Corríamos como desesperadas, apenas querendo me ver longe de lá o mais rápido possível. Não sabíamos quando a fome daquele lobo irá desejar minha carne e também não estava querendo pagar pra ver.
Quando finalmente paramos de correr, foi como um baque em meu corpo. Meu rosto estava vermelho e com os cabelos grudando em minha testa por causa do suor, meu peito doía e eu tentava respirar cada vez mais fundo para passar aquele desconforto. A menina que veio comigo não estava diferente de mim, fora que ela era uma criança e tinha que ter passado aqui comigo.
- Qual o seu nome criança? - Ela me olhou com os olhos tristes. Confesso que aquilo mexeu comigo.
- Kang Haru. - Seus olhos começaram a marejar e eu já me arrependia de ter perguntado aquilo. - Senhorita, você não lembra de mim?
Fiquei sem saber o que falar, estática, apenas encarando Kang Haru agachada em minha frente já chorando. Eu nunca tive muito contato com outra pessoa além do Kwan e ele não demonstrava suas frustrações pra mim, então saber o que fazer em momentos como esse era algo que eu realmente não tinha noção.
Suspirei e fiz a única coisa que me veio a mente, a abracei. Puxei Haru contra mim e a abracei o mais forte que conseguia, arrancando uma reação surpresa da mesma e logo ela se colocou a chorar novamente em meu ombro.
- Me desculpe Haru, por não te proteger o suficiente. - Falei acariciando seus longos cabelos loiros. - Eu não me lembro quem você é ou o que realmente está acontecendo. - Suspirei largamente, fazendo com que eu pudesse enxergar o rosto da menina, enxugando algumas lágrimas, logo colando nossas testas. - Mas eu tenho absoluta certeza que você é uma pessoa muito importante pra mim, não gosto de te ver machucada. Independente do que aconteça nunca vou te abandonar, mas preciso que você me ajude, o que está acontecendo? - A criança suspirou e respirou fundo.
A criança pareceu ponderar se me contaria ou não, por conta disse abri um sorriso terno para ela querendo encorajá-la. Pareceu fazer efeito, pois ela suspirou e olhou no fundo dos meus olhos.
- Tudo isso aconteceu quando o Sr. Lee resolveu fazer um tratado de paz com a família Choi, do norte. Eles são uma das famílias mais poderosas daqui de Gangwon, logo abaixo da família Kim e da família Yoon. - A criança mordeu os lábios a minha frente e hesitou antes de continuar. - O pai de Choi Suk propôs então um casamento entre a filha mais velha do Sr. Lee e seu filho, ou seja, você Lee Jae Hwa. Você é a filha mais velha, e quando seus pais ouviram aquela proposta junto com a sua irmã se colocaram furiosos por ter que casar você com um dos três grandes.
Suspirei tentando manter a calma ao ouvir a história. Era algo muito novo pra mim, algo que eu nunca imaginei me enfiar, um lugar que eu não queria estar. Não sabia ainda o motivo de minha "irmã" ter tentando me matar, mas já havia criado algumas teorias em minha cabeça pra explicar esses acontecimentos.
Haru suspirou e fechou os olhos por alguns segundos antes de continuar.
- Você nasceu com pouca energia espiritual, e isso fez com que sua família te exilasse nas montanhas, porque eles tinham vergonha disso. Então sua irmã foi criada com todos os privilégios que a filha mais velha possuía, por isso que quando ela ouviu sobre isso ficou furiosa, porque na mente dela e de seus pais ela teria que casar com o Sr. Choi e não você. - Haru passou as mãos pelos cabelos e me olhou. Era impressionante o quanto uma menina de 13 anos sabia tanta coisa sobre o que estava acontecendo.
- Por isso ela tentou me matar hoje? - Recebi um aceno de cabeça da loira a minha frente.
- Ela já fez coisas piores do que querer sua morte senhorita. Coisas que eu agradeço por você não lembrar de mais nada, marcou você profundamente. - Sabia que a conversa sobre aquilo encerrara ali.
Por mais que eu quisesse saber o que a minha família já havia feito contra mim, sentia que iria descobrir logo, logo, e tenho certeza que não queria que outra pessoa soubesse sobre isso. Esperei algum tempo antes da criança a minha frente voltar a falar.
- Porém, isso não saiu como a família Lee planejava. Quando te trouxeram novamente das montanhas para a casa principal e contaram os planos que haviam feito para você, a senhorita se recusou a casar. - Ela olhou em meus olhos. - Eles então ficaram furiosos com a ordem negada, então sua irmã se ofereceu para convencê-la. Seus pais sabiam o que ela queria e o que faria com a senhorita, mas convenhamos, eles nunca se importaram mesmo.
Concordei com a cabeça, olhando para os meus pés que estavam estirados no chão de terra. Não havia percebido que tínhamos entrado bastante dentro da floresta, não conseguia mais ver por onde entramos e também já tinha me perdido de que lugar cheio de árvores havíamos passado.
- E você? - Me virei olhando parar ela. - Como te conheci?
Um sorriso largo surgiu no rosto de Haru, me fazendo sorrir em retribuição. Estava realmente curiosa para saber como havia a conhecido e desenvolvido tal ligação.
- É uma história até um tanto engraçada. - Ela disse. - Nos conhecemos a primeira vez na cidade. Lembro que estava com muita fome, então decidi roubar um pouco de comida para pelo menos sobreviver, eu tinha nove anos na época. Era uma criança totalmente solitária e vivia nas ruas, fazendo pequenas coisas para as pessoas pra arrecadar um pouco de dinheiro para a janta.
- Então você é uma pestinha? - Ri com sua expressão ofendida. - Sem querer ofender. - Sua gostosa gargalhada se fez presente no ar, me fazendo sorrir como uma boba. Eu amava aquela menina com todas as minhas forças e sabia que faria de tudo para protegê-la custe o que custar.
- Então fui em uma barraca de comida e aproveitei a distração do vendedor para pegar um pouco de alimento. - Ela começou a ficar vermelha. - Porém, não esperava que iria tropeçar na hora e o dono me ver e começar a gritar. Foi quando você pegou em minha mão e começamos a correr. - Ela ria alto. - Era a gente correndo na frente, eu cheia de comida e terra nas roupas por ter tropeçado e o dono correndo atrás de nós.
Estava me divertindo muito com ela ali ao meu lado. Foi quando ouvi galhos quebrando e tapei a sua boca fazendo um sinal de silêncio. Havia me esquecido do que tinha acontecido antes, o lobo, poderia ser o lobo.
- Precisamos sair daqui. - Disse perto de seu ouvido. - E rápido!
Ela assentiu e então começamos a nos mover o mais silencioso possível. Não sabia o quanto tínhamos andado ou quanto tempo se tinha passado, mas sabia que era muito, porque a lua já aparecia no céu e o escuro já tomava conta do lugar.
Precisávamos arranjar algum lugar pra ficar, então quando achamos uma vila e pedimos um lugar para dormir para uma gentil senhora, ao ver nossa situação a senhora deixou com que ficássemos no estábulo até o amanhecer, já que floresta a noite era um lugar bem perigoso.
A noite estava calma e serena, então me permiti fechar os olhos e relaxar. Agora estávamos seguras e nada iria mudar isso, conseguimos fugir do pesadelo.
*---*
Acordei desesperada com gritos, a noite estava iluminada por tochas e Haru não estava mais ao meu lado. Onde ela estava?! Por que eu tive que dormir??
- Haru! - Gritei, saindo do estábulo e procurando por entre a multidão desesperada de pessoas que brigavam umas com as outras. - Haru, onde você está? Haru!!
Foi quando a vi correndo em minha direção, mas antes que pudesse chegar perto de mim senti uma forte pancada em minha cabeça e a escuridão me engolir.
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New Chance - JJK
FantasyDepois de ser traída pela única pessoa em quem eu confiava fielmente e ser alvo de uma tentativa de assassinato, resolvi por fim a única coisa que me pertencia. Minha vida. Não iria permitir que ninguém tirasse ela de mim, se fosse pra eu morrer pe...