Capítulo 3

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"Não." Foi a resposta rápida de Kara. Não importa o quanto precisava de um novo computador e uma câmera que não anunciasse sua presença em qualquer lugar. Ela não iria se sujeitar àquilo.

"Kara, eu não estaria pedindo se não fosse realmente necessário."  Disse Lucy

"O que quer com o homem? Já se passaram dois anos." Kara começou a arrumar sua mesa, um hábito compulsivo que desenvolveu em momentos de stress.

"É o Mark."

O nome atraiu pouco a atenção de Kara. Ela não poderia se importar menos com a criança bastarda de sua ex-esposa. "Você não quis contar quando descobriu da gravidez todos estes anos atrás. Agora quer ir atrás deste homem e destruir seu casamento mais uma vez?"

"Ele está doente, Kara." Lucy parecia realmente preocupada. Ela pode nunca ter se importado o suficiente com Kara para ignorar os avanços de um jovem galanteador, mas ela sempre se importou com o filho fruto desta traição. "Você sabe disso."

O garoto havia nascido com algum tipo de câncer, descoberto após seu primeiro ano de vida. Agora, ele lutava com a leucemia por 7 meses e não parecia perto de ganhar. Kara suspirou.

"Quero que James tenha a chance de conhecer o filho antes que seja muito tarde. Quero que Mark conheça o pai e tenha um pouco de contato com ele. Eu estou sozinha nesta batalha e talvez só precise de algum apoio." Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Kara controlou sua vontade de suspirar mais uma vez. "O que te faz pensar que ele te daria este apoio?"

"Você não o conhece."

"Nem você. Além de seu corpo e charme de traidor nato, você não sabe nada sobre ele. Não sabe sobre sua personalidade, seus gostos, seus desejos, suas vontades, se continua ou não casado, se quer ou não ser pai. Você o conhece tão bem quanto eu." Sua voz estava repleta de amargura de repente. Ela não se importava.

Lucy soltou um soluço seco. "Por favor, Kara, eu tenho que achar ele."

Ela tinha três opções ali: 1ª ignorar o pedido; 2ª atender ao pedido e mexer com fantasmas do passado; ou 3ª que era engolir todo seu orgulho e tentar ajudar sua ex-mulher por si mesma.

"Vou ver o que posso fazer." Kara murmurou após uma complicada decisão.

Depois de Lucy deixar seu escritório, ainda em prantos, Kara caminhou até a mesa de Nia e jogou um bloco de notas vazio em cima do teclado. "Anote tudo que achar sobre James Olsen." Ordenou. "Ele é um advogado."

Nia acenou em acordo e começou sua pesquisa no mesmo momento que a senhora Perci entrou, usando um casaco pesado e um chapéu vermelho. A coitada já devia ter seus oitenta anos e não aguentava andar a menos de 26 graus sem um casaco. Ela visitava seu escritório todo mês em busca de notícias de seus filhos, que já possuíam suas próprias famílias e que, na verdade, moravam a menos de cinco quadras de sua casa. Kara nunca entendeu as famílias italianas, mas a senhora Perci era responsável por 45% de seu lucro, então não estava prestes a reclamar.

Algumas horas depois, Kara encontrou-se sentada em seu sofá desconfortável, com um bloco de notas na mão e uma caixinha de comida chinesa na outra. Eram as anotações de Nia, que, como sempre, era bem minuciosa. Data de nascimento, nome dos pais, irmãos, residências da infância, colégios que frequentou, ano de formatura, desavença com antigos colegas, primeiros anos de trabalho com diploma, primeiros casos, problemas com clientela, antigas moradias, estadias no hospital. Como ela conseguia tudo isso sem sair da frente do computador estava além de sua compreensão. Kara demorava dias para juntar tudo aquilo visitando os locais, mas Nia levantava tudo entre dois ou três cafés e uma pausa para o banheiro.

E, claro, informações sobre seu casamento, escândalos de traição e rumores de divórcios. Duas propriedades no nome do casal foram mencionadas e Kara circulou os nomes para averiguar pela manhã seguinte.

Depois de memorizar as principais informações, Kara abriu o envelope que sua secretária havia deixado embaixo de sua porta ao sair. Eram três fotos. O homem podia ser reconhecido rapidamente, seu terno estava sempre muito bem arrumado e sua barba por fazer lhe dava um ar autoritário. Kara se lembrava bem daqueles olhos de quando o homem a agarrou pelo colarinho e a arrastou para dentro de sua própria casa. A segunda foto era destacada por ele e mais alguns colegas advogados sorrindo por alguma coisa qualquer. Havia uma mulher meio escondida atrás dele, permitindo apenas metade do seu rosto ser capturado pela câmera. A próxima era a foto da mulher. Kara nunca havia esquecido aquele rosto. Ela não podia.

Nia precisava de um salário maior, sem dúvida. Se Kara já não tivesse as imagens gravadas em sua mente, aquelas fotos seriam de grande ajuda.

Largando metade de sua refeição na mesa, Kara decidiu que era hora de fazer algumas ligações. Seus antigos amigos da polícia poderiam acessar arquivos que ela já não tinha mais acesso.

"Winn." Ela cumprimentou com a voz fria de emoções assim que um homem interrompeu os toques do outro lado da linha.

"Ah, detetive Danvers! Quanto tempo." Winn havia sido um amigo quando trabalhou para a polícia assim que saiu da escola. Depois que ela deixou a corporação, ele havia assumido seu posto de detetive e sua mesa de trabalho.

"Realmente."

"Pelo seu tom, você não ligou apenas pela minha voz encantadora." Ele, assim como ela, tinha um ótimo poder de percepção. Quando sua amiga ligou às 11 da noite de uma terça feira, ele já podia imaginar que o assunto não seria amigável. "O que posso fazer por você?"

"Você sabe algo sobre James Olsen?"

Ela ouviu o homem estalando os lábios do outro lado da linha. "Sujeitinho marrento. Ninguém por aqui gosta dele. Destruiu mais casos do que erros nas coletas de provas. É um ótimo advogado, no entanto, os criminosos tem seu número na chamada rápida."

"Então você o vê com frequência?"

"Gostaria de vê-lo menos. Por quê? Ele é suspeito em algum caso seu? Sabe que tem que comunicar a polícia se estiver investigando algo..."

"Não tem nada a ver com drogas, prostituição ou assassinatos. É um assunto pessoal. Você pode me dizer onde ele mora?"

O barulho de um teclado podia ser ouvido em seguida. Como ela, Winn trabalhava até tarde em quaisquer circunstancias. "O último endereço é na Rua Galdroi, mas parece que ele se mudou sem deixar o novo endereço."

"Obrigada. Não mencione isso se o vir novamente. Não quero que ele saiba que estou atrás dele."

"Não ia. Hey, o que acha de jantarmos algum dia desses? Aquele antigo restaurante ainda está lá."

Depois de marcar o jantar para a próxima semana, Kara ligou para outra pessoa, que também não sabia informar o novo endereço dos Olsen. Aquilo estava começando a se mostrar um desafio interessante. Ela havia achado que seria bem monótono achar o cara para apenas entregá-lo nas mãos de sua ex, mas ele estava se mostrando escorregadio. 

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