Capítulo VI

2 1 0
                                    


O telemóvel da pintora tocou cedo, mal esta saiu do chuveiro. Era a irmã.

− Ana? Olha, querida, necessito de um favor teu! O Paulo Rubelo ligou agora para o Francisco a dizer que a portada da janela da cozinha mostra vestígios de arrombamento...

− Oh! Foram assaltados?

− Parece que ainda não, mas a portada está solta nos gonzos e há estragos feitos por uma daquelas ferramentas de arrombamento, sabes...?

− Sei... também não me lembro do nome... E agora?

− O Rubelo aconselhou-nos ir lá imediatamente. Diz que a compõe e que até coloca um ferro no interior para ficar mais resistente. Não sei lá como é... O Francisco está a viajar e eu precisava da tua companhia.... Sabes que eu não gosto de conduzir...

− É para lá ficarmos?

− Sim.... Parece que o arranjo demorará dois dias, porque tem de soldar não sei o quê... Hoje é quinta-feira. Íamos agora no teu carro e depois o Francisco ia lá ter connosco no domingo. Se quiseres, podes voltar no sábado ou no domingo de manhã... Nós pagamos-te a gasolina.

− Tenho de avisar hoje, lá, no grupo... Depois compenso na segunda e terça, trabalhando de tarde.

− Então, não há problema?

− Penso que não, desde que eu compense logo. As peças que estamos a recuperar estão previstas ficarem prontas lá para Quarta-feira.... Está bem. Deixa-me ligar-lhes e já te confirmo.

Perto das onze horas, as duas irmãs chegavam à casa de campo.

Dalila ligou a Paulo e, em dez minutos, Vodka furava a sebe que contornava a propriedade, correndo desalmadamente para as cumprimentar com uma orelha dobrada para trás com a força da deslocação do ar.

Espreitando do lado exterior a janela da cozinha, ambas verificaram que, realmente, a portada fora danificada havendo lascas de madeira no chão e as dobradiças estavam torcidas.

Abriram a porta principal, deixaram as malas no hall, foram averiguar se algum intruso teria lá estado. Estava tudo intacto, suspiraram aliviadas e voltaram para o exterior à espera do vizinho que apareceu sorrindo com passo um pouco lento, mostrando que vinha carregado. A mochila e os dois sacos escuros que trazia em cada mão deviam conter ferramentas e material.

Mal o avistou, Ana teve um leve estremecimento de receio, mas decidiu não dar força a esta incomodativa sensação, sobretudo, estando Rubelo a ser tão prestável e útil. Acolheu-o sorrindo e Dalila adiantou-se, nervosa.

− Oh! Paulo! Obrigada!

− Olá! Não se preocupe. Eu resolvo o problema. Vou fazer o mesmo nas outras portadas, por isso vou precisar de algum tempo. – respondeu o solícito vizinho, fixando os olhos em Ana que acabou por corar e acrescentou − O seu quadro ficou num lugar de honra na minha sala! Coloquei-o na parede em frente ao sofá para o poder admirar.

Dalila com uma expressão zombeteira gozava silenciosamente a cena. Tinha já algo para contar à sua confidente, a coscuvilheira Berta.

− Está-me a deixar desconfortável com os elogios, Paulo..., mas, fico muito contente por lhe ter agradado.

− Temos de conversar sobre as suas obras. Gostaria de saber mais detalhes. Bem, agora tenho trabalho a fazer! Por acaso vou precisar de mão-de-obra. Pode-me ajudar?

− Eu? Não sei se serei grande apoio, não entendo nada deste tipo de trabalho...

− Eu vou orientando-a. Se não me ajudar, vou demorar o dobro do tempo.

ESPUMA DO MAROnde histórias criam vida. Descubra agora