Em uma região da África Ocidental, conhecida como Costa da Mina, residiam muitas etnias com suas culturas. Como em todo lugar onde há um aglomerado humano, havia ali amores e rivalidades. Lutas por territórios e afirmação.
Tudo seguia o fluxo normal da vida até que um grupo de estrangeiros chegou ao local e se aproveitou de algumas situações, tornando-as predatórias e gerando uma das maiores tragédias da humanidade.
Da Costa da Mina veio, a contragosto, a maioria dos homens e mulheres que viveram escravizados no Brasil. Foram séculos de tráfego e posteriormente tráfico humano, a maior parte do tempo com o apoio da Igreja Católica que usava como justificativa a história de Cam, filho de Noé que o viu nu e foi amaldiçoado. Dotada de intenções, a Igreja discursava sua boa vontade de salvar os descendentes de Cam os tornando cristãos.
Assim que chegavam às terras dos senhores, as pessoas eram rebatizadas com nomes cristãos e tinham obrigação de seguir a religião da salvação, senão suas almas seriam perdidas para o inferno.
Entretanto, pessoas não mudam hábitos com facilidade. Pessoas não mudam de fé, com facilidade. Veladamente ou com autorização elas continuavam cultuando os deuses e seres espirituais de suas terras de origem, e assim foi com muitos dos filhos apesar de misturarem isso ao cristianismo, assim foi também com muitos dos netos.
Muito da cultura se mantinha e se mantém ainda. Apesar de... Sobretudo... Ainda que... Mantém-se. Muito foi adaptado, como tudo que atravessa os tempos, mas ainda está aqui. E ainda estava lá, no casamento de Matilde e Justino.
A maioria das pessoas pretas usava roupas brancas de bonito corte. Alguns tinham detalhes coloridos feitos de tecidos nobres e enfeites inenarráveis. Aqueles que possuíam ouro e prata os usavam sobre as pele escuras, ornando belamente as figuras para aquela cerimônia especial.
Era tudo ao ar livre entre as ruas do jardim.
Debaixo de um caramanchão fora colocada a mesa sobre a qual forraram uma toalha branca para servir de altar. E sobre ela havia flores e coisas que Clementine não conhecia mesmo depois de lhe explicarem tudo em detalhes. Era muita riqueza cultural, do tipo que não se pode aprender em duas horas de conversa.
Boa parte das mulheres usava tecidos trançados e enrolados das mais belas maneiras sobre as cabeças. Chamavam aquele enfeite de turbante.
Muitas músicas de ritmo, melodia e letras intensas eram cantadas em sequência e pareciam gerar energia naqueles que estavam envolvidos por elas. Clementine mal conseguia manter o quadril parado, sempre que se atentava estava balançando no ritmo do som tirado de uma dezena de tambores.
Houve silêncio absoluto quando anunciaram a chegada da noiva, porém em seguida a música recomeçou, acompanhando a marcha da belíssima Matilde. Era impressionante o quão rápido as mulheres conseguiram costurar aquele vestido suntuoso digno de uma princesa. Completamente dourado, de caimento tão perfeito que fez parecer a cada passo que Matilde vestia uma cascata de ouro. Nos braços, orelhas, mãos e pescoço a mulher trazia uma quantidade incontável de peças de ouro e prata genuínos, comprados com o dinheiro que recebera ao longo dos anos de dedicação exclusiva aos Olivares.
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Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]
Historical Fiction[Romance] Dizem que sorte é quando a oportunidade encontra o preparo. A marquesa de Diamantais ofereceu para senhorita Desfleurs a oportunidade de esconder-se em uma de suas propriedades mais suntuosas. Sem melhores opções, a desesperada grávida ace...