coração de cada um, o sangue quente escorrendo pelas minhas mãos, a vontade incontrolável de repetir tudo novamente...então eu parti, deixei os corpos, corri para as montanhas, fiquei anos lá, até ser encontrado por Edgar, um monge, ele me convenceu a dizer tudo o que ouve então disse que eu estava possuído por um espírito mau que tentava corromper minha alma e não conseguia completamente, e que era o espírito do mago que havia me amaldiçoado não apenas com a licontropia, mais também para continuar com a sua maldade, durante sete dias eu fiquei amarrado em um porão de uma igreja, sendo cortado e molhado por água benta e sal grosso, todos os dias e todas as noites, então me transformei novamente no lobo, mas pela primeira vez não perdi meu controle, mas sempre parecia que a qualquer momento eu perderia, até você aparecer... Aquela hora eu me senti seguro de mim mesmo...obrigada.

- Eu não fiz nada, eu apenas consegui te ouvir.

- Mais do que isso...você me libertou, aliviou minha dor.- diz ele se aproximando dela a abraçando bruscamente.

- Estou interrompendo?- diz Edgar saindo do meio da mata.

- Não.- diz ambos na mesma hora.

- Hector perdeu o pulso, mas o recuperamos, ele está em recuperação tiramos o veneno, mas não todo, ele terá que ficar pelo menos três meses aqui até sua total recuperação.

A maldição do reino de Baruk (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora