Capítulo VII

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− Berta! Estão enroladíssimos!

Comunicou Dalila pelo telemóvel, sentada no confortável sofá da sala de estar da sua casa citadina, ansiosa por dar a notícia sobre o namoro da irmã.

− Palavra? Quem diria! A Ana estava tão renitente!

− O fulano deu-lhe a volta com uma pinta! É claro que eu também a incentivei. Ele parece-me um tipo correto. Não achas?

− Bastante simpático, realmente... Como a Ana está-se nas tintas para fulanos com dinheiro... Até pelo contrário, esse fator é impeditivo, segundo constatei, não é?

− É mesmo! Continua com aquelas manias de hippie.

− Como ele está na mesma onda, penso que irá acertar desta vez.

− Espero que desta vez resulte. O Paulo é muito mais maduro do que todos os outros namorados anteriores. Talvez seja exatamente isto o que a minha irmã precisa de ter agora!

− Ainda estão lá na tua casa de campo?

− Não. Estão na dele. A Ana veio uns dias para cá porque tinha de acabar um serviço no grupo dos restauradores e voltou, logo que pode, para junto dele. Conseguiu levar umas peças para restaurar, para ficar livre de ir ao atelier por uns tempos, por isso vai poder estar com o Paulo toda a semana que vem. A propósito, vocês querem lá aparecer este fim-de-semana? Vamos no sábado depois do almoço, porque o Francisco tem um compromisso de manhã.

− Gostava muito de ir... Penso que estamos livres. Depois confirmo-te.

− Combinado.

Na casa de Rubelo o casal aninhava-se nos braços um do outro, ao fim da tarde, sentados sobre um tronco caído junto da margem do rio, observando a animada Vodka farejando aqui e ali.

A dada altura, a cadela estacou com as orelhas em posição de escuta e levantou uma pata, olhando fixamente um ponto na outra margem. Paulo levantou-se, foi ter com Vodka e ficou a olhar para o local que lhe parecia ser o alvo de concentração da fiel amiga. Teve o cuidado de ficar camuflado por detrás dos arbustos.

− Há algum problema? – indagou Ana colocando as mãos no tronco para se levantar também.

− Não, não! Deixa-te estar aí...

− Mas afinal o que está a acontecer? – perguntou, obedecendo ao permanecer sentada.

− Hã...? Nada querida. Estou apenas curioso em saber o que ela está a ver. – respondeu enigmaticamente Rubelo sem se voltar para a parceira, continuando a fitar a outra margem.

− Com estes arbustos não conseguimos ver nada. Se formos mais para ali, para a direita, está mais desanuviado...

− Não! Deixa-te estar! Não te incomodes...

Baralhada com o ar intrigado do namorado e, sobretudo, pela insistência dele em não querer que ela saísse do lugar, a companheira ficou calada e atenta ao desenrolar dos movimentos dele e do seu canídeo.

Vodka olhou rapidamente para Paulo quando este se lhe dirigiu:

− O que é Vodka? Busca! Busca, linda!

A ordem recebida para procurar uma hipotética presa incentivou a cadela a comunicar com o dono, soltando uma rosnadela quase inaudível, porém, de imediato voltou o focinho na direção do ponto de observação, fazendo balançar as orelhas com o lesto voltar de cabeça, fitando de novo, hirta, algo ao longe por entre a folhagem. Manteve-se mais alguns minutos como uma estátua com Paulo e Ana, quietos, presenciando a sua atitude.

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