Clementine acordou sentindo o corpo inteiramente dolorido. A seu lado esquerdo, sentada em uma cadeira estava Matilde, com expressão preocupada, e do outro lado viu Marcel vestido apenas com calça. Parecia que acabara de sair do banho, os cabelos do irmão estavam ainda úmidos. Ele sentou no colchão e pegou a mão dela.
— Como se sente? — Questionou com olhar terno.
Clementine buscou as últimas lembranças e ficou perdida entre o que era real ou não. Já passara por aquilo antes, sabia bem o que acontecera.
— Imbecil. — A mulher respondeu passando a mão sobre a própria barriga e percebeu que estava vestida de camisola. — Fazia tanto tempo que não acontecia, simplesmente perdi o controle.
Marcel a abraçou.
— Não fale assim, Clementine. Você apenas estava vivendo como qualquer outro ser humano. — Consolou-a enquanto ela deitava a cabeça sobre o ombro dele e suspirava.
— Não tenho pretensão de me intrometer em sua vida, menina... — Matilde começou reticente. — Mas o que aconteceu?
Clementine se sentia cansada e não queria responder perguntas difíceis, mas Matilde era sempre tão gentil, amiga e solícita, que a francesa resolveu explicar parcialmente. Ainda com a cabeça deitada sobre o ombro de Marcel, ela começou a falar.
— Desde menina tenho algum problema com desorganização fora do normal, principalmente em quartos de dormir. Sei que todos os dias a cozinha fica a pino enquanto preparam as refeições, no entanto é natural e não me sinto mal. Assim também com as salas e até mesmo com a desorganização do trabalho no campo, apesar de não me agradar. — Explicou.
— Isso deve ser coisa do capiroto. — Matilde comentou enquanto fazia sinal da cruz.
Clementine riu da inocência de Matilde. Aquilo não era coisa sobrenatural, mas uma consequência irracional da maldade do ser humano.
Ela se separou do abraço quente e aconchegante do irmão e o observou por dois segundos. Nunca se arrependeu de nenhum dos sacrifícios que fizera para sustentar a ambos, Marcel cresceu e se tornou um pilar forte. Ele não entendia aquelas crises, mas sempre fazia o que estava ao alcance para ajudá-la.
Marcel olhava para ela com seriedade fora do comum. Certamente ficara muito preocupado.
— Não acontecerá novamente. — Ele confortou. — Tratei de resolver a questão.
Matilde olhou para o chão e depois para o teto. Clementine ficou em dúvida se perguntava ou não o que acontecera. Escolheu não perguntar, mas a interrogação estava na cara.
A senhora se levantou e depois disse:
— Só conto que essas paredes nunca viram homem mais bravo. — Ela olhou para Marcel. — O que você tem de gentil, tem de assustador, filho.
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Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]
Historical Fiction[Romance] Dizem que sorte é quando a oportunidade encontra o preparo. A marquesa de Diamantais ofereceu para senhorita Desfleurs a oportunidade de esconder-se em uma de suas propriedades mais suntuosas. Sem melhores opções, a desesperada grávida ace...