CAPÍTULO 5 - DANILO

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A pilha de papéis para serem analisados em minha frente faziam minha cabeça doer. Desde que Alex havia decidido diminuir o ritmo de trabalho na empresa por conta das suas filhas, meu pai estava caindo em cima de mim.

Escolher engenharia havia sido uma escolha natural para mim, mas nos últimos tempos isso vinha me cobrando muito. Eu passava os dias irritado mal vendo a hora de ir pra casa, tomar uma cerveja e dormir.

- Danilo, já entregou o projeto da Riviera? – Carlos Montenegro, mais conhecido como meu pai, disse, entrando em minha sala sem bater. Ele havia se aposentado há um ano, mas não conseguia ficar distante uma semana da empresa.

- Pai, você não deveria estar em Búzios com a mãe? – eu pergunto, tentando não rir. Nossa relação havia melhorado muito desde que ele havia se tornado o avô mais babão da história por minhas sobrinhas gêmeas.

- Eu adiei uma semana assim podemos levar as meninas conosco. – Ele disse, enfiando as mãos no bolso e dando de ombros, e foi como ver Alex mais velho na minha frente. Era assustador o quão parecidos eles eram.

- Suas netas vão crescer muito mimadas. – Eu disse, andando até o aparador. Me servi um café forte e um descafeinado para meu pai.

- É o dever dos avós mimarem suas netas. – Ele disse, fazendo uma careta depois de dar o primeiro gole no café. Seu médico havia proibido cafeína por um tempo.

- Alex e Nina concordam com isso? – pergunto, rindo.

- Eles não tem que concordar com nada. – ele rebate, no tom autoritário que eu conheço muito bem. – E então? Entregou o projeto do Riviera? – ele pergunta mais uma vez.

- Sim, Seu Carlos, entreguei semana passada. – digo, tomando meu café, absorvendo a expressão surpresa dele. Eu podia estar com o coração partido, fodido emocionalmente, mas eu fazia questão de ser bom no trabalho. Era meu legado também.

- Bom. – Ele disse, com um acenar de cabeça e eu sabia que isso era o mais próximo de um elogio que chegaríamos. – Vou indo, sua mãe e eu vamos almoçar com os pais de Nina.

- Cuidado com a lasanha da Dona Helena. – aviso. – lembra o que seu médico falou.

- Um pedaço não mata ninguém. – Meu pai disse, emburrado. E eu ri. Ele caminhou até a porta, sem olhar pra trás e me sentei em minha cadeira.

- Mande um beijo pra Dona Victória. – falei, e ele concordou com a cabeça. Voltei meu olhar para os papéis a minha frente, voltando a ler o parágrafo que havia pulado, apenas para ser interrompido pela voz imponente do meu pai, ecoando até meus ouvidos.

- Danilo? – ele chamou, me fazendo olhá-lo. Ele ainda estava parado na porta, as mãos nos bolsos da calça social, o olhar direto.

- Sim, pai? – eu pergunto, com o cenho franzido.

- Você está fazendo um bom trabalho. – Ele diz, e paro de respirar por um segundo. Eu nem lembrava da ultima vez que meu pai havia me elogiado.

- O-obrigado? – falei, como um pateta. Meu pai revirou os olhos, abriu a porta e a bateu com força atrás de si, sumindo da minha vista. Fiquei encarando a madeira escura por alguns segundos, tentando entender o que havia acabado de acontecer, mas não achei nenhuma resposta.



Eu podia escutar o barulho da televisão do apartamento antes mesmo de abrir a porta. Théo, meu melhor amigo e colega de apartamento, não conseguia assistir TV num volume humanamente normal, o caos da minha vida era o suficiente para eu me preocupar então deixava que ele assistisse TV como ele bem entendesse. 

Destranquei a porta e tirei os sapatos assim que a fechei atrás de mim. Joguei a chave no aparador de mogno que Ana havia comprado e caminhei até a sala, para encontrar Théo dormindo no sofá. Eu sabia que era hétero, mas entendia porque as mulheres caiam em cima do cara. Até dormindo ele era bonito. Théo tinha cabelo loiro, pele quase translúcida e olhos azuis tão claros que eram quase cinza. Não era por nada que seu apelido era anjinho entre nossos amigos da faculdade. Théo era formado em medicina e era montado na grana, os pais eram muito ricos. Ele era um cara legal demais, apesar de ser mais na dele. Depois que Ana e eu havíamos terminado, Théo estava procurando um amigo para dividir o aluguel e não vi motivos para não deixar o cara vir para meu apartamento. Ele era espaçoso e eu passava mais tempo na rua do que em casa, assim como Théo, que estava fazendo sua residência.

Desliguei a TV e parei em sua frente, sacodindo seu ombro.

- Théo. – Chamei, vendo-o despertar assustado.

- O que houve? – Ele perguntou com a voz grave abafada pelo sono.

- Acabei de chegar, vai pro quarto, você apagou no sofá. – explico, me afastando e indo até a cozinha. Théo me segue e abre a geladeira procurando por água.

- Tudo beleza? – Ele pergunta. – Você tá com uma cara de merda.

- Dia cansativo. – digo, sem muita vontade de conversar. Théo entende e apenas sacode a cabeça. Ele sabe que tenho uns dias do cão, principalmente quando sei que verei Ana daqui a dois dias num jantar que meu irmão e minha cunhada darão para comemorar o aniversário de minhas sobrinhas. Só de pensar minha cabeça lateja. Esfrego minha testa e abro os armários procurando algo pra comer já que sobrevivi a base de café o dia todo.

- Dona Helena mandou entregar alguma coisa pra você. – Théo diz e meu estômago ronca só de imaginar o que a sogra do meu irmão e a melhor cozinheira do mundo tinham mandado para mim. Dona Helena havia se tornado uma mãezona para todos nós, sempre reclamando do quão magro estávamos. Ela fazia questão de mandar comida em dias aleatórios para todos nós de seu restaurante italiano que era um sucesso na cidade. – Está na geladeira. – Théo avisa, e em um pulo já estou procurando a embalagem.

- Você quer um pouco? – Ofereço, olhando-o, torcendo para que não aceite porque nesse momento eu comeria um boi sozinho. Théo ri e acena dizendo que não, me vendo enfiar a embalagem no micro-ondas.

- Depois dessa sua cara de enlouquecido, não, valeu. – Ele diz. – Vou dormir, cara. O dia foi pesado no hospital.

- Quer conversar? – Pergunto, vendo seu semblante triste. Nem eu era tão cuzão assim.

- Não, só dormir. – Ele diz, dando de ombros.

- Boa noite. – Eu digo, quando o aparelho apita.

- Boa. – Ele diz, já sumindo pelo corredor.

Alcanço um garfo, e sem me preocupar em queimar minha boca, engulo uma garfada monstruosa. O macarrão está delicioso como era de se esperar. Tanto que o devoro em cinco minutos. Depois, uso o resto de minhas forças para tomar um banho fervente, escovar os dentes e cair na minha cama, onde apago num sono profundo e sem sonhos. 



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Um capítulo rapidinho pra vocês! 

No próximo, é a vez da Aninha falar! 

O que vocês estão achando??? Amei reencontrar tantos personagens que significam tanto pra mim. 


Beijos! Se cuidem! 

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora