— Não posso acreditar que está de partida. — Clementine segurava as mãos de Ofélia entre as suas.
Havia uma semana que Ofélia estava hospedada na fazenda Flor Bonita, esse fora o principal motivo de Clementine adiar sua mudança de vez. Assim que Ofélia partisse, a senhora Desfleus Carvalho definitivamente se mudaria para Basto Mato, mas continuaria a trabalhar normalmente.
Ícaro se via tão feliz que só andava de bom humor, mesmo quando discutia com a esposa.
Bárbara suspirava pelos cantos, reclamando por ver a casa, antes tão cheia, se esvaziar outra vez. Possidônio era tratado com medicina dos empregados da fazenda. Não morrera, mas perdera o outro braço que fora cortado na altura do ombro e certamente ficaria coxo, como a filha. Curava-se a duras penas e com muita dor, sempre delirando sobre o filho varão. Ofélia o levaria consigo para que os marqueses de Diamantais pudessem devolvê-lo à prisão da qual fugira.
Além de Bárbara, outra pessoa suspirava pelos cantos, antes de alegria, mas naquele presente momento da despedida suspirava de tristeza. Marcel estava soturno. Em todos aqueles dias de estadia de Ofélia, apesar dos incentivos da irmã e do cunhado, o homem não conseguira se confessar. Mostrou-se tão atipicamente tímido, como um garoto, que todos o estranhavam. Logo ele, sempre tão galante.
Tinha a expressão pesada enquanto Ofélia e Clementine se despediam.
— Leve estas cartas para os Diamantais, por favor. — Clementine confiou um maço de cartas à exuberante, porém maltratada pela vida, Ofélia. Ninguém tivera coragem de perguntar por que ela usava tapa olho. — Tenho muita saudade daquele casal, mas sei que andam equilibrando pratos na ponta de finas varas. A política do Império tem estado agitada há algum tempo.
— Mais do que imaginas, Clementine. — Ofélia concordou. — Temos muitas forças querendo seu quinhão e nenhuma pensando em quem realmente importa. O número de abolicionistas cresce dia após dia, mas Sorte e Azarado ainda não podem anunciar que apóiam a causa sem que tenham perdas significativas em seu patrimônio.
— É verdade que patrocinam seu "trabalho"? — Clementine sussurrou a pergunta.
— Sim, mas não sabem. É anônimo. Eles doam a um fundo e ele é repassado. — Ofélia explicou brevemente.
Não era bom dar detalhes demais do que fazia, principalmente perto de outras pessoas.
— E tu, Ofélia? Em todos esses dias não perguntei de seu patrimônio. — Clementine estava curiosa.
— Passo algum tempo na corte e não tiro muita parte dele para a causa, pois poderia levantar suspeitas. Todavia eles me odeiam por lá, apenas aturam porque minha teia de relações é respeitável. — Ofélia apoiou-se na bengala que sempre levava consigo quando não estava em missões. — Quando desapareço é um alívio para todos.
Ofélia riu. E Marcel suspirou chamando a atenção de Ícaro que tinha no colo o enteado.
Émile brincava com o cabelo do homem, que estava grande. Já aprendia a chamá-lo de pai.
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Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]
Ficción histórica[Romance] Dizem que sorte é quando a oportunidade encontra o preparo. A marquesa de Diamantais ofereceu para senhorita Desfleurs a oportunidade de esconder-se em uma de suas propriedades mais suntuosas. Sem melhores opções, a desesperada grávida ace...