O submundo

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Seus passos ecoavam pelo corredor, lustres gigantes pendurados no teto alto, havia apenas enormes portas sem janelas, o piso de madeira aumentava ainda mais o som de seus passos, Ágatha ouve pequenos ruídos vindo de uma das portas que chamam sua atenção, ela se aproxima lentamente, com seus pequenos dedos puxa delicadamente a porta abrindo assim uma pequena brecha.

Três enormes figuras de forma humanóide com mantos pretos rodeavam um pequeno buraco no chão coberto de neve, seus corpos cobriam sua visão, um deles se movimenta para o lado permitindo com que ela visse água no pequeno buraco, e em poucos segundos uma figura humana lutando para sair de dentro da água puxando o manto de uma das criaturas revelando sua face, um rosto pálido deformado com dentes pontudos que abocanham o pescoço do homem o tirando de dentro d'água tingindo a neve de vermelho com seu sangue que jorra de seu pescoço, as outras duas criaturas se jogam para cima do corpo caído no chão quase sem vida, o terceiro vê Ágatha,solta um grunhido agudo, e corre para sua direção, Ágatha rapidamente empurra a porta logo em seguida perdendo o equilíbrio e caindo no chão.

A maçaneta gira, Ágatha se desespera encolhendo suas pernas para perto de seu corpo as abraçando fechando seus olhos esperando pelo pior. O som da maçaneta para, ela olha para porta...ainda fechada, então se levanta e corre pelo corredor, vultos de florestas e desertos passam pelos seus olhos, gritos e sussurros assombram seus ouvidos, então uma porta lhe chama atenção, uma porta totalmente aberta com uma espécie de tribunal, vozes familiares são ouvidas mas não há nenhum ser vivo dentro do quarto, de repente a porta se fecha fazendo um som alto.

Ainda com medo das criaturas, Ágatha continua a correr chegando assim ao final do corredor.

Uma imensa porta de uma madeira escura está em sua frente, dois batentes enormes de ouro, folhas talhadas na madeira a decoram diversas fotografias antigas cobrem as paredes em volta da porta que em um longo rangido se abre.

-Entre - ordena uma voz masculina conhecida.

-Hiro - diz Ágatha correndo para o abraçar.

- Não criança, não se aproxime tanto de uma criatura como eu, sou um demônio e você uma pequena fada, meus olhos negros podem te levar para a escuridão, minhas garras te envenenar, apenas espere aqui, para que possa pegar uma roupa para você.

- Não Hiro, você não pode me machucar. - retruca Ágatha correndo em sua direção o abraçando por trás, Hiro a olha, seus cabelos longos caídos sobre seu ombro, duas pequenas mãos se esforçando para o abraçar, suas lágrimas escorrendo pelo seu delicado rosto.Ele aproxima delicadamente sua mão para tocar na pequena menina, e vê suas garras destacarem na pele da garota fazendo com que rapidamente fechasse sua mão e saísse da sala.

- Pegue essas roupas, acho que servirão em você - diz ele lhe entregando um pequeno vestido vermelho de lacinhos, e um par de sapatilhas branca - trouxe biscoitos e chá para que me acompanhe e me conte como você chegou até aqui.

Ágatha lhe conta tudo que havia acontecido até então, Hiro se levanta se aproximando calmamente dela tocando-lhe seus cabelos e se dirige para uma mesa e se senta na cadeira se virando para uma enorme janela de vidro.

- Você não acredita? - pergunta ela se levantando e se pondo em frente a mesa.

- Olhe todas essas fotos- diz ele se virando de frente a ela e abrindo seus braços.

Ágatha se dá conta que todas as paredes daquela sala eram cobertas de fotografias, milhares delas.

- Eu só acredito no que meus olhos possam ver, ou imagens que possam me provar, eu sou o Juiz do submundo.

-Venha comigo para a superfície e eu lhe provo.

- Você apesar de uma ser uma pequena criança, é uma fada e seres puros como você odeiam seres sombrios como eu, pois podemos com um único arranhão matar vocês, você poderia ser uma isca para me matarem. - diz ele.

- Se eu te provar...você volta para a superfície de onde nunca devia ter saído?

-Sim.

- Você promete?

- haha, sim eu prometo pequena Ágatha.

Ela sai da sala, se esconde atrás de um pilar pega o punhal que o mago havia lhe dado e corta sua mão a transportando novamente para a caverna.

Em meio os berros das criaturas, Ágatha caminha lentamente para a saída da caverna, aonde encontra o mago sentado contemplando o luar.

- Mago? - diz ela se aproximando

- Sim, minha querida?

- Preciso de uma magia para que toda a minha memória com Hiro seja revelada em fotos... Seria possível?
- Sim, mais um processo doloroso teria que passar, e com essa forma infantil seria muito arriscado.

- Eu aceito - diz ela no mesmo segundo- O que o senhor precisa?
- Apenas um pano, para que você morda enquanto grita.

Dolorosamente as memórias de Ágatha que em meio aos monstros uivando e berrando seus gritos ultrapassam, seus olhos reviram seus membros se contorcem enquanto uma pequena luz sai de sua testa para dentro de uma pequena bolsa marrom que o mago segurava.

- Está feito- diz o mago para ela que o vê como apenas um borrão em sua frente os berros das criaturas cada vez mais longe.

- Espere até que esteja melhor para ir- diz o mago lhe entregando a bolsa.
Ágatha com suas poucas forças se levanta abrindo umas das jaulas, uma criatura avança para cima do mago, antes que se aproximasse o suficiente para ataca-lo é atingido pelo punhal de Ágatha abrindo novamente a fenda para o submundo, Ágatha abraçada ao seu pescoço não percebe que a criatura ainda está viva e a morde seu braço causando uma dor insuportável que a faz gemer e então com o peso de seu corpo ela crava ainda mais o punhal matando o animal.

Fraca e ferida Ágatha novamente faz o percurso, percebendo que seu corpo novamente havia mudado para seu tamanho original fazendo com que fosse quase impossível se movimentar com o vestido infantil, e com dificuldade ela o tira ficando apenas com suas roupas íntimas e a bolsa marrom.

Antes de chegar na última porta do corredor ela cai, o teto gira sobre sua cabeça, seu braço latejando, sua pulsação cada vez mais fraca, seu corpo envolvido na própria possa de sangue, seus olhos se fecham lentamente a medida que uma luz forte aparece em sua frente.

A maldição do reino de Baruk (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora