CAPÍTULO 3 - ANA

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Dias Atuais 


Sim, ela vai te dizer que é órfã depois de você conhecer sua família.

Ela pinta seus olhos de preto como a noite agora.

Puxa aquelas sombras pra baixo, firmemente.

Yeah, ela me dá um sorriso quando a dor vem.

A dor vai fazer tudo ficar bem.

She talks to Angels – The Black Crowes



- As coisas parecem cada vez piores entre vocês – Nina disse, enquanto andava pelo corredor do shopping empurrando o carrinho das meninas pelo corredor. Observei seu rosto preocupado e expirei com força.

- E estão. – Respondi, relutante. Eu não queria falar sobre qualquer coisa que envolvesse Danilo e eu na mesma frase. Só servia para cutucar uma ferida que eu lutava para que cicatrizasse logo. – Ele simplesmente não consegue me deixar no meu canto. Como se já não bastasse ter que olhar para a cara dele e me lembrar todos os dias do que aconteceu. – resmunguei, tão frustrada que Nina parou ao meu lado e me puxou para que sentássemos em um banco.

- Eu não consigo nem imaginar o quanto isso te machucou e Deus sabe que eu nunca perdoaria Alex se a situação tivesse sido conosco. – Nina começou, segurando minha mão. Quis puxá-la, eu não estava no clima para abrir meu coração no meio do shopping – ou em qualquer outro lugar. – Mas, você sabe que Danilo continua completamente apaixonado por você, não sabe? – Nina perguntou, me olhando com seus olhos cor de avelã. Minha melhor amiga era a melhor pessoa que eu conhecia, mas sua inocência era algo que me incomodava profundamente. – Esse é o único motivo pelo qual ele ama te perturbar, ele prefere seu ódio ao seu silêncio. – Ela disse baixinho. Revirei meus olhos e puxei minha mão da sua, já me levantando, eu sabia onde aquilo ia chegar.

- Marina, - falei, muito séria, usando seu nome de nascimento e não o apelido que usava. Eu precisava que ela entendesse de uma vez por todas. – eu não me importo com como ele se sente sobre mim, ou sobre o quão fodido ele está, porque você pode ter certeza, que eu fiquei infinitamente pior. Enquanto ele enfiava o pau dele em três bocetas diferentes – falei, assassina, abaixando meu tom. – Eu estava chorando com a porra do meu coração partido! – terminei, num rosnado. Nina se encolheu.

- Mas ele não lembra de nada, ele achava que era você, - Nina começou, falando freneticamente e tive que passar a mão pelo meu rosto para não gritar com ela. – Nós até estamos querendo investigar porque Danilo acha que foi drogado e...

- Marina, pelo amor de Deus, já chega! – exclamei, a fuzilando. – Por favor, - pedi, já sentindo meus olhos queimarem. – Será que você pode aceitar que eu nunca vou perdoá-lo? Será que você pode, por favor, ficar do meu lado nisso? – pedi. Os olhos de Nina encheram-se d'água também e me odiei pelo fato da minha vida amorosa ter fodido todo o ambiente familiar que ela sempre sonhou. – Eu sinto muito por não poder cumprir todos os seus sonhos de família perfeita, mas não vou fazer isso comigo mesma. Já se passaram dois anos. Esse assunto está enterrado para mim. – falei, tentando engolir o nó colossal que tinha se instalado em minha garganta. Nina veio em minha direção e passou seus braços ao meu redor. Ela era três centímetros mais baixa que eu, mas sempre conseguia me abraçar de modo que eu me sentisse num casulo, era provavelmente seu instinto materno, gritando a cada segundo do dia.

- Sinto muito, Aninha. – ela pediu, fungando. – Não quis te chatear.

- Eu sei, flor. – respondi, cansada, me afastando de seu abraço. – Acho melhor nós irmos, eu tenho que ir pro trabalho, ou o Carlos Eduardo vai me matar. – falei, me referindo ao meu assistente, que mais parecia meu chefe. Eu o havia contratado assim que minha empresa tinha pedido para que eu comandasse a nova filial do Rio de Janeiro, e eu o amei a primeira vista, ou a primeira Chanel, já que ele era gay e chegou na entrevista com um terno simples e um sapato da marca. Nós havíamos virado muito amigos, e se não fosse Cadu, eu enlouqueceria com todos os problemas que tinha que resolver naquela empresa. Hoje eu teria uma reunião com os novos investidores e eu tinha certeza que mataria um deles antes do fim do mês. Bufando, seguimos em direção ao estacionamento.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora