Capítulo 5

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O senhor McHale não foi de grande ajuda. Ele parecia intimidado com suas perguntas e também mantinha uma distancia segura como se ela o estivesse ameaçando com uma faca. Muitos tinham aquela reação ao saberem de sua profissão, e todos tinham algo a esconder. Kara não precisou investigar para saber qual o segredo de McHale. Um breve olhar pelas suas roupas era o suficiente. Passadas demais. Esposa muito atenciosa, provavelmente grudada em seu calcanhar durante todo dia, mandando mensagens e ligando para falar sobre os filhos ou fazer perguntas patéticas sobre a casa. Sua aliança, no entanto, estava um pouco torta no dedo, como se ele tivesse colocado às pressas. O nome de sua esposa, escrito por fora, estava do lado errado. O senhor McHale decidiu que queria dar uma pausa do casamento naquela manhã quando Kara o encontrou chegando ao escritório três horas depois de sair de casa. Estava com medo de estar sendo investigado e não apenas ajudando em uma investigação.

Kara mandou uma mensagem para Nia, pedindo que adiasse seu horário com o senhor Jensen, e foi para a casa de McHale. Geralmente, ela não podia se importar menos sobre casos de traição, mas não podia deixar de lado depois de se lembrar da criança agarrada ao coelho e da mulher com olhos brilhando ao falar do marido. Seria um baque, mas ela iria se recuperar. Kara tinha.

Deixando a senhora McHale chorando no ombro de uma amiga, Kara seguiu para seu escritório, onde encontrou o senhor Jensen e uma mulher desconhecida, que parecia estar vestida para um velório.

"Se identificou como Hannah Sysbrek." Nia sussurrou quando Kara parou na sua mesa sobre o pretexto de pegar outro bloco de notas.

"Sysbrek? O que é isso? Russo?"

Nia deu de ombros e Kara acenou para Jensen entrar em seu escritório. "A senhorita Danvers já irá atendê-la." Falou para a mulher, que acenou para Nia como se o gesto doesse demais para ela.

Ela teve que dar uma pausa em sua investigação de Olsen para cuidar de seus outros casos. Tinha que seguir o marido de duas clientes e os filhos da senhora Perci. Ainda tinha que entregar a ficha do caso para outro cliente e receber o pagamento pelos serviços.

Hannah Sysbrek queria saber se a imigração estava ou não atrás dela, mesmo após casar com um americano que, pela internet, jurou ser do tipo atlético, mas não passava de um garoto viciado em games. A senhorita Sysbrek não ficou feliz ao descobrir a verdade, mas teve que aturá-lo para conseguir seu visto permanente para o país. Acontece que ela era mesmo de uma vila distante na Rússia. Kara resolveu o ocorrido em menos de cinco minutos com uma ligação para Winn. A mulher estava salva.

Dois dias depois, Kara se encontrou com outro amigo policial, que havia visto o senhor Olsen na corte naquele dia.

"Ele parecia bem. Forte e desaforado como sempre." Seu amigo se queixou. "Perdemos o caso e ele conseguiu dinheiro para mais uma casa no campo."

"Casa no campo?" Kara questionou com interesse. "Ele tem uma casa no campo?"

"Tem duas. Herdou uma do pai, que era médico legista. Ele adora se gabar desse fato. O problema é que o pai dele lutava para solucionar crimes e botar os bandidos na cadeia, e o filho da mãe só pensa em ter o bolso cheio com qualquer pessoa que possa pagar seus honorários."

"Você sabe onde ficam estas casas?"

"A do pai dele fica em Vermont, ele vai pra lá no inverno com os irmãos, que também são ratos de defesa de outros ratos. A outra, a que ele comprou, eu não sei. Ele gosta mais de se gabar de passar o inverno em Vermont do que falar sobre um local qualquer."

"Alguém deve saber."

"Com certeza muita gente sabe. Ele dá muitas festas, mas policias não são convidados, sabe? Apenas a alta sociedade de advogados."

"Sabe onde posso encontrar um deles?"

Seu amigo lançou-lhe um longo olhar investigativo. "Não me lembro da sua resposta. O que quer com esse crápula mesmo?"

"Não lembra porque eu não respondi." Kara lhe deu um meio sorriso. "Assunto pessoal."

"Ele está metido em algum esquema? A corporação inteira gostaria de ouvir algo do tipo."

"Só preciso falar com ele." Kara deixou um bocado de dinheiro na mesa e se levantou. "Muito obrigada pelo seu tempo." Não queria mais ser questionada por seus motivos e sabia que o amigo continuaria. Policiais e detetives são assim, não saem dando informações sem saber a razão.

Ela já estava na porta quando uma resposta veio. "William Day. Advogado trabalhista do escritório HomeUp Corporation. Ele odeia aquele crápula mais do que nós policiais." 

Olho por olho - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora