Capítulo 16

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O sol começava a nascer quando eu acordei. Ainda era cedo. Jennie estava deitada ao meu lado, apenas coberta da cintura pra baixa, suas costas marcadas com as minhas unhas, já que nos divertimos mais de uma vez na noite passada.

Eu levantei sem saber ao certo o porque, vesti um roupão e desci até a cozinha para beliscar algo. Conferi as correspondências que estavam em cima da mesa.

Conta, conta, conta, carta sem endereço de envio.

Eu franzi o cenho ao ver aquela carta ali. A abri apenas para saber se era algum engano.

Sei que mora nessa casa, Jennie. Não adianta correr de mim, você voltará para casa o quanto antes.
De seu querido pai, Christopher.

Senti falta de ar ao ler aquela carta. Jennie já não estava mais segura. Fiquei desesperada, extremamente assustada. Ele havia seguido Jennie, eu sabia que aquela ideia de trabalho não seria boa.

Rasguei aquele pedaço de papel, não queria que a menina visse, não queria que ficasse desesperada.

Ao voltar pro quarto, uma enorme vontade de chorar tomou conta de mim. Um medo avassalador de perdê-la, não podia perdê-la. Eu me aproximei, e deixei beijos por suas costas nuas, querendo sentir sua pele em minha boca. Ela murmurou mais parecendo um gato manhoso, e por fim acordou.

- Bom dia...

- Muito bom aliás...- eu comentei escalando até me encontrar ao seu lado.- Promete que eu vou acordar ao seu lado todos os dias?

- Hum... gosto dessa idéia... Lisa... porque os seus olhos estão com lágrimas? Eu fiz algo de errado ontem...?

Foi inútil tentar segurar aquele choro, e mais difícil ainda quando ela se sentou e acariciou a minha bochecha.

- Não... você não fez nada de errado, Nini... só acordei emotiva...- lancei a ela um sorriso forçado, pedindo para que ela acreditasse em mim.

...

Estacionei na frente da escola esperando Yon. A vi no meio de tantas crianças correndo em minha direção. Eu me abaxei pronta para recebê-la, seu abraço era o meu favorito. Pronta para abrir a porta do carro, duas meninas, creio que da sala de Yon se aproximaram, elas cochichavam e logo de cara não gostei dela, e agora eu tinha motivos.

- Oi, Yon. Falamos com a professora, e você vai fazer o trabalho sozinha.

- Como todos os outros.

- Você não se encaixa no nosso grupo.

- Acho que não se encaixa em nenhum outro.

- Era apenas isso, tchau! Nerd...

Elas murmurou e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa aquelas duas saíram correndo. Olhei para Yon, que mantinha e manteve a cabeça baixa. Ela mesma abriu a porta do carro e se sentou na cadeirinha esperando o cinto ser colocado.

O caminho de volta para a casa foi quieto, ela estava em sua bolha, apenas ela, sua boneca e o terceiro volume da saga Harry Potter.

Ela não falou com Jennie quando chegou, subiu diretamente para o seu quarto, doía vê-la daquela forma, mas o que mais doía era saber que mesmo as crianças poderiam ser influenciadas pelo o poder e pelo o mal.

- Podemos conversar?- eu perguntei parando e me escorando na porta de seu quarto. Ela virou a página e secou uma das lágrimas que caíam. Eu me aproximei, vendo ela utilizar sua bombinha.

- Porque eu não tenho amigos, mamãe? Porque ninguém gosta de mim?

- Ei, quem disse que ninguém gosta de você? E eu?

- Você é a minha mãe, não conta. Eu sou chata por gostar de estudar, mamãe?

- Não, claro que não.

- Então porque eu não tenho amigos?- eu suspirei, não sabia responder aquilo. Ela sempre tinha as respostas para tudo, não precisava das minhas respostas.

- Nem todo mundo merece a sua amizade, princesa, você é inteligente demais para qualquer pessoa ser sua amiga. Quando eu era menor, aonde eu morava também não tinha amigos, e percebi que era melhor estar sozinha, do que com pessoas falsas e tóxicas. Eu cresci e de fato a minhha única amiga e a tia Chae, mas olha, ela é a melhor amiga que eu já tive. Não fique triste, em algum momento alguém ao seu nível vai chegar e ser sua melhor amiga, ou amigo, não chore mais, ok?- ela assentiu se juntando mais a mim.- E não se preocupe, eu e Jennie te ajudaremos com o trabalho, e depois você esfrega na cara daquelas meninas que o nosso ficou bem melhor que os delas.

Ela riu, e naquele momento prometi a mim mesma que ninguém nunca mais machucaria minha filha e a minha Nini.

Arraste-me ( Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora