Lucia vai embora?

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        Era noite quando o pai de Gabriela chegou em casa, carregando algumas malas, Monique desceu as pressas para ajudar. O sorriso no rosto de Betto era verdadeiro ele estava feliz de retornar, Gab estava na sala já o aguardando.
-Oi pai seja bem vindo novamente a sua casa, de onde não deveria ter saído nunca.
Gabriela envolve seu pai com um abraço apertado.
-Oi minha filha, acho que hoje reconheço o quanto amo minha família.
Betto segura a mão da filha e devolve um sorriso tímido.
-Bom agora que está de volta a mamãe prometeu que vai trabalhar menos, e prestar mais atenção na gente. Não é dona Monique?
Monique coloca umas malas no chão e vem ajeitando o cabelo em um rabo de cavalo alto, em seguida abraça aos dois com ardor, beijando a cabeça de cada um.
-Sim. Eu prometo a vocês dois que daqui pra frente, recomeçaremos do zero.
-Eu espero Nick, estamos contando com isso.
-Eu estou tão contente tendo você aqui de novo.
  Gabriela escapa dos braços de seus pais, tentando deixá-los mais a vontade.
-Bom, mãe e pai. Agora que estão bem e finalmente em paz, vou subir para o meu quarto e deixar vocês dois, matarem a saudade que reina em seus corações.
-Filha, temos a noite toda para isso.
-Betto vou falar estou precisando muito comemorar a sós com você.
Monique da um beijo molhado e longo na boca de Betto.
-ih, to falando! To subindo, amo vocês.
Gabriela sobe rindo as escadas, tentando disfarçar o constrangimento.

   Um som de notificação soa do celular dela, que ignora sentando enfrente a janela.
  Novamente o celular toca, os olhos curiosos de Gabriela faltavam expiar de longe quem era, numa tentativa falhada, decide ir até onde ele estava.
   Uma mensagem de Samuel para encontrá-la.     
   Era em uma praça pública, próximo do pântano, o lugar onde Gabriela não queria mais passar perto, o problema era a curiosidade em descobrir oque ele queria.  Samuel morava ao lado não fazia sentido ele marcar um local pra se encontrar que não fosse ali. Com o celular encostado no queixo, ela olha para todos os lados e decide responder dizendo que chegaria em vinte minutos.
  -Vamos lá Gabriela, coloca um sorriso nesse rosto e vai falar com ele.
Parada na frente do espelho, ajeita a blusa, solta o cabelo e da um sorriso. A confiança de Gabriela nesses últimos dias era assustadora, até para ela, decide colocar seu all star preto desbotado, e um casaquinho leve. O tempo era imprevisível ao mesmo tempo que esquentava, esfriava na mesma intensidade.
  -Mãe, pai estou descendo, se ajeitem.
Ela decide dar um tempo na escada para descer, não queria pegar seus pais se agarrando.
-Pode vir filha estamos vestidos.
-Ainda.
Monique que estava com o cabelo preso antes, ja estava descabelada, o batom que ela usou estava por todo seu rosto, era engraçado.
-Bom, eu vou sair e não sei que horas volto.
-Mas está tarde filha.
  Betto tentou repreender a filha.
-Pai, eu já estou crescida e aproveite bem a mamãe, pelo visto ela estava bem ansiosa.
-Tudo bem meu amor. Vai com Deus.
-Amém. Amo vocês!
  Gabriela sai fechando a porta atrás dela sem se virar para não mudarem de ideia em deixarem ela sair a essa hora.
   Passou em frente a casa de Samuel olhando para dentro, talvez ele ainda não tivesse ido e poderiam ir juntos. Mas, nem sinal de movimentação.
   Mesmo tendo se passado um tempo, ela sentia medo de sair a essa hora sozinha, o frio na barriga e o desconforto dos olhos alheios, nunca iam acabar. Andou por algumas ruas e ao longe viu Samuel, de cabeça baixa com as mãos nos bolsos, e chutando algumas pedras que estavam no chão. A praça tinha pouca iluminação, alguns brinquedos enferrujados e poucos bancos, os que tinham os vândalos fizeram questão de picharem todos.
   -Samuel?
Disse se aproximando dele, que continuava distraído chutando pedrinhas.
-O-oi Gabs, desculpa te chamar aqui, mas Lucia ameaçou de ir em casa hoje e eu francamente não estou disposto.
-Podia ter me dito eu deixaria você entrar no meu quarto, se o assunto é tão urgente.
-Ela é sua amiga, se não me encontrasse iria te ver. E, além disso ficar em um quarto com você é torturante.
Samuel se virou segurando as pontas dos dedos de Gabriela, que lentamente afastou as mãos.
-Bom, estou aqui por um motivo, curiosidade.
-Sim, você sempre foi bem curiosa.
-Podemos se sentar?
-Se encontrar um banco confiável...
Ela olhou para todos os lados e encontrou um canteiro de flores, não havia flores a não ser terra, mas era alto e parecia mais firme para se sentar doque os bancos destruídos.
-Podemos sentar ali, parece melhor.
  -Ótimo.

-Pronto Sam, oque quer tanto falar?
-Bom, primeiro que não sei se sabe, mas Lucia vai ir embora, ela queria te falar mas falta coragem, com o fim das aulas ela ja estava pensando em fazer faculdade fora...
-Não acredito que ela não me contou.
-Bom, ela quer ir para a capital, estudar, se formar e ter alguma coisa. Os pais dela já até viram apartamento.
Gabriela olhava para o chão com uma certa fisgada no peito, não conseguia acreditar que Lucia não havia falado absolutamente nada a ela.
-Eu não queria ser o meio disso mas ela me pediu pra falar com você.
-Hum.
-E, eu não vou poder ir para a capital por agora.
-Vai deixar ela ir? Como vocês dois vão continuar namorando dessa forma?
-É ai o ponto das coisas, terminamos. Não acho que daria certo e ela também acha isso, bom hoje ela queria se despedir de mim de uma forma mais, bom...
-Quente?
-Isso. Só, não consigo.
-Não me diz que não fizeram nada?
-Sim Gabs, não fizemos nada. Ela te ama e senti que foi um erro tudo, desde o começo.
-Não estou entendendo Samuel, oque eu tenho a ver com isso tudo?
-Ela sabe que eu nunca vou deixar de amar você, talvez isso fez com que ela decidisse ir logo para a capital.
Gabriela se levanta, e encara Samuel como se ele estivesse cuspindo cada palavra por falar, como se ele quisesse a culpar de Lucia ir embora.
-Eu não acredito que seja por isso, não pode ser...
-Gabriela, olha eu amo você e eu não vou mais mentir pra ela, coloca isso na sua cabeça. Ela sabe que a gente tem alguma coisa, quer dizer eu nem sei se eu e você temos alguma coisa, mas ela não é burra Gabriela, o jeito que eu olho pra você, eu não olho pra ela desse jeito.
-Não posso aceitar isso. Ela ir embora e não me falar nada.
  Ela se vira colocando as mãos sobre a cabeça.
-Ela não quer se despedir, isso dói nela. O que me deixou destruído foi que, ela não tem raiva ela agradeceu tudo oque a gente teve, ela quer que eu e você ficamos juntos...
-Lucia não é assim, ela não esta batendo bem da cabeça.
Samuel levanta de onde estava e a abraça, o cheiro dele era entorpecedor.
-Gabs, eu não acreditei também como você, mas ela disse. Ela sorriu quando imaginou nós dois juntos.
-Está tudo rodando dentro da minha cabeça agora Samuel, porque ela não me disse? Ela tinha que falar comigo, porra sempre estive com ela...
-Ela não teve coragem Gabs, bom amanhã ela vai pegar o avião, se quiser te levo la agora.
-Não Sam, não sei se consigo. Imaginar ela longe, isso ta me destruindo. Ela ta deixando de viver à felicidade dela, ela sempre amou você, eu não entendo.
-Só esteja lá amanhã.
Os olhos de Gabriela estavam encharcados, as lágrimas escorriam uma a uma, sem trégua. O abraço de Samuel era bom, no fundo ela sabia que ele também estava sofrendo com tudo, ele não podia escolher quem amar, ele tentou mas não havia como.
   O tempo começou a mudar, formando nuvens de chuva e uma ventania absurda, Samuel enxuga o rosto de Gabriela a levando para casa em seguida. Os dois permaneciam em silêncio, cada um lidando com a dor da sua maneira.
  -Bom Gabs, saio para o aeroporto de manhã se mudar de ideia e querer ir se despedir, só me avisar, se cuida.
-Tudo bem. Se cuida também.

Ela entra em sua casa escutando ruídos no quarto de seus pais, tranca a porta e vai para seu quarto. Pensou em mandar mensagens para Lucia, queria que ela se explicasse, mas sabia que isso a deixaria pior.
   Uma raiva por ela não contar nada, estava deixando Gabriela enjoada, mas o amor pela amiga era maior. Chorou por algumas horas e em seguida pegou no sono, deixando o celular no silencioso e o despertador para acordar, ligado.

***
 
   

Entre ele e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora