O CÉU E O INFERNO

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Corro para fora do porão desesperada, preciso fugir. Merda, não sei o que passou pela minha cabeça, mas com certeza eu não deveria ter feito isso. Eu estava tendo uma vida estável, paranoica, mas estável. Agora não tenho nada, nem parra onde ir e muito menos documentos, afinal todos aqui já os conhecem. Entrei em meu quarto e corri direto para a mochila de dinheiro, que estava debaixo da cama, ou deveria estar. Não tem nada, ela simplesmente sumiu.

- Procurando por isto? - Jeff disse fechando a porta com a mochila nas mãos.

- Vou ser presa se não me der isso. Vamos, tenho que fugir. - Disse indo em sua direção. Meu coração parece que vai pular pela boca.

- Você já parou para pensar em simplesmente esconder todos os corpos? Talvez devêssemos queimar.

- E como acha que não iriam me pegar?

- Eu sei o que fazer, faço isso a muito tempo. Não me diga que esqueceu de como todos seus amigos e seus pais foram para a cova?

- Não, não esqueci. Eu não confio em você.

- Vai ter que confiar. Acha que a polícia não vai te rastrear logo se continuar fugindo assim? Sua aparência com certeza mudou, mas não o suficiente para eles nunca mais saberem que é você. Uma garota parecida com uma foragida que está sempre se mudando, não é difícil de ligar os pontos. Confie em mim, sabe que não vai durar muito sem mim. Você nega sua própria natureza, não vai durar. Acha que aquele surto foi o último? Esse é só o começo, a abstinência virá logo e você vai matar de novo, e de novo, e de novo.

- Não sou uma assassina.

- Aquela ogra no porão discorda disso.

- Tudo bem, o que vamos fazer?

- De noite vamos pegar os corpos, todos eles. Precisamos limpar todo o sangue, tirar todo o cheiro de morte e carne podre que está misturado na madeira ensanguentada. Depois vamos limpar tudo que possa parecer suspeito. Preciso que você saia com as roupas dela e suma na mata. Hoje à noite, quando todos estiverem dormindo vamos arrastar os corpos até a minha caminhonete e vou esconder todos no hospital. Lembra de onde te prendi? Vamos deixar os corpos lá. Enquanto eu deixo os corpos lá, você sai disfarçada e me espere na estrada, vou buscar você. Quando voltarmos, vamos limpar o porão e o resto da casa não é nada brilhante, mas é o que temos no momento. Entendeu tudo?

- Claro. Quanto falta para anoitecer?

- Pouco menos de uma hora, mesmo assim terá que ser tarde quando fizermos isso. Não queremos que nos vejam fazendo isso, não é?

- Pare de falar comigo como se eu fosse uma criança. Vou arrumar as roupas dela e achar o máximo que puder de plásticos nessa casa para corta-los.

- Eu não disse nada sobre cortar eles.

- Não, eu disse. Pretende levar vários corpos inteiros para a sua caminhonete enquanto cheiram a carne podre, sangue e morte? Não seja idiota, até mesmo uma anta notaria o que está acontecendo, mesmo se eles estivessem cobertos. Vamos cortar todos eles em pedaços em cima de plásticos, não quero deixar o chão mais imundo do que já está, e depois vamos colocar todos os pedaços em sacos de lixo e descartar tudo no hospital.

- Não achei que seria tão cuidadosa. Achei que ainda estava em choque, ótimo, agora vamos ao trabalho. Eu vou buscar o carro e cortar os corpos, você pega as coisas dela e quando terminar vai me ajudar. Uma mão lava a outra.

Fui até o quarto dela e peguei todas as roupas, fazendo uma mala grande e deixando dentro do meu quarto, para quando tiver que fazer meu teatrinho fingindo ser ela. Desci até o porão e espalhei o plástico junto de Jeff e ele me entregou um machado, estamos com dois aventais de plástico e com máscaras de hospital. Começamos a cortar os corpos das crianças primeiro, arrancamos os membros e depois picamos. Imaginei que estaria enjoada, com repulsa de tudo isso, mas para minha própria surpresa estou gostando. Não paro de sorrir por debaixo da máscara e meu coração parece que vai explodir de felicidade. Não sei no que ele me transformou, talvez eu tenha virado um monstro sem coração e uma mulher que é apaixonada pelo próprio sequestrador. Lembro do meu nome, mas essa é uma das poucas coisas que lembro de mim mesma antes de ele me sequestrar, lembro da morte de Lucas, dos meus pais serem frios comigo, de Jeff matando todos naquela noite e apenas isso. Não lembro mais para que serviam os remédios, não me lembro de como era a escola, minha idade, meus amigos, meus antigos hobbies, não lembro de nada disso. Não sei direito quem eu era antes dele, mas sei que agora eu estou me transformando aos poucos em um monstro, tão cruel e sádica como ele. Eu não acredito que estou caindo em sua teia de novo, não acredito que estou me apaixonando por seu olhar, pelas suas palavras, pelo seu sorriso monstruoso e por suas cicatrizes. Talvez eu esteja jogando minha segunda chance no lixo, mas não tenho como fugir dele, Jeff irá me seguir até o último dia de nossas vidas. Terminamos de ensacar os corpos e colocamos na caminhonete, Jeff saiu com a caminhonete e cinco minutos depois eu comecei a me arrumar, coloquei algumas roupas por baixo e um sapato mais alto para me parecer com ela. Coloquei suas roupas, peguei a mala e saí de casa, fazendo questão de passar de cabeça baixa pelos estabelecimentos que tinham câmeras para registrar que ela tinha ido embora. Já são 23:40 quando saio da cidade, caminho alguns quilômetros até ficar distante, me escondo na mata alta e troco de roupas, ficando só com as minhas. Pego um tubo de álcool e coloco todas as roupas dela em um latão de lixo. Coloco fogo nas roupas e tiro o chapéu dela que estava usando, jogando no fogo. Pego sua mala e encho de pedras, jogando no fundo do lago. Espero por Jeff na estrada e depois de meia hora ele aparece, entro no carro e dirigimos para casa.

Dance With Devil -Jeff The killerOnde histórias criam vida. Descubra agora