Orgulho

65 12 85
                                    

— Mon Dieu, Paulínio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Mon Dieu, Paulínio... — Clementine estava embasbacada com aquela notícia. — Tudo?

— Tudo, dona. Até a filha que estava em casa dormindo. — O homem complementou com o fato dramático.

Clementine só não colocou a mão sobre a boca porque estava suja, mas seu queixo caíra diante da informação sobre tamanha barbaridade. O homem perdera tudo na jogatina, até a honra.

— O povo certamente aumentou a notícia, você sabe como algumas línguas são engenhosas para o mal. — Clementine se recusava a acreditar em tamanho desleixo com a própria vida.

— É não, dona. Foi o Tenório quem viu e a senhora sabe que ele é muito honesto. — Paulínio pontuou com olhar orgulhoso de quem se fiava verdadeiramente na palavra do amigo.

Sim, ela sabia. Tenório nunca mentia e isso volta e meia o metia em confusões.

— Ele estava lá... Na casa das putas. Disse que José Tibúrcio puxou a arma, mas o outro homem era mais rápido. Quem deu jeito no conflito foi o próprio Presidente da Província, que está na região para ver com os próprios olhos como está a situação daqui. — Paulínio mexericou. Clementine se pôs muito espantada, a maior autoridade da província resolvendo um conflito de jogatina não era algo comum. — E no fim das contas ele disse que o outro ganhou de forma honesta, por isso José Tibúrcio devia entregar a escritura. O homem falou que não queria a filha do velho cachaceiro, nem se fosse bonita, porque Deus o livrasse de ter um sogro daqueles.

— Pobre moça, está abandonada no mundo, o pai é do tipo de gente que mais me embrulha o estômago. — Clementine expressou o que sentia de forma que deixava clara sua intenção de finalizar aquele assunto. O fato é que, mesmo que tivesse pena da rapariga sem eira nem beira, não havia o que fazer. — Vá, Paulínio. Faça o que pedi.

O homem saiu sem dizer mais palavra diante da ordem direta. Clementine se arrependeu um pouco de sua brusquidão, mas Paulínio já estava demasiado distante no lombo de seu cavalo. Sozinha com os próprios pensamentos, a mulher terminou de aplicar o remédio na ferida do animal e depois a enfaixou.

Tratou de assear bem as mãos antes de voltar para casa. Andou a passos largos até a residência e estranhou não ver sinal de vida pelo caminho. A barriga roncou em reclame por uma refeição que não fora consumida desde que Clementine acordara, por isso foi direto para a cozinha.

Grande foi a surpresa quando entrou no cômodo, pois Bárbara, a gerente da propriedade, conversava com uma moça chorosa. Era branca, mas tinha a pele queimada do sol, cabelos negros presos em uma trança desgrenhada e corpo ossudo de quem é a muito tempo atormentada por fome e tristeza. A jovem fitou Clementine com olhos suplicantes, mas foi Bá quem fez o apelo.

— É a filha do velho Zé Tibúrcio. Por favor, deixe-a ficar aqui. Garanto que ela irá trabalhar. — A velha disse com segurança enquanto a moça apenas balançava a cabeça em afirmativa concordância.

Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora