INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA

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Uma semana passou, começamos a listar os hospitais psiquiátricos, a planejar as mortes. Colocamos fogo na cidade e nas pessoas, sentimos o cheiro de suas carnes queimando e ouvimos seus gritos, enquanto dançávamos e pulávamos, torturando e matando outras pessoas em frente delas. Os planos ficam cada vez maiores, enquanto planejamos tudo calmamente. Vamos executar tudo em um mês, por isso precisamos ser rápidos e espertos. Saio escondida a noite, olhando as pessoas, as crianças pobres pelas ruas roubando para ter o que comer, os adolescentes revoltados por não serem nada, por não se encaixarem. Isso toca uma parte do meu coração, essa pobreza, tudo isso. Existem caçadores e existem as presas, mas as vezes uma presa pode se transformar em caçador. Eu sou uma caçadora que foi caçada por muito tempo, eu cansei de resistir a tudo para ser uma presa dessa sociedade maldita. Eles vão ter o que merecem, mas não será mais apenas Jeff e eu, vou juntar todas essas almas cansadas de serem caçadas. Amanhã de manhã vamos dar início ao nosso plano. Tudo vai começar, toda a caça, todo o fogo, toda a liberdade. Todos eles morrem um pouco a cada dia que se passa, perdendo suas vidas, seus motivos, suas paixões.

Quando amanhece começamos a nos preparar, vamos invadir uma prisão e um hospício. Jeff soltará todos os criminosos que estão na prisão e eu irei fazer o mesmo no hospício. Preparamos as armas, revisamos o plano vendo os mapas de onde tem cada coisa e partimos. Chego na frente do hospício bem antes do planejado, vou até os fundos e espero até a hora marcada. Quase todos os seguranças estão no intervalo agora, fumando em frente a um restaurante enquanto esperam sua comida, como fazem sempre. Entro silenciosamente pela porta dos fundos, jogando spray na câmera e seguindo em frente até as celas. As celas que ficam no fundo são para os mais perigosos entre eles. Abro a fechadura com um tiro, a arma está com um silenciador, tiro ele das amarras e o convenço a ir comigo, abrimos todas as celas que ficavam no fundo e eles correm pelos corredores, gritando e batendo nas coisas. Depois de soltar todos eles, quebrar todas as câmeras e amarrar todos os funcionários, subo em cima de uma mesa alta e dou um tiro para o alto, chamando a atenção de todos.

- Escutem bem, todos vocês! - Gritei e todos eles pararam olhando para mim. - Venham comigo, vamos tomar nossa liberdade de volta, vamos viver sem esse sistema. Vamos mostrar para ele quem é que manda! - Continuei e todos gritaram concordando. Eles jogaram gasolina por tudo e todos saímos, acendi um lenço em uma garrafa de bebida e joguei dentro do lugar, todos os funcionários estão lá dentro. A não ser que usem a cabeça, vão morrer.

Voltamos até o prédio abandonado que estamos ficando e Jeff também tinha terminado sua parte. Chegamos na mesma hora. Entramos com todos os nossos novos aliados e os alimentamos com a comida que roubamos, um enorme banquete. Todos ganharam roupas novas e logo depois foram para reunião. Informamos nosso plano para eles e separamos os lados dos times. Um lado da casa para as mulheres e outro para os homens, claro que se quiserem dormir no dormitório do sexo oposto é permitido, mas não me responsabilizo por nada. Descansamos durante a noite, ou pelo menos eles descansam. Não consigo dormir e vou até o topo do prédio, olhando a cidade.

- Também não conseguiu dormir, rata? - Jeff perguntou aparecendo atrás e mim. - Esse plano foi ideia sua, se você desistir eu mato todos eles e prendo você por me fazer perder tempo.

- Você está muito estressado mesmo. - Respondi olhando para ele, posso ver seus ombros totalmente tensos e ele não para de suspirar.

- Como não vou estar? - Ele disse saindo e provavelmente indo para o quarto.

Ele vai me matar se souber que estou hesitante, um pedaço de mim inteiro está relutante a fazer isso. Talvez seja o pouco que sobrou da minha humanidade, mas agora é muito tarde para voltar atrás. Desço as escadas e vou até a nossa nova sala de jantar, roubamos várias mesas e as tornamos uma só. Pego uma garrafa de cerveja e começo a tomar. Preciso ter coragem e também ignorar essa parte de mim. Se Jeff apenas pensar por um único minuto o que se passa nesse meu lado, estarei mais do que perdida. Uma parte de mim quer matar e pessoas, mas outra luta o tempo todo contra isso. Não sei mais o que fazer, apenas estou seguindo o caminho que tracei quanto estava no pico do meu prazer enquanto matava. Não posso negar que quando mato a minha cabeça fica estranha, muda totalmente. Talvez eu deva fugir, ou prosseguir mesmo em dúvida se isso é certo. Eu dei o discurso para aquele hospício cheio de criminosos perigosos, mas foi apenas um discurso que Jeff escreveu e me fez decorar. Não acredito em uma única palavra que disse. Não confio nem em minha sombra mais, ela me olha com olhos brilhantes, no fundo sei que estou ficando louca. Estou ficando louca por causa dele e por causa da minha escuridão. Ele sabe disso, ele sabe que na verdade isso tudo é tudo por causa dele, porque sou apaixonada perdidamente por ele. Jeff me mostrou a minha escuridão que é louca, obsessiva com ele. Jeff me transformou em uma obsessiva, desesperada por matar e por ele. Não sei mais o que fazer, embora a minha intuição grite para que eu fuja antes que ele perceba que estou com um pé atrás. Essa ideia foi tomada quando eu estava cheia do fogo de desejo por matar. Já chega, preciso colocar um fim nisso, um fim nessa dúvida que faz com que meu interior brigue. Eu sou com certeza, apaixonada por ele, mas sei que isso é doentio. Também quero ir embora, mas sei que se ele me pegar, estarei presa em algum lugar para sempre. Vou acreditar em meus instintos de sobrevivência e fugir antes que ele perceba. Peguei uma arma carregada e uma faca, saindo correndo pela porta dos fundos do prédio. Corri me escondendo pelas sombras a noite toda, estou exausta e com fome quando vejo o sol nascer. Jeff vai querer me matar quando descobrir que deixei tudo isso em suas costas, se o conheço bem, vai chamar todos para uma reunião e matar todos. Espero que consiga ter tido tempo suficiente correndo para fora da cidade, pelo menos espero que ele demore a me encontrar e que a sua raiva já tenha passado. Não sei se estou certa, mas tenho certeza que nem que demore anos, ele vai me encontrar. Quando estou perto dele tenho o meu pior lado desperto, eu viro uma pessoa completamente diferente, a pior parte de mim floresce. Meu coração fraqueja toda vez em que penso no seu rosto, seus olhos sempre abertos, nas suas cicatrizes, na sua pele, na sua boca.

Acendo um cigarro e tento relaxar um pouco, estou escondida em uma pousada, matei o dono do quarto e o coloquei no armário trancado. Não pretendo ficar aqui mais do que duas noites. Preciso organizar uma rota de fuga, preciso organizar minha cabeça. Não sei para onde estou indo, nem o que estou fazendo. Sei que nunca mais vou conseguir parar de matar, de ter prazer em fazer com que o sangue dos outros seja derramado, mas na verdade não me importo com isso. Eu sei que é errado, não enlouqueci ao ponto de perder a noção de certo ou errado, mas eu não ligo em matar uma ou duas pessoas por mês pela minha trajetória. O cigarro não é necessariamente um vício, apenas me faz relaxar, não ficar tão paranoica. Admito que gosto da sensação de fumar, principalmente quando estou coberta de sangue, quando estou ouvindo os gritos de alguém enquanto seu sangue jorra sem parar por todos os lados. Eles imploram, sempre imploram. Não lembro mais de nada antes de Jeff, dos meus pais, do meu suposto irmão, da minha infância, dos meus amigos, da minha adolescência, de mais nada. As duas ou três memórias que ainda tenho são como vultos, não consigo ouvir as vozes ou ver os rostos, mal posso definir os corpos ou os cenários. Tudo que me lembro é da noite em que ele me pegou e a maioria dos dias de quando ele me levou. Fico só de lingerie, olhando meu corpo no espelho, de fato meus peitos são bem grandes agora, assim como minha bunda e as minhas cochas, mas estou cheia de cicatrizes por todo o meu corpo. Minha bunda e meus peitos tem estrias que já ficaram brancas, então mal aparecem, mas pela minha barriga, braços e pernas, estou cheia de cicatrizes. Ele me cortou mais vezes do que posso contar, muitas vezes eu sentia prazer com isso, assim como em outras sentia apenas a dor das suas torturas.

Jeff é como um fantasma que estarei sempre pensando e fugindo. Por enquanto, estou firme nisso, mas sei que essa ideia irá pelo ralo assim que eu olhar para o seu rosto. Tenho certeza de que sou apaixonada por ele ao ponto de ir com ele, ser sua prisioneira novamente sem sequer pensar duas vezes. Isso é doentio, meu amor por ele é doentio e eu sei disso, mas não consigo evitar. Ele me ensinou a gostar da dor, a matar, a ser cruel e sádica, a amar o sangue, a expressão de dor no rosto das minhas vítimas. Não sei exatamente se me tornei apenas uma assassina ou um monstro, não convivo muito com outras pessoas depois da ogra, ela foi minha última esperança nas outras pessoas e essa esperança foi frustrada e morta. Não ligo mais para o que dizem sobre mim no jornal, se fosse qualquer um no meu lugar não teria sobrevivido uma semana sequer com Jeff, com suas torturas. Não posso negar que eu quis morrer várias e várias vezes, afinal eu não tinha para onde voltar se conseguisse fugir com vida, e mesmo que eu falasse para a polícia, eles me prenderiam por causa do bilhete. Ele matou todas as pessoas ao meu redor, disso eu me lembro, ele matou minha família e eu não me importo com isso, de alguma maneira, eu sinto que eu não gostava muito deles. Entro na banheira e abro uma garrafa de cerveja, nem me lembro da minha idade, não me lembro de quase nada. Sei que sou maior de idade, pelo menos eu pareço ser. Depois de tomar o banho, roubo algum dinheiro que tinha na carteira do antigo hóspede e pulo a varanda, indo embora pacificamente na madrugada. Minhas roupas são um pouco, como posso dizer, atraentes, por assim dizer. Um vestido preto de couro que encontrei no quarto, ele fica colado em minhas curvas e é bem curto. Fica quase na minha bunda. Prendo a metade de cima dos meus cabelos pretos e ando pelas ruas, é madrugada e tem apenas alguns homens pela rua. Bêbados ou até mesmo voltando do trabalho, algumas gangues de rua também. Respiro fundo e toco na bolsa que também encontrei no quarto do hotel, minha arma está aqui dentro, assim como minha faca. Posso ouvir as risadas deles atrás de mim, alguns homens, não parecem muito mais velhos do que eu, não parecem bêbados, parecem mais com um grupo de homens que gostam de estuprar e bater em mulheres durante a madrugada. Bom, vamos deixa-los tentar a sorte. Ando até um beco sem saída e coloco a mão na bolsa na mesma hora, logo me virando para eles com a mão atrás das costas.

- Vocês têm certeza que querem fazer isso? - Perguntei e eles riram olhando para eles mesmos e para mim - Tudo bem então. -Respondi as suas risadas puxando a arma e atirando na cabeça de um deles, ele parecia ser o líder. Não pude conter o meu sorriso, que foi de orelha a orelha. Quase ri até as lágrimas. Atirei no braço do outro e na perna de outros dois. O último tentou correr, mas atirei em suas costas. Puxei minha faca da bolsa e cortei a gargantas dos que ainda estavam vivos. - Deviam escolher com mais cuidado suas vítimas.

Dance With Devil -Jeff The killerOnde histórias criam vida. Descubra agora