Medo

10-Falha

Já era à manhã de quarta feira, coincidiu ser um feriado, não fomos a escola. Mas, algo me preocupava: "Maira".
Minha mente até dizia para com isso, tudo dará certo, mas o coração não, tinha a tendência de comportar-se como se fosse sair pela boca (affh)
  O meu medo era super normal, pois era feriado, a casa da Maira estaria cheia(irmãos e mãe) e se ela, não comesse, seria questionada, se lhe vissem tomando comprimidos pior ainda. Oh reinava medo dentro de mim!
Resolvi, enviar-lhe um sms para saber como tinha corrido, se já tinha iniciado o processo.
- Bom dia Mai, tudo bem? Que tal aquela cena? (tive que usar um pouco de calão para que não fosse muito óbvio)

- Olá, estou bem e você? Não tenho como tomar os comprimidos e muito menos ficar sem comer, minha mãe vai pensar que estou doente e se for ao hospital, o plano já era.

-Bem que imaginei que isso aconteceria, o melhor será fazermos amanhã, indo a escola, tens que comer muito no jantar para não desmaiar(risos)

-(risos) você sabe, que comida é minha especialidade, nem? Irei comer e muito!

- Ah sei, e como sei. Vamos ultrapassar esse momento amiga, somos fortes e se tudo correr bem, iremos enterrar o sucedido da floresta e esse momento agora.

-Que assim seja amiga, confesso que as vezes tenho tido alguns pesadelos, mas nada importante!

-Será que é algum tipo de trauma! _Oiço minha mãe, dizendo que quando passamos por momentos difíceis, temos tido alguns traumas!

- Bobagem, não deve ser nada.

-Está bem, mas se quiser conversar eu estou sempre disponível, e a Lu também.

-Eu sei e obrigada. Até logo, vou comer.

-Até logo.

   "mesmo que a Maira, não quisesse contar o que se estava a passar com ela, já era de se presumir que não era brincadeira. Algo se estava a passar com o Psicológico dela, mas era algo que ela preferia oprimir, atendendo e considerando que a experiência passada que tivemos não era uma coisa bonita de se lembrar ;mas eu tinha medo, que aquilo influenciasse a nossa psique e nos tornasse meninas instáveis psicologicamente "

Já se passam cinco dias desde o ocorrido na floresta, ninguém desconfia em nossas casas, fizemos um pacto de nunca contar a ninguém, excepto a médica que soube porque necessitavamos da sua ajuda, fora dela, até que tudo termine como nós planeamos ninguém mais saberá. Temos medo pois que tudo saia do controle, mas pra agora nós é que temos o controle da jogada, nós é que decidimos como é que o jogo deve terminar, porque apenas nós sabemos como começou.
Há quem, nos nossos lugares sentiria medo, pensam que não estamos a sentir medo? Ah claro que sentimos, não é fácil colocar a cabeça no travesseiro e ter que reviver a cada dia aquele episódio. Parece automático, sempre tinha o "replay".

Já não éramos adolescentes normais, agiamos feito, pessoas da meia idade que têm a tendência de ficar sempre em casa. Nós rotinas diárias mudaram! Como é que não mudariam? "tivemos a inocência tirada à força".

Éramos/somos crianças, só porque temos os seios, ancas formadas e entramos na fase da puberdade, não dá direito a ninguém que nos roube a inocência que tanto preservamos.

Os pensamentos que fluiam da minha mente, depois de terminar a conversa com a Maira, e eu torcia sinceramente para que viesse um génio da lâmpada e me concedesse três desejos e eu pediria:
*para que apagasse aquele episódio
*que o bebé da Maira não fosse real
*e que voltassemos a nossa vida normal.
Mas aquilo era real, estava mesmo a acontecer e não era um conto de fadas, onde a magia muda as coisas. Nós tínhamos o poder de fazer aquele episódio desaparecer das nossas memórias, aquilo só dependia de nós.
Iremos juntar nossas forças para que tudo termine bem e continuemos com a nossa vida: correr, fazer piknik, brincar ao esconde esconde e aprender coisas construtivas dia após dia.

Meu maior desejo naquele instante, era apagar todas as memórias da minha mente e das minhas amigas naquele dia, mas eu não podia, mas duma coisa eu sabia: que tinha que estar sempre do lado delas e dar um braço a torcer sempre. Porque, amizade é isso: ajudar sempre, quando as pessoas precisam de nós.