A morte

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Durante meses a vida seguia a morte para qualquer lugar que ela fosse, para que ela não se sentisse solitária novamente.

A morte ainda tinha medo de tocar na vida, mesmo sabendo que não poderia a matar, mas não se arriscava, não queria ficar sozinha novamente.

A luz da vida iluminava a escuridão da morte, e elas se completavam, ficavam vagando para todos os lados, não tiravam vidas e também não as dava, o mundo estava parado, ninguém nascia ninguém morria.

Pouco tempo depois, o caos começou no mundo, pessoas feridas gravemente não morriam, animais que eram dilacerados por seus predadores continuavam agonizando, pois a morte nunca chegava, e qualquer fêmea que estivesse prenha, seja animal ou humano, ficava na mesma situação, pois a nova vida não poderia chegar ao mundo, pois a vida não estava ao lado para ajudar, então suas bolsas se estouravam, o seu filho ficava em sua barriga, mas nem mãe e nem bebê morriam, pois estavam presos em um mundo aonde a vida e a morte estavam ocupados demais sendo felizes.

Certo dia, a vida e a morte estavam passeando perto da cachoeira aonde haviam se conhecido, os pássaros cantavam, e borboletas voavam entre as flores, todo o caos estava afastado daquele pequeno lugar, uma presença era sentida, uma sensação de vazio tomava conta de todos os presentes naquele lugar.

O destino, um ser sem forma definida, estava furioso com o romance entre a vida e a morte, não com o amor em si entre eles mas sim pelo desequilíbrio que isso estava causando.

Ele se aproxima em uma fumaça branca, ficando de frente da morte e da vida que o observa formar uma forma humanoide de fumaça.

- Vocês não deviam estar fazendo isso, estão causando um caos enorme lá fora, animais e humanos estão sofrendo enquanto vocês se divertem aqui.- diz o destino, em uma voz grossa e autoritária.

- Desde bilhões de anos, quando o primeiro ser vivo foi criado, eu fui obrigado a ser solitário, a sofrer sozinho a viver sozinho, não posso tocar em nada sem trazer o seu fim, você acha que eu era feliz fazendo isso? Estou a meses tendo uma existência feliz ao lado da vida, eu não posso a tocar, pois tenho medo, porem esses meses foram os mais felizes da minha existência, eu vivi bilhões de anos sendo infeliz para que seres vivos que matam um ao outro apenas por matar, fossem felizes e não sofressem, eu sofri todo esse tempo por eles, fui privado do toque e do calor corporal, fui condenado a uma existência miserável para que pessoas cruéis vivessem com um propósito, aproveitar a vida até sua morte, amar, ter filhos, ser feliz até o seu dia final, e o que eu fiz para merecer isso? Exatamente...nada, e o que eles fazem ? Eles matam, eles traem, eles machucam seus próprios filhos e podem tocar, podem amar, podem sentir o calor corporal de outros seres, sendo almas podres sobre a terra, eles não merecem piedade, eles não merecem que eu a Morte sofra sem ter pecado, enquanto eles vivem pecando e sendo tão privilegiado, talvez a Vida não tenha sofrido o mesmo que eu, pois ela é algo que todos querem por perto, os animais não fogem quando ela se aproxima, mas eu...eu sou o que todos temem, eu sou o fim de tudo, e eu estou cansado de ser o monstro que todos acham que eu sou, então não nos diga o que deveríamos ou não fazer, você é o Destino alguns te temem outros não, mas ninguém te acha tão cruel como eu. - diz a morte o confrontando.

- Eu não me importo com o que você sente ou deixa de sentir, você sempre existiu assim, você surgiu para isso, então faça o seu trabalho, eu sou o Destino, eu não posso fazer vocês se odiarem pois vocês não são meros mortais como todos os que eu manuseio, porém eu posso fazer com que a vida se machuque ao ser tocada por você, nesse instante ela ainda pode ser tocada sem se machucar, mas em um comando meu ela deixará de ter essa habilidade, então você literalmente não poderá tocar em ninguém. Você quer machucar o seu amor?- diz o destino o ameaçando.

- Você é terrível. - diz a morte.

- Sim, eu sou, agora deixe ela e vá embora porque posso ser muito pior.- diz o destino.

A morte olha para a vida com um olhar de profunda tristeza então se evapora no ar desaparecendo e logo em seguida o destino também se vai, deixando a vida solitária de frente a cachoeira.

A maldição do reino de Baruk (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora