Capítulo XVII

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A primavera estava à porta.

Victor e Isabel sentiam a falta do companheiro de corrida, porém continuaram fielmente a cumprir a sua prática.

Ana decidiu não se aventurar para a casa de campo de Dalila. Nenhum dos pais, nem Teresinha voltaram lá mais. O casal anfitrião estava desolado com a determinação de Ana. Comentavam com os amigos o seu desagrado, todavia deixaram de massacrar os familiares com essa ideia.

Filipe, que, entretanto, arranjara uma namorada, andava um pouco arredio dos encontros do grupo, porém não perdia as visitas a Goku, aos sábados de manhã, onde se encontrava com Ana e Teresinha. A brincalhona e meiga Madalena, a sua nova companheira, acompanhava-o a casa do seu senhorio, quando passava as noites de sexta com o jovem, para conhecer e confraternizar com ambas, a mãe e a encantadora irmãzinha do seu querido.

Ana sentia a falta de Marco e, a própria filha quando chegava a casa de Goku perguntava sempre:

– O Maco?

Quando o tempo começou a aquecer, Izô, a jovem e Teresinha vinham para uma mesa improvisada sobre a relva do jardim das traseiras, contíguo ao do da casa de Filipe, para cuidar dos bonsais. Ana olhava constantemente para a marquise de Marco, na esperança de o ver, porém em vão.

Numa tarde amena e ensolarada, em pleno mês de março, Tété brincava com os avós no jardim, enquanto a mãe tinha ido ao veterinário vacinar a cadela.

Por uns escassos minutos, a criança ficou a cargo do avô, o qual lia interessado o jornal.

Teresinha viu um movimento de algo colorido no meio dos arbustos que davam para a rua, mais afastados da cadeira do seu vigilante. Correu para lá, curiosa, e deparou-se com uma linda boneca de pano a mexer-se. Pegou nela e ficou a olhar para a grande mão vazia de alguém, dizendo-lhe adeus, por entre o emaranhado da vegetação. Com a mãozita, acenou também para a mão, sem reparar no rosto do homem que espreitava por cima do muro, por entre a folhagem verde. A menina, provavelmente achara que só existiria aquela mão, sem corpo, mas que era muito sua amiga.

O avô, tomando consciência de que a menina não se encontrava ao lado dele, olhou atento à volta, viu-a a brincar lá ao fundo junto dos arbustos. Chamou-a e continuou a ler.

Vendo a mão desaparecer de repente, Teresinha voltou prontamente para junto dele, guardando a boneca na caixa de brinquedos no meio dos outros bonecos. Montou no triciclo, iniciando uma marcha em camara lenta sobre a fofa gramínea e prosseguiu com as brincadeiras.

À noite, quando foi para a cama lembrou-se de levar a nova boneca consigo.

A mãe reparou no brinquedo desconhecido e perguntou-lhe:

– Que linda boneca! Quem ta deu?

Teresinha gaguejou um pouco, tentando encontrar a palavra certa. Já se exprimia razoavelmente.

– A... a... Mão.

– Amão?

– Xim. A Mão.

– Veio cá alguém visitar-te?

– Xim. A Mão.

Ana intrigada, insistiu.

– A vó estava contigo?

– Não. O Vô.

– Ah! Está bem.... Pronto. Agora vamos dormir.

No dia seguinte, Ana lembrou-se de perguntar aos pais quem seria a visita que teriam recebido e que presenteara a boneca à neta.

Fitaram-na admirados. Ninguém tinha vindo, nem eles tinham saído.

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