Saito

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O chá estava delicioso. Erika não parava de fazer perguntas para Saito. Verônica ria da situação enquanto Luke observava o filho, com orgulho.

-É pesado. Muitas mulheres estão entre nós no exército, mas é complicado para elas! –disse Saito.

-Por quê? Só por que somos mulheres?! –retrucou Erika.

Saito bebericou o chá, e sorriu.

-Não. Acho que vocês são muito fortes. É que mulheres precisam de mais atenção do que homens. Isso custa para o exército, mas é um preço que se paga!

-Atenção?

-Sim... Sabe, cuidados médicos... Consultas regulares com ginecologistas e essas coisas.

Verônica soltou um riso nada discreto. Erika ficou vermelha.

-Eu tinha esquecido esse detalhe! –disse, envergonhada.

-Tudo bem, nós damos o máximo no exército. Tanto homens quanto mulheres.

-Mundo pós apocalíptico certo?! –disse Luke.

-Papa... Não acho que é esse mundo. Ele sempre foi assim. Não acho que passamos por um apocalipse. Passamos por uma grande guerra mundial, isso é certo. As pessoas dizem que é apocalipse por que o mundo se auto destruiu, Deus não teve nada a ver com isso! –disse Saito, bebericando o chá novamente.

O garoto era loiro e de lindos olhos azuis. O rosto tinha cicatrizes aparentes, e o olhar era... Vazio.

-Você está certo. Nós criamos nossas próprias guerras, nós mesmos nos erradicamos! –disse Luke.

-Como fazemos para entrar? –disse Erika.

-Se alistem em Golden. Sempre pegam recrutas. Mas não vai ser nada fácil! –disse Saito.

-Sabemos disso. Mas queremos uma chance para provarmos que somos boas o suficiente para isso! –interviu Verônica.

-Entendo. Ouvi dizer que um cara do Salve a Terra está cuidando de muitas pessoas em Golden. Alguns dizer que ele será o líder. –disse Saito.

-Como ele chama? –indagou Erika.

-Frederic Harrison!

-Belo nome.

-Espero que ele seja um bom homem! –disse Luke. –Não precisamos de mais sofrimento!

-Também espero. Dizem que ele tem um cunhado que é muito bom também, Hector Richards.

-Mas Saito, fale sobre você! –disse Erika.

Saito se ajeitou no sofá, deixando a xícara de chá na mesa.

-Bom... Quando eu era pequeno queria ser médico, e minha mãe sempre me apoiou. Mas ai o mundo virou de pernas pro ar e decidi ajudar de alguma forma. Minha mãe já estava doente quando eu saí, e quando soube ela já tinha... De qualquer forma, foi a melhor decisão que já tomei! –disse.

-Você sempre viveu aqui?

-Não. Eu e minha família morávamos na Itália. Ainda me lembro daquele lugar maravilhoso. Sinto falta daquilo. Mas não podemos retomar não é... –disse Saito, angustiado.

-Por que mesmo depois de tudo o que aconteceu, voltamos a ser sangue sugas capitalistas e egoístas? –indagou Verônica.

-Acredito que é por que negócios sempre serão negócios! –disse Luke.

-Pois é... E vocês, qual sua história? –indagou Saito.

-Er... Bom... Nós somos emancipadas... Obviamente sem nada a não ser força de vontade! –disse Erika.

Verônica lembrou-se da cena. Sua mãe morta e sua irmã atirando em seu pai... Afastou o pensamento, mudando o assunto da conversa.

-Saito, já se apaixonou por alguém?

Saito engasgou com o pedaço de bolo que estava comendo.

-Olha... Existiu uma mulher maravilhosa. Ela se chamava Gabriele. Ela era perfeita. Tinha um ótimo caráter e era a mais linda mulher que já conheci na vida. Ela era filha de um alemão com uma judia... Combinação improvável não é?! Os pais dela foram assassinados em uma empreitada daqueles bastardos alemães. Ela ficou morando com os avós em Veneza, três ruas abaixo da minha casa.

-O que aconteceu com ela? –indagou Verônica.

-Eu e ela namoramos durante dois anos, mas ela desenvolveu o péssimo hábito de fumar, o que acabou com o pulmão dela. Como ironia do destino, ela morreu de câncer no pulmão... Exatamente como minha mãe! –disse Saito, tristemente.

-Eu sinto muito! –disse Erika.

-Tudo bem. Ela foi especial, me fez sentir como se fosse o único no mundo. É o tipo de sensação que só se tem uma vez. Agora meu relacionamento é com o exército e a nação! –disse Saito, comendo outro pedaço de bolo.

-Parece incrível! –disse Erika.

-Nem tanto... Vai descobrir eventualmente! –disse Saito.

Eles conversaram durante horas, até todos adormecerem.

No dia seguinte, Saito, Luke e as meninas seguiram para Golden, para que Erika e Verônica pudessem realizar seu sonho. Foram horas e horas e mais horas de carro até lá.

Depois de uma longa fila para tirar documentos e mais uma longa fila para se alistarem, estava tudo pronto. Já era praticamente noite.

-Agora vão precisar esperar os documentos ficarem prontos e se possível, serem chamadas para o exército! –disse Saito.

-Seremos chamadas. Ainda vai ouvir sobre nós Saito. Seremos líderes! –disse Erika.

-Menos Erika... Comece com calma. –avisou Saito.

-Eu estou calma... É que é uma certeza que eu tenho! Seremos chamadas! –disse Erika.

*

Saito já arrumara as malas. Luke abraçou o filho por longos minutos. Saito chorava discretamente. Erika observou a cena. Ela nunca entendera muito bem sobre amor, já que o pouco que tinha havia sido tirado dela.

-Eu sei que foram só três dias, mas é tudo o que o exército me permite! –disse Saito, limpando as lágrimas.

Luke finalmente soltou o filho, agoniado.

-Saito... Cuidado! –disse Luke.

-Deixa comigo papa. Vai me ver de novo em breve! E vocês meninas... Verei vocês de novo?

Erika e Verônica se entreolharam.

-Só o tempo vai dizer! –disse Erika.

-É, só o tempo... –repetiu Saito.

Ele abraçou as meninas, se despedindo e saindo da pequena casa. Luke se sentou na poltrona, limpando as lágrimas. Verônica cutucou a irmã.

-Erika... Ainda dá tempo! –disse Verônica.

Erika fitou-a.

-Vá... Tenta a sorte! –disse Verônica.

-Eu não preciso disso... Logo estaremos no exército e eu serei a melhor nisso ao seu lado. Você é minha irmã e essa é minha certeza.

Verônica a abraçou. Erika desconhecia o sentimento chamado amor. Verônica pouca sabia também, mas aquilo que elas tinham era algo bem maior.

-Erika... Prometa-me uma coisa!

-O quê?

-Se algo acontecer comigo, não importa quando, não fique maluca. Viva sua vida e seja feliz! –disse.

Erika nada disse, mas Verônica sabia que eventualmente ela cumpriria a promessa... Mas quando ainda era desconhecido.

Guerra das NaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora