14. Nada como antes - Parte 02.

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_ Está tudo desmoronando, mãe.

_ O que aconteceu, filho?

_ Quem está aí Clara? – meu pai gritou vindo da cozinha, até tentei secar as lágrimas antes que ele chegasse até nós, mas não consegui, ele acabou vendo. É verdade que de qualquer jeito ele iria saber o que havia acontecido, mas não queria que ele me visse sofrendo para evitar que ele esquentasse a cabeça, ele não suportava que alguém me fizesse mal, sempre virava uma fera quando isso acontecia, já havia perdido as contas das vezes que ele brigou com Aquiles e Caio. Talvez por eu ser filho único isso acabava por pesar muito na sua proteção comigo.

Mesmo escolhendo palavras suaves para explicar toda a situação, meu pai acabou por surtar, quis ligar para Caio e até mesmo ir lá naquela mesma noite, o que com muito esforço por parte de mim e de minha mãe afastamos de seu pensamento.

_ Não sei por que você tenta tanto com esse garoto mimado. – meu pai disparou quando estávamos jantando.

_ Porque eu puxei ao senhor, sei que nunca desistiria de mim. – disse deixando-o visivelmente sem argumentos.

Assim como para mim, os anos também se passaram para os meus pais, estavam naturalmente mais velhos, ambos com alguns cabelos grisalhos e a pele mais enrugada, mas ainda conservados.

_ Um a zero para o Lucas. – disse minha mãe fazendo graça.

_ É, meu comentário foi infeliz, desculpa filho. Eu falando assim até pareço não gostar do garoto.

_ Tudo bem. – disse apenas amassando a comida, estava sem fome. – mãe, posso ficar com meu quarto por esses dias?

_ O tempo que você quiser filho.

_ Aquele quarto sempre será seu. – complementou meu pai.

_ Se vocês me derem licença, eu vou subir um pouco agora.

_ Nem comeu nada filho. – disse minha mãe preocupada.

_ Estou sem fome mãe. – disse me levantando. – Depois eu desço e como alguma coisa. Benção mãe, benção pai.

Apesar de ouvi-los responder, não esperei por resposta e me retirei. Peguei minha mala na sala e subi as escadas de cabeça baixa, ainda custando a acredita que tudo aquilo estava acontecendo. Quando cheguei ao meu quarto, deixei a mala próximo à porta e me joguei de costas na cama, inevitavelmente fui invadido por várias lembranças que me fizeram por mais uma vez naquele dia derramar lágrimas, quase nada havia mudado ali desde minha adolescência, o cheiro daquela época parecia está ali impregnada nas paredes, foi ali que passamos os melhores momentos de nossas vidas, foi ali que experimentamos com sucesso uma vida de casados e foi ali também que juramos uma vida toda juntos, sonho de crianças que se perderam com o vento, cada parte daquele quarto tinha um pouco, não só de nós dois, mas de uma família, meu pequeno cresceu ali, podia ouvi-lo perfeitamente me chamando de pai pela primeira vez, era difícil e muito doloroso de aceitar que para me reaproximar e buscar novamente o carinho de um, eu tenha que perder o de outra pessoa, é verdade que eu poderia trocar de quarto ou até mesmo alugar um apartamento e fugir de tudo aquilo, mas eu queria logo sentir o que era pra sentir e chorar tudo de uma vez, iria ser muito doloroso, mas a recuperação seria mais rápida, isso era o que eu esperava e queria.

Dois toques na porta me fizeram sair daquele transe de lembranças, rapidamente me sentei e limpei as lagrimas pela enésima vez naquele dia, meu rosto já doía, de tanto fazer esses movimentos de esfrega, esfrega.

_ Deixa eu conversar contigo filho. – era minha mãe, queria ficar sozinho, pelo menos por aquela noite, mas sua voz soou tão maternal que eu não pude resistir.

CAIO: Vencemos O Mundo (Romance Gay - LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora