Novas cicatrizes

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As próximas semanas passaram voando

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As próximas semanas passaram voando. Nos primeiros dias Clementine só sabia amaldiçoar mentalmente. Ícaro e sua falta de postura a irritavam profundamente e faziam com que se lembrasse de tempos passados, quando, se preciso fosse, domava homens com a força do chicote.

Em certo ponto pensou que estava sendo muito radical e dava importância demais para alguém que ela veria muito pouco. Daí em diante tratou de esquecer.

Não tinha costume receber visitas, por isso ficou surpresa quando em uma das tardes quentes que fazia por aqueles dias, Maria da Moita apareceu para fazer um convite. Todas as propriedades eram muito distantes dali, por isso era mais comum que as pessoas se deslocassem em ocasiões especiais, e o que motivara a jovem senhora a ir até Flor Bonita foi o batizado do primeiro neto. A filha de Maria da Moita, Ana Luziana, era ainda muito jovem, mesmo assim a casaram com um tal velho Augusto. O homem tinha seus quase setenta anos e Clementine não aprovava aquela união, mas diziam que Ana Luziana era feliz. E ela cria nisso, pois a mocinha estava sempre radiante e o marido atendia suas vontades.

Dos males, o menor. Certo? Bem, não tinha o que fazer.

A francesa não sentia vontade de ir ao batizado, mas acabou aceitando. Clementine era como uma representante de Sorte, portanto, cabia a ela manter as relações de diplomacia com os demais da região.

Dois dias antes do batizado Clementine Desfleus rumou para a fazenda de Maria da Moita, onde havia uma capela. Os anfitriões preferiram hospedar as pessoas porque o batizado seria realizado pela manhã e era mais difícil que as pessoas viajassem somente para o evento.

Da fazenda Flor Bonita foram Clementine, Marcel, Maria Belinha e Émile. Paulínio conduzia a carruagem que os levava.

Durante todo o caminho a francesa pensou uma sorte de coisas que ela mesma considerava inúteis, mas que pelo menos serviam para passar o tempo. Em algum momento fez profunda reflexão sobre o apelido que a anfitriã tinha. Maria da Moita. De certo que era um pouco exótico, mas todos a chamavam por tal nome com muita naturalidade. Segundo Bárbara, corria a boca miúda o boato de que a mulher tinha bastos pêlos em suas regiões íntimas e nas axilas. Entretanto essa não era a única teoria. Maria Felisiana, que trabalhava na cozinha da Flor Bonita, soube de alguém que, na verdade Maria era adotada e tinha tal apelido por ter sido encontrada em uma moita de capim. Havia até mesmo uma versão sombria que narrava assassinatos de animais e enterros em túmulos marcados por moitas.

Quando percebeu que refletia sobre isso, Clementine deu um suspiro profundo. Já começava a se enfastiar de ficar presa naquele carro apertado de assentos duros. A própria bunda já formigava dormente. Evitava usar a carruagem de Sorte porque a manutenção era complicada e ela ocupava muito espaço.

— Tens expressão muito azeda, amiga Clementine. — Maria Belinha disse enquanto sacudia Émile sobre os joelhos.

— Ela não gosta da sensação de estar presa. — Marcel replicou antes mesmo que Clementine abrisse a boca.

Tesouro de Clementine (Donas do Império - Livro 2) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora