Capítulo XII

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O verão e o outono passaram, sem que Filipe tivesse voltado a visitá-los. Todavia, mantinha um contacto assíduo com o pai e a "madrastazinha" termo que começou a adotar por brincadeira quando se dirigia a Ana conforme prometera. A nova mamã enviava-lhe pelo telemóvel imensas fotos da pequena Teresa, cada vez mais linda e comunicativa, desenvolvendo-se saudável e alegre entre os diversos avós e tios – não só os verdadeiros, mas igualmente os "postiços" entre o grupo de amigos – especialmente Isabel e Victor que eram os que mais afinidade fruíam com os pais da bebé.

Ana ensinara Vodka a ter cuidado com a filha e permitia que esta se aproximasse quando punha uma manta no chão cheia de brinquedos para a menina aprender a movimentar-se de gatas. Inexplicavelmente, Teresinha dava gargalhadas cristalinas sempre que a cadela se sentava junto dela e a cheirava delicadamente. A situação exigia mais atenção, quando às vezes, incentivada pelo contentamento da criança, Vodka levantava-se num salto e começava a tentar apanhar a cauda, rodopiando loucamente. A bebé ria-se perdida e Vodka cambaleava, tonta, parecendo que tinha tomado um bom copo do líquido homónimo. Os pais tinham de estar sempre atentos, não fosse a cadela cair em cima da menina, contudo não lhe ralhavam. A fêmea estava a tentar agradar ao novo "serzinho" com quem agora partilhava a sua matilha.

Os meses voaram fluidamente até à chegada do Natal.

As calorosas festas natalícias foram passadas novamente na cidade, em casa dos pais de Ana, como no ano anterior. Só que desta vez, havia mais uma pessoa bem pequenina que enchia a sala com a sua alegria natural e era o alvo de todas as atenções.

Na passagem do ano, os pais de Ana optaram por viajar com amigos durante uns dias, tal como o faziam há longos anos.

Por sua vez, Dalila e Berta e os respetivos maridos foram convidados para uma festa glamourosa, com jet-sets, tendo ficado apenas Isabel e Victor acessíveis para fazer companhia à nova família residente no moinho, uma vez que ambos detestavam grandes festejos nesse dia. Rejeitaram todos os convites que receberam, preferindo passar tranquilamente no campo, com as pessoas que mais gostavam.

Dalila pôs de imediato a casa à disposição dos casal para as dormidas, dado que o moinho tinha apenas dois quartos, tendo a cama do quarto de hóspedes a medida de apenas corpo e meio e, além disso, Victor possuía um dormir irrequieto. Isabel só conseguia descansar verdadeiramente em camas separadas.

No último dia do ano, logo de manhã, Rubelo, pediu à parceira para ir atrás dele no carro dela, pois tinha de deixar o jipe no mecânico com o objetivo de mudar a bateria que, segundo informou, em qualquer momento iria falhar.

Após o almoço, Paulo embrenhou-se nos cozinhados, esmerando-se no jantar que ia oferecer aos amigos, enquanto Ana decorava a sala tornando-a especialmente luminosa e convidativa, contente por ter os carinhosos amigos junto de si e da sua família.

Um ambiente caloroso e alegre predominou, de tal forma que, só cerca das três horas da manhã do dia seguinte, Isabel e Victor entraram no carro para se dirigirem à casa de campo de Dalila, onde iriam pernoitar.

Acordaram com o toque do telemóvel de Isabel por volta das nove horas. Era Ana.

– Bom dia! – cumprimentou Isabel, atendendo-a sonolenta. – A Teresinha não vos deixou dormir mais?... Ai! Passa-se alguma coisa?... Desculpa, querida, mas não estou a entender...O Paulo não está?... Mas, já foste ver.... Sim... o quê?... Olha, por favor não chores, eu vou já para aí! Está bem? Fica dentro de casa com a menina. Eu já vou!

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