Vizinho

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Marcel  mostrou o buquê de flores silvestres que trazia escondido atrás das costas

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Marcel  mostrou o buquê de flores silvestres que trazia escondido atrás das costas. Eram coloridas e cheiravam bem, mesmo que à distância. Ofereceu-o para Matilde que aceitou encabulada.

- Menino, sempre galante. - Matilde arrulhou como uma pomba enquanto pegava o cheiroso arranjo.

- Nossa bien-aimée* Matilde merece mais que um modesto arranjo de flores - ele piscou um de seus olhos castanhos -, mas por hoje só posso oferecer esse presente. Perdoe-me, musa.

Clementine sorriu ao ver Matilde gargalhar com profunda alegria enquanto fitava o arranjo com olhos brilhantes. Marcel tinha esse dom de fazer as pessoas felizes e por isso elas abriam o coração para si. Era também uma das armas dos Desfleurs em tempos passados. Fosse abrindo o coração ou as pernas, as pessoas sempre cediam informações valiosas. Mas aqueles tempos se tornavam cada vez mais distantes e Marcel usava suas habilidades apenas para brincar com as senhoras da região, por diversão, porque era sua personalidade.

- Senhor Marcel, se um dia partir daqui todas as velhas irão murchar até a morte. - Matilde respondeu.

Marcel abriu um sorriso travesso antes de começar a declamar alguns versos.

- "Estarei sob a terra, um fantasma sem ossos/ Pelas sombras da murta, descansarei;/ Você estará em casa, uma idosa rendida,/ A lamentar meu amor e seu desdém orgulhoso./ Viva, se crês em mim, não espere o amanhã:/ Escolha as rosas da vida hoje."* - Quando terminou de recitar os versos finais do soneto, homem pegou uma das mãos de Matilde e fitou os olhos da senhora espantada. - Pois não esperem minha partida, desfrutem do meu amor enquanto estou entre vós.

Ainda mais envergonhada que antes, Matilde puxou a mão com delicadeza enquanto sorria. Clementine já sabia de cor a pergunta que viria a seguir:

- Quem o escreveu?

Desde que Matilde mudara para Flor Bonita já não trabalhava mais. Passaria o resto de seus dias em descanso, por isso criou hábito de ler. Como incentivo Marcel sempre citava algum excerto de um livro da biblioteca e mais que rápido a senhora tratava de ler a obra em questão.

- Pierre de Ronsard, mademoiselle Matilde. - Marcel informou. - Em minha tradução livre.

Matilde não se deu ao trabalho de justificar sua saída, apenas caminhou a passos ligeiros sobre a verde e macia grama que havia em frente a casa.

Émile soltou um gritinho para que o tio o pegasse no colo e finalmente Marcel atendeu ao sobrinho, que soltou uma risadinha quando o homem o balançou no ar.

- Émile tem péssimo gosto para colos. - Clementine implicou.

- Votre enfant* sabe onde encontrar diversão. - Marcel passou a ponta do indicador no nariz de Émile, que estava sentado em seu antebraço. - Talvez eu deva ensiná-lo a cavalgar.

Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora