Capítulo IV

5 1 0
                                    

Ana voltou a sair no dia seguinte para junto do rio, logo de madrugada sob um céu cinzento, para se deleitar com a energia natural, sentindo os odores adocicados provindos da vegetação, inalando a frescura húmida que a envolvia, observando as gotas de orvalho e uma ligeira névoa pairando em algumas áreas mais planas da margem.

O fluir da forte corrente do rio quase a impedia de ouvir os pássaros, no seu despertar matinal, porém conseguiu descortinar um restolhar intenso na vegetação do seu lado direito.

Era Vodka que a cumprimentava feliz e que logo se afadigou em duas ações simultâneas, aninhou-se para soltar urina e absorveu, ao mesmo tempo, pelas narinas os perfumes que a rodeavam, esticando o pescoço para o solo à sua frente.

Vodka, linda! Tu realmente não perdes tempo!

Por entre a vegetação emergiu o pai do dono da cadela, que comentou:

− Estão a ser um hábito estes nossos encontros! Bom dia!

É verdade! Bom dia!

Após uma pausa, na qual ambos, rindo, observavam a cadela que acabara de cheirar um arbusto e começara a espirrar insistentemente, a jovem ouviu:

Está de passagem, ou comprou aqui casa perto?

Ana ficou surpresa com o à vontade da pergunta inesperada, porém respondeu confiante:

Estou a passar o fim-de-semana em casa da minha irmã. É aquela casa ali. – Apontou para o cimo da encosta onde a atraente vivenda de pedra, com o amplo terraço assente sobre duas colunas altas, se impunha sobranceira à encosta.

Ah! Sim... é uma construção recente. Não vivem cá. Só vêm por temporadas, não é?

− Exato. E onde vive a Vodka? – perguntou para fazer conversa.

Vivemos ali. Sempre em frente. No moinho – apontou para um carreirinho, mais abaixo, mesmo paralelo ao rio, que mal se vislumbrava por entre a vegetação densa.

Não tinha reparado no trilho. Aliás nem sei ir para lá.

É por aqui. Quer vir?

Não sei...

− Ah! Bom.... Compreendo. Não nos conhecemos. Se quiser fazer-nos uma visita ... acompanhada pelos seus familiares, mais logo, serão todos muito bem recebidos. Gosta de mel?

Adoro!

Então venha e traga um frasco grande para eu lhe dar algum. Sou apicultor. Vou só mostrar-lhe como chegar ao trilho. Está de acordo?

Indicou-lhe o acesso, camuflado por grandes fetos e separaram-se, com Vodka a voltar atrás para lhe dar uma última lambedela "babosa" na mão.

Um pouco distante, o homem comentou em voz alta para que a jovem o conseguisse ouvir:

Ela gosta de si!

Eu também gosto dela! – gritou de volta, sorrindo.

Quando Ana comentou com Dalila e os seus convidados sobre o convite do vizinho apicultor, todos quiseram aderir ao passeio, para fazer um pouco de exercício e ganhar apetite para o almoço, embora começasse a cair uma leve morrinha.

Após uns dez minutos percorrendo o trilho, o grupo deparou-se com uma casa grande, em pedra, que acolhia a azenha situada na parte da construção que tocava as águas do rio.

Um grande pátio, em lajes rústicas de granito, inserido no lado oposto à roda do moinho, acolheu os visitantes.

Vasos luxuriantes de todas as cores e feitios, aproveitados de latas, bidões e outros contentores, avistavam-se espalhados por todo o lado, estando uns suspensos, outros pousados sobre uma enorme tábua de madeira carcomida apoiada em cima de três grandes pipos velhos e ainda mais uns quantos permaneciam no solo. Continham, em geral, plantas aromáticas.

ESPUMA DO MAROnde histórias criam vida. Descubra agora