Clair de Lune

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Na varanda da sala das senhoras, com Émile dormindo em seu colo, Clementine suspirava

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Na varanda da sala das senhoras, com Émile dormindo em seu colo, Clementine suspirava. Era lua cheia, do tipo que emana luz de cor laranja e quase faz a noite parecer dia. De onde a francesa estava, conseguia ver tudo lá embaixo, em detalhes.

As mulheres tagarelavam coisas sem importância para si. Casamento? Por que eram tão obcecadas com isso? Sim, ela mesma já teve obsessão com um casamento que lhe desse poder, mas tudo mudou quando se viu grávida de Émile. Desistiu de todos os delírios de poder sem importância e focou em construir uma vida estável para que o filho tivesse o que ela mesma nunca teve: um lar.

As memórias passadas da mulher retornaram com força total. Perguntava-se até que ponto da vida que teve contaria ao filho. Tudo? Seria capaz de contar do abuso, da prostituição, dos roubos e da maneira como mendigou a vida ano após ano? Hora após hora? Um amontoado de sofrimentos que nunca cicatrizavam.

Tudo bem, ela aprendera a usar o inimigo a seu favor. O sofrimento se tornou um aliado em sua jornada porque entendeu que da mesma maneira que doía em si, também doía em outros. Porém não queria o filho envolvido com nada disso, era o passado e já não importava mais.

— E a senhorita Clementine, não pensa em casar? — Maria da Moita falou de dentro da sala e sua voz de dobradiça enferrujada fez com que Clementine despertasse da breve reflexão.

— "Nón". — Clementine virou o corpo para dentro enquanto ainda embalava o filho adormecido. — Não tenho intenção de me casar, madame.

Algumas das mulheres fizeram expressões horrorizadas, o que não era novidade para Clementine. Aquele assunto já se repetira mil vezes. Ela dizia que o pai de Émile tinha morrido antes de se casarem e o que restara de tal destino fora o filho.

— Como não? Um marido é essencial para nós, senhorita Clementine! Não sei se poderei viver sem um marido. — Disse uma mocinha que nada sabia da vida, exceto aquilo que lhe tinham dito.

— Quem poderia administrar nossos bens se não os homens? — Opinou Ana Luziana.

Clementine não sabia muito sobre ela, mas a recém parida não tinha mais que vinte anos.

— Nós mesmas podemos administrar. — Clementine contrapôs sem muita energia. — Tudo é "questón" de aprendizado. Oui?

— Talvez a senhorita já esteja acostumada com essa vida estranha uma vez que foi desafortunada. — Senhora Torquato opinou.

Clementine queria revirar os olhos, mas não podia.

— A marquesa de Diamantais que teve sorte, não é mesmo senhorita Desfleurs? — Disse a mocinha que de nada sabia. — Um homem belo, rico e competente.

— A marquise de fato teve sorte por encontrar um marido que a ama. — Clementine retrucou. — Entretanto ela mesma administra a própria fortuna.

Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora