Marco foi mais uma vez chamado a comparecer na sede, para novas orientações. O caso que estava a seu cargo investigar iria levar uma pausa indefinida da sua parte, segundo o informaram. Outro colega, muito menos experiente, prosseguiria com a liderança do processo até instruções contrárias.
Há já cerca de um ano que havia sido convocado para operar naquele cenário, levando consigo uma equipe residente, enquanto o agente ia e vinha ou era orientado a intercalar a gestão daquele caso com outros de impacto inferior, noutros locais.
Como até à data, os alvos da investigação prioritária prosseguiam numa rotina passiva, sem mostrar notórias ações suspeitas e, dado que Marco era um dos agentes mais cotados na organização, os dirigentes direcionaram-no para um outro quadro também importante, deveras urgente para resolver. Teria de viajar para Marrocos e permanecer naquele país o tempo que fosse necessário.
O agente congratulou-se por ter o seu vizinho Goku Izô a cuidar da luxuriante floresta em miniatura da sua marquise, porém mostrou-se um pouco apreensivo por ir para tão longe e durante um período maior do que o habitual, sendo obrigado a deixá-lo entregue à senhora que morava em frente, vizinha comum, a coscuvilheira Esmeralda.
− A senhora não é má pessoa, Marco, pelo contrário... Eu é que sou um solitário e gosto muito do meu espaço...Não se preocupe. Relaxe... a Esmeralda cuidará muito bem de mim e eu cuidarei igualmente dos seus pequenos amores, com todo o gosto, como é habitual. Mm.... Posso dar-lhe um conselho?
− Sim, claro!
− Mantenha como meta principal a sua boa saúde psíquica: corpo, mente e espírito. Ninguém zelará por si, como bem sabe. Se não se cuidar devidamente.... Devemos viver em equilíbrio e não apenas existir. Entende?
− Sim..., mas nem sempre é possível...
− Mantenha essa intenção e a vida agenciar-se-á de acordo com essa perspetiva. Não se esqueça disso! Às vezes surgem percalços desagradáveis durante o processo. Não se atrase com eles, lamentando-se, pois eles servem para o orientar no bom caminho. Consegue compreender?
− Sim. Compreendo.... Obrigado! Vou recordar-me do seu conselho. Precisa de alguma coisa agora?
− Por acaso queria pedir-lhe um favor. Os meus inquilinos avisaram-me ontem que irão deixar a vivenda daqui a seis meses. Sabe que a renda me faz jeito..., mas não queria alugar a casa a qualquer pessoa. Principalmente, porque está geminada com esta onde habito. Se conhecer alguém de confiança que esteja interessado... prefiro esperar e ter as pessoas certas. Já estou velho para confusões.
− Vou ver o que posso fazer. Não se preocupe. Conte comigo. Até logo! – despediu-se, fechando a porta da rua atrás de si.
Marco perdera repentinamente os pais aos quinze anos, num terrível acidente de comboio e, desde essa altura, fora apoiado pela irmã, seis anos mais velha. Não possuíam outros familiares chegados. Ficaram apenas os dois, com a moradia, cuja hipoteca foi liquidada automaticamente pelo seguro, devido ao óbito dos adquirentes, mais uma boa pensão mensal proveniente de um seguro de vida que, felizmente, o pai tinha feito um ano antes de viajar e a qual os deixou desafogados durante alguns anos, até o rapaz completar a maior idade.
Embora Susana fosse generosa, possuía uma personalidade muito frenética. Fazia mil e uma coisas paralelas, estando permanentemente ocupada com namorados e inúmeros amigos que a arrastavam para todo o tipo de distrações artificiais do centro urbano onde residiam. O rapaz, inexplicavelmente sensato neste terreno fértil para se perder, optara por tomar as rédeas da sua vida imatura, prosseguindo com a sua rotina e seguindo o que o seu coração lhe ditava.
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ESPUMA DO MAR
RomansaUm grupo de pessoas vê-se envolvido numa estória de ambiguidade e de perigo iminente. Amores, desamores, novas amizades, a alacridade de uma criança e a sabedoria de um ancião dão cor ao enredo.