Capítulo XIX (final)

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As duas semanas seguintes, revestiram-se de uma forte determinação em recuperar e esquecer o drama vivido, por parte de todos os vitimados.

Teresinha foi entrevistada, em várias sessões, por um psicólogo, o qual sossegou a mãe, informando que a menina tinha grandes chances de superar o trauma do trágico incidente, devido não só a ser muito jovem, mas sobretudo porque o seu perfil psicológico era iluminado por uma alegria genuína e constante.

Ana e Marco foram tratados das lesões sofridas, que iriam levar algum tempo a sarar, contudo sem deixarem grandes mazelas, segundo informaram os técnicos de saúde.

Entretanto, os pais de Ana, depois de lhes ter passado o ressentimento de não terem sido avisados logo do que acontecera Ana esperou que retornassem, dois dias depois, para os colocar ao corrente insistiram em oferecer a Goku um jantar em família, apenas com a presença de Marco e de Filipe, para que o idoso se sentisse em casa.

Durante a refeição, a mãe de Ana propôs um brinde de agradecimento por estarem todos ilesos.

A neta também entrou na comemoração com uma canequinha de plástico cheia de leite.

Os copos elevaram-se e tocaram-se.

Ana, bateu, com mais força do que deveria, no copo de Goku e desculpou-se:

– Eu e as minhas trapalhices...

– Está a seguir a tradição de algumas culturas, onde partem os copos, atirando-os ao chão – retorquiu o idoso, rindo-se.

Filipe adiantou-se animado:

– É verdade! Na Rússia eles fazem isso com Vo...dka...

Esmoreceu, mal deu conta de que ia pronunciar um nome que todos evitavam proferir. Olhou para Teresinha e verificou, mais descansado, que esta não tinha percebido o que dissera, tão afoita estava em comer.

Ana, solidária com a espontaneidade do seu enteado, interrompeu o ambiente constrangedor:

– Lembraste bem, Filipe. Façamos outro brinde à valente, fiel e para sempre amiga! Neste momento, a correr no meio dos anjos!

Emudeceu, e os presentes, com olhos húmidos, tocaram entre si os seus copos para homenagear a companheira de quatro patas que friamente tinha sido eliminada pelo assassino profissional.

Vodka continuara sempre leal ao antigo dono. Não o atacara. O facto de ladrar ao senti-lo presente era somente com a intenção de lhe dar as boas vindas. Ao permitir que Rubelo a tocasse com falsos afagos, possibilitou que este facilmente lhe torcesse e quebrasse o pescoço.

Instaurou-se um silêncio de saudade.

Procurando desanuviar o ambiente, o pai de Ana, comentou em tom jocoso:

– Por falar em estilhaços, o "dito cujo" partiu duas vezes o vidro da minha porta da cozinha. A empresa que me coloca o vidro já começa a considerar-me como cliente especial.

Marco, redarguiu numa atitude positiva:

– Da segunda vez, o fulano até nos fez um favor. Caso contrário, Goku não teria conseguido entrar tão facilmente e chegar no momento certo... nem eu.

Ana indagou a Izô:

– Tenho curiosidade com uma coisa Goku... Como conseguiu chegar tão depressa aqui?

– Foi com a ajuda da intrépida, solícita e nossa vizinha, a Esmeralda, a qual meteu o pé a fundo, quando lhe disse que a vossa casa estava a ser assaltada. O problema é que a senhora não queria deixar-me sair do carro...

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