Maybe a Little More

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Talvez um Pouco Mais

Thomas Wayne Hospital, Gotham City
02:37 P.M.

Dia 7

Uma semana tinha se passado. Uma maldita semana e Kira continuava olhando para Tim como se ele a incomodasse

Suas mãos digitavam algo que foram programadas a fazer, seus ouvidos ignoravam o desenho passando, seus olhos se forçavam para se manter focados na tela e sua mente vagava no dia em que tomaram sorvete e na calma que aquele dia havia lhe dado.

- Por que a doutora saiu mais cedo hoje? - Pelo visto, sua boca não queria se manter no dever dela

Kira suspirou e abaixou o volume da televisão.

- Porquê ela não está me ajudando. - Suas mãos se encontravam em seu colo, uma sobre a outra - Ela...está me fazendo lembrar...

- Kira, isso bo...!

- NÃO... - Sua mão foi ao seu peito, apertando aquela espécie de roupa que o hospital dava, tentando suprimir a dor que o grito e a tosse provocavam nela - Isso...não é bom

- Por quê? - Fechou o notebook

Sabia a resposta, no fundo, sabia o porquê. Sabia que ela não queria entender o porquê das cicatrizes ou qual o motivo das tatuagens, Sabia que ela não queria entender o fato de seu cabelo nascer azul. Ele sabia.

- Porque...ele não é bom - Abaixou a cabeça - Até agora, sei que nasci na rua... basicamente. Vivia lá sozinha, encontrando pessoas ruins em cada lugar.
Tim...pessoas que crescem na rua não possuem condição de se transformarem em pessoas boas.

- Mas você é boa - Se levantou do sofá, sentindo seu corpo reclamar pelo tempo que havia passado nele - Tenho certeza

Kira não olhava para ele, na verdade, ela parecia focada em algo na parede.

- Tim... - Respirou fundo. Uma lágrima brilhou no seu rosto por entrar em contato com a luz da tarde - ...eu, finalmente, entendi o porquê de tantas cicatrizes. Eu...entendi...e...eu não queria ter entendido...

A menina desabou em uma bagunça de lágrimas e tosses. Seu peito doía como se tivesse levado um tiro e os nós em suas mãos estavam tão apertados que chamavam a ficar brancos.

Drake sorriu, meio triste, e sentou ao seu lado, envolvendo a menina em seus braços de forma cuidadosa.

- Você é maravilhosa. Kira Hale é maravilhosa e é isso que importa. Quem você foi não importa

- Eu...não quero...

- Então, não faça - Não esperou ela terminar

- hum... obrigada - Falou baixo e se deixou aconchegar no abraço quente que a envolvia como um cobertor.

- Não precisa agradecer

Ela fazia ele feliz? Fazia, muito.

Desde da morte de Stephanie há três anos, sua vida tinha sido um inferno de pássaros e morcegos. Havia colocado toda sua concentração em Bruce e apenas nele, foi assim que conseguiu ser um dos diretores de...qualquer coisa na empresa Wayne.

Toda aquela atenção constante havia feito ele se distrair de si próprio, todas as festas e crimes a serem combatidos haviam feito ele se esquecer quem foi Tim Drake e como começou tudo.

Aquela garota aterrorizada sentada na cama havia dado a ele uma segunda chance de ser Drake novamente...transformar Robin em uma máscara.

Se estava apaixonado? Não se lembrava mais como era estar apaixonado, apenas queria protegê-la do mundo. Queria estar ao seu lado...ser o Robin dela. Queria ver ela feliz...talvez fosse egoísmo, mas não importava, desde que ela sorrisse.

Seu corpo exausto estava a ponto de ruir a qualquer instante e aquela garota apenas fazia com que o processo se acelerasse.

- Tim... - Chamou Kira, respirando pesado - Tim, está doendo

Engoliu em seco e desatou o abraço, vendo Kira sorrir com um olhar de dor e pena.

- Eu vou para casa. Amanhã eu volto - Arrumou as coisas na mochila, jogando a mesma sobre o ombro

- Ei...como estão as coisas na mansão? - Fitou as mãos com certa tristeza - Não que eu esteja reclamando! Não é nada disso! Eu... só queria saber por quê os outros não vem me ver?

- Bem, Damian e Dick viajaram para São Francisco para resolver algumas coisas. Bruce foi para Washington D.C. e não deve voltar tão cedo - Parou na porta - Eu fiquei para poder te fazer companhia...Mas, Dick volta em alguns dias, talvez ele venha te visitar. Até mais, Kira.

Fechou a porta ao apoiar suas costas atrás da mesma, suspirando alto.

Não se lembrava de quantas noites estava sem dormir, apenas do rosto dela dormindo tranquilamente. Não se lembrava do seu trabalho, apenas de sua voz.

Ignorou seus pensamentos e foi em direção a mansão Wayne, melhor dizendo, a Batcaverna.

Sentou no computador e voltou a trabalhar no caso do "Capuz Vermelho e sua trupe".

Tudo o que sabiam era que o equipamento roubado era condizente com ingredientes para um bomba biológica, que o grupo trabalha há alguns anos de modo discreto e disfarçado por entre os crimes de Gotham. Eles estavam associados a vários assassinatos de mafiosos e corruptos. Seus alvos eram os grandes e, depois do Longo Dia Das Bruxas e a queda dos Falcone*, Gotham estava numa eterna briga de gato para saber quem se tornaria os novos chefes da máfia.

Mesmo tendo ocorrido há anos, tantas mortes e sem gente tão poderosa, era difícil fazer o submundo de Gotham voltar aos eixos, coisa que essa equipe aproveitava a cada segundo.

Bruce acreditava que Kira era responsável por alguma coisa, já que os ataques pararam subitamente quando ela apareceu naquele beco. Mesmo Catástrofe e Capuz Vermelho terem atacado meses depois para roubar substâncias químicas e causar o caos no centro da cidade não mudou a cabeça do Morcego, que continuou a vigia-la de todas as câmeras existentes dentro da casa e nas ruas.

Digitou "Jason Todd" no computador da caverna, esperando ler algo que não teria ali.

Jason havia se "redimido" e voltado para a mansão depois de muitas confusões. Mesmo assim, sumiu e reapareceu como uma espécie de Motoqueiro Fantasma como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral e esquecido dos anos dentro sob a Mansão

Sabia que não era ele por trás do assassinato dos grandes mafiosos de Gotham, ele não se preocupava em deixar um trabalho limpo. Seja quem fosse, era profissional, alguém tão bom quanto o próprio Slade (Não tanto, mas definitivamente bom). O assassino não deixava marcas além de alguns pedaços pequenos de ferro no corpo das vítimas, culpa da provável adaga que usava. Suas vítimas eram mortas sempre em hotéis, aonde estavam vulneráveis, por mais que tivessem uma guarda altíssima.

Definitivamente, um fantasma...assim como o passado de Kira.

Drake fitou o computador com certo ódio e cansaço, quando notou um anexo de Bruce no arquivo de Todd: "Mesmo após a morte de sua mãe, alguém esteve com ele durante seus anos na rua. Ainda não sei dizer o nome, mas, com certeza, faz falta a ele."

Se jogou para trás, reclinando a cadeira. Aquilo era o mesmo que nada, não podia fazer nada com aquilo...ou, talvez, precisasse de uma longa noite de sono. Com certeza estava pensando coisas que não pensaria normalmente

/∆\

*Uma série de assassinatos vinculados ao mundo da máfia que ocorreu em Gotham. O vilão apelidado "Holiday" (Feriado) matou membros das mais importantes famílias de mafiosos vinculados aos Falcone, a cada feriado ou dia comemorativo. Toda a família Falcone foi morta durante o quadrinho, sendo eles a mais forte família mafiosa de Gotham

Amnesia » damian w. Onde histórias criam vida. Descubra agora