Capítulo XV

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Umas semanas antes, Marco fora convocado uma outra vez para se deslocar à sede, a fim de retomar o caso que tinha estado a seguir e que abandonara por ter sido instruído a deslocar-se a Marrocos.

O colega que ficara de vigia em sua substituição, pô-lo a par de tudo para que o experiente agente reconstruisse o caso à sua maneira, a fim de descobrir alguma pista. O facto é que se encontravam, novamente, na estaca zero, pois o "pássaro" tinha efetivamente fugido, sem deixar rasto, embora tivessem encetado inúmeras buscas desde o seu desaparecimento. Todavia, todas as diligências tomadas tinham sido infrutíferas.

O substituo de Marco mostrara-se nervoso durante o encontro, dado que admitia ter "metido o pé na argola" ao deixar o assassino escapulir. Foi se justificando, enquanto informava que Rubelo teria tentado eliminar a cadela de guarda na noite da fuga, para que ela não o denunciasse, segundo averiguaram mais tarde, no próprio local, mal se aperceberam do desaparecimento dele, através da escuta nos microfones distribuídos no moinho. Não puderam fazer uma pesquisa exaustiva, porque os familiares acabaram por ir salvar o animal, mas durante umas horas, antes de eles chegarem ao local, deambularam por ali, descobrindo a coleira atrás de uns arbustos, a cerca de uns cinquenta metros a seguir ao sítio onde este fora empurrado, precisamente onde as mesmas pegadas, de um único indivíduo, que vinham do moinho terminavam, mostrando que o assassino optara por se desviar do trilho e entrara pela densa mata dentro. A equipe em campo verificou mais tarde, quando visitara o moinho, já vazio dos inquilinos, que as pegadas demonstravam ser todas da mesma fonte e correspondiam às que estavam também espalhadas junto dos cortiços e na horta, onde, durante a vigia, nunca viram mais ninguém a não ser Rubelo. Para além disso, afirmara que o sujeito escolhera possivelmente aquela altura para escapar, por ser lua nova e noite da passagem do ano. Tinha dado, tranquilamente, um jantar aos amigos como manobra de diversão e, ele próprio, o responsável pela equipe de vigilância, afrouxara a vigia, pois nunca esperara que o fulano partisse assim, abandonando a filha bebé e a companheira, a quem parecia notoriamente estar muito ligado.

– Limparam os micros todos?

– Sim, claro! Não deixamos vestígios nossos lá. O micro que puseste na bolsa da gaja, não foi muito boa ideia... acho eu...– afirmou a medo, contente por o outro também ter falhado.

Vendo que Marco apenas elevara as sobrancelhas, conservando-se calado, prosseguiu:

– Uns dias depois de o teres posto na bolsa dela, o micro caiu no chão e ficou debaixo do sofá até à partida de Rubelo. Felizmente, o gajo não o detetou, julgamos nós, visto continuar com a mesma rotina, durante meses. O dispositivo apenas foi visto pelo filho no último dia que lá esteve para levar algumas coisas do pai. Deixou de funcionar a partir daí. Será que ele percebeu o que era realmente? Deitou-o fora simplesmente? Não podemos descurar estes pormenores, porque não sabemos se o fulano mantém contacto com o pai. Ah! Outra coisa. Fomos ver os armários do moinho. Na parte de cima do guarda-vestidos do tipo, por detrás de uns cobertores, encontramos um saco de viagem pequeno cheio de roupa limpa e objetos de higiene, mais um par de botas de montanha usados, dentro de um saco plástico. Lembrei-me de ver as solas e pareciam corresponder ao mesmo formato das pegadas impressas na terra. Tinha mais outro par, usado, no armário... Elas são bastante volumosas... Por que teria vários pares de botas de montanha idênticos?

– Não sei.... Suspeito que alguma coisa o fez sair com urgência ou a saída de casa não decorreu como planeado. Talvez tivesse tido receio de que a cadela, ao fazer barulho, pudesse acordar a namorada. Foi por isso que decidiu eliminá-la...?... Se se lembrarem de mais algum detalhe, avisem-me de imediato. Pode ser importante.

– Combinado.

Após o contacto que tivera com Ana na festa e, mais tarde, com a prevista vinda de Filipe para morar próximo da sua casa, Marco deu a conhecer a situação aos diretores, informando que o acaso lhe trouxera uma oportunidade inesperada de poder aproximar-se dos familiares mais chegados do visado, havendo boas hipóteses de descobrir, por aí, algo sobre o seu paradeiro. Todos concordaram em que manteria a vigilância nesta área.

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