Não podia esperar mais

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  Alicia chegou em casa umas oito horas da noite, com algumas sacolas de roupas e um odor de álcool que Marcos podia sentir do andar de cima, desce e olha a irmã dos pés a cabeça.
  -Oque está fazendo grandão, será que pode me ajudar com essas sacolas?
  Marcos segura uma das mãos de Alicia procurando algum hematoma, corte, alguma coisa que pudesse explicar as sacolas que ela trouxe, eles não tinham dinheiro pra esbanjar e o amante dela não havia aparecido ainda, alguma coisa ela fez.
-Alicia, onde conseguiu dinheiro pra isso?
Coloca umas três sacolas em cima do sofá e pega uma outra que Alicia quase derruba no chão.
  -Umas amigas, por sinal tenho que retribuir, maninho elas são o máximo.
  -Como você aceita presentes de pessoas que mal conhece Alicia? Aposto que a maldita Gabriela estava junto. Não estava?
  -Por quê você odeia tanto essa garota?
-Alicia ela não é oque você acha que é.
-Cara, você tem sérios problemas mentais acreditar que uma garota pode me fazer mal, é oque só porque minhas amigas são ricas?
-Alicia, você precisa agir como a mulher que é. Você não é mais adolescente.
-Ah! Mark sério? Quer que eu seja uma titia chata? Por favor idade é só um número que prende a gente.
  -Olha como você tá a essa hora! Bêbada Alicia, logo seu cliente que insiste em chamar de namorado chega e vai te pegar desse jeito.
-Meu Deus. Ele está chegando, me ajuda preciso que fale que estou doente, vai leva essas sacolas para o quarto agora e me ajuda.
-Olha Alicia só hoje ok.
-Vai grandão ajuda.
  Marcos sobe as sacolas da irmã e joga em cima da cama, deita Alicia e tira os sapatos dela, não pode acreditar na audácia que Gabriela tinha, sabia que estava provocando e pensou várias vezes em sair correndo até a casa dela e fazer oque ela merecia. Não podia a mãe dela era chefe dele, como ele ia sair dessa situação?
  Com dois passos para trás escuta o celular da irmã tocar, com dois coraçõezinhos sem nome ele decide atender, ao olhar a irmã que ja estava roncando com as sacolas caindo sobre os pés.
  -Alô.
-Quem é?
-Como assim quem é? Você ligou para minha irmã eu tenho que saber quem é.
-Marcos? Sou eu o Georje.
-Olha, ela está dormindo, não passou bem o dia todo.
-Não quero saber se ela está dormindo ou não quero que ela atenda.
-O senhor que me desculpe mas ela não vai atender, e acho que deveria ter um pouco mais de respeito com quem fala no telefone, não se esqueça que eu conheço a sua família.
Com um bip percebe que o Georje desligou o telefone. Marcos então coloca novamente o celular da irmã na bolsa e sai fechando a porta.
  Ao descer para trancar as portas vê um pequeno papel que provavelmente caiu de uma das sacolas, um número meio apagado feito com lápis de olho e um G maiúsculo escrito abaixo. Marcos não podia achar que era coincidência, correndo como um louco sobe pro seu quarto pegando o seu celular coloca os números, atualiza a lista de contatos e ve a foto de Gabriela.
-Essa menina é doente.
Marcos então apaga o número novamente não ia entrar no jogo que ela queria.
Na verdade ele ainda não havia se perdoado pelo que fez, não era algo de se orgulhar mas no fundo algo gritava dentro dele, Gabriela chamava muito a atenção e sem que ele pudesse explicar sempre que ele lembrava dela algo fervia em seu sangue.
  Podia perceber que ela era perigosa para ele de um jeito que ele não sabia controlar e quanto mais ele fugia dela, mais ela se aproximava, queria um dia ter a chance de pedir desculpas e assim ela sair de vez de sua vida. Tentou fazer isso, mas o dia que invadiu a casa da garota ficou descontrolado novamente.   Alguma coisa de errado acontecia com ele, na verdade só quando ele estava na mesma área que ela. Ele sabia oque havia feito, a crueldade que fez. Novamente Marcos sente o estomago revirar e correndo ao banheiro vomita todo o tipo de coisa que ele se alimentou perante a semana. Sentado sobre o chão do banheiro com os braços sobre a privada cai em lágrimas, outra vez bate uma crise de arrependimento e precisava fazer isso parar, levanta se apoiando sobre as paredes e tira suas roupas entrando no chuveiro.
   Ao sair Marcos enrola a toalha da cintura para baixo deixando a mostra o peito e as costas onde ao lado esquerdo perto do ombro tinha uma cicatriz nitidamente visível e bem espessa. Marcos vai ao quarto da irmã que ainda dormia da mesma forma, volta ao seu quarto vestindo uma cueca e uma bermuda.
   Com o papel amaçado que ele havia jogado no chão, pega novamente e salva o número de Gabriela. Segura o celular com a mão direita enquanto a esquerda segura o cabelo, Marcos levanta e anda de um lado a outro não sabia oque fazer, olha todo o quarto achando algo pra descontar oque estava sentindo e não encontra nada. Senta sobre a cama e novamente olha a foto de Gabriela tão simples e tão maliciosa. Com dois suspiros longos pensa em ligar, desisti antes do dedo polegar chegar ao telefone verde. Marcos sentia tudo e não podia fazer nada, mas sabia que sua irmã corria algum tipo de perigo, se Gabriela se aproximou dela foi para tentar algo.
    Novamente sente a raiva surgir e dois murros fortes ele direciona para o travesseiro.
  Deitando logo em seguida sobre ele.
-Que inferno.
Marcos começou a sentir um rasgar no peito era como se alguém estivesse dilacerando ele por dentro, uma dor que ele não podia aguentar, algo que ele não havia sentido em todo esse tempo, as lembranças estavam começando a ficarem borradas, e em cada meio segundo de memória vinha a imagem da sua mãe, ele podia escutar ela mesmo sem nunca ter a conhecido e parecia que de sua boca saia
"Vai deixar seu pai fazer isso comigo? Marcos você é fruto de um estupro e fez isso com aquela menina? Sabe que ela pode fazer o mesmo que eu fiz? Não podia esperar mais de um filho de estuprador"
Com as mãos suando, e o corpo tremendo Marcos se levanta apertando fortemente a sua cabeça com as duas mãos.
-Sai da minha cabeça mãe, pare por favor!
Saindo do quarto tonto, custava enxergar as coisas que passavam a sua volta tudo estava rodando nada ficava nítido, parecia que ele havia usado todo tipo de droga possível. Sem conseguir ver nada a sua frente, tateando consegue chegar ao quarto de sua irmã.
  E cai sobre as sacolas de roupa dormindo ali mesmo, foi como se ele apagasse.

-Mark? Acorda você precisa ir para o trabalho.
Marcos abre os olhos vendo sua irmã quase que batendo na sua cara.
-Alicia.
-Porquê dormiu aqui? Nem vi como chegou aqui.
-Senti medo, que horas são?
Levantou batendo duas vezes no short que usava na tentativa de tirar o pó que as sacolas soltaram.
-Já são nove e meia da manhã.
-Alicia, preciso ir pro trabalho.
-Então corre grandão, eu quem bebo você que fica de porre? Apesar que minha cabeça dói.
Marcos corre ao seu quarto vestindo uma calça jeans escura, e uma camisa branca. O sapato colocou o tênis que sua irmã havia dado, era estilo social não ficou tão ruim.
  Correu escadas abaixo e foi até o ponto de ônibus onde quase perde o último ônibus da manhã.

Corre até a sua sala e encontra Monique e Fernanda conversando, nada grave Monique estava lá apenas para assinar umas coisas para Fernanda e Fernanda aguardava Marcos para os novos passos da empresa.

-Perdoem o atraso.

***

Entre ele e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora