CAPÍTULO 17 - ANA FLASHBACK

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"São 1:15h da manhã, estou sozinho e preciso de você agora

Disse que não iria ligar mas perdi todo o controle

e preciso de você agora"

Need you now - Lady Antebellum


Que eu amava o Danilo não era surpresa para ninguém. 

Mas eu podia odiá-lo com todas as minhas forças em alguns momentos. Apesar do que todos estavam pensando, não foi a atitude de Danilo que partiu meu coração - eu sabia que ele nunca tratou ou trataria uma mulher daquele jeito, culpá-la por dormir com outro cara - mas o que havia por detrás dela: desconfiança pura. Insegurança cega. Como diabos ele tinha coragem de desconfiar de mim depois de tudo que passamos? Como tinha a ousadia de me julgar depois do final de semana infernal que tivemos depois de sua crise de ciúme? Irracional. Era isso que o maldito por quem eu estava apaixonada era. Era simplesmente inaceitável. Como poderíamos construir qualquer coisa quando uma simples frase mal interpretada causava todo esse dano? Eu precisava cuidar melhor do meu coração. Preservá-lo. Amar Danilo era fácil demais. Sedutor demais. Passional demais. E jamais baseava minha vida em paixão. Eu era racional. E agora, mas do que em qualquer momento precisava da ajuda do meu cérebro pra não desmoronar no chão e chorar. Porque assim que as palavras saíram da minha boca e vi Danilo ajoelhado no chão implorando, meu coração ficou para trás. Junto com ele. E havia as propostas de emprego. As malditas oito propostas de emprego, escondidas no fundo da minha mala, como uma sirene vermelha - um segredo muito proibido.

Eu havia recebido uma proposta de emprego exorbitante em cada uma das empresas em que palestrei. Trabalhar com governança corporativa era um sonho se tornando realidade, e ver as portas se abrindo dessa forma me dava muito orgulho. Meu caminho não tinha sido fácil, mas eu já via seus frutos. Reconhecimento não é tudo, mas é muito. Não que eu estivesse pensando em aceitar nenhuma delas. Ir para São Paulo era uma ideia quase inconcebível. Marina precisava de mim, minha família do coração estava aqui e... Danilo. É claro que o maldito pesava em minha decisão. Não queria ir para São Paulo, então apenas enfiei as propostas na mala e não comentei com ninguém sobre o assunto. Seria o inferno na terra e Mama jamais me perdoaria se outro filho dela fosse morar em outro estado - já bastava Daniel, seu menino de ouro.

Perdida em pensamentos, me assusto com o toque da campainha ecoando pela sala. Me arrasto em meu pequeno pijama de flanela, tentando prender meus cabelos em um coque decente, sei que minha tentativa foi um fracasso pelo meu reflexo no espelho ao lado do aparador perto da porta. Bufo e sem pensar muito, agarro a maçaneta e abro a porta, quase congelando no lugar com a visão que tenho a minha frente.

- Oi. - Danilo diz, parado feito uma estátua, as mãos enfiadas dentro dos bolsos do jeans. Ele está completamente acabado. A barba curta e escura cobre a parte inferior de seu rosto, o deixando bonito, mas são os olhos que denunciam seu estado. Estão apagados, fundos, cercados por olheiras escuras. Meu coração dói com sua visão, porque sei que não estou muito diferente. Me acostumei a dormir com seu calor me abraçando e agora eu parecia uma merda de uma sonâmbula.

- Oi. - Eu digo, tentando respirar. Minhas muralhas, erguidas com tanto afinco, parecem enfraquecer, tijolo por tijolo, só por estar perto dele.

- Desculpa... - Ele diz, nervoso, passando a mão de dedos compridos por seu cabelo mal penteado. - Sei que não tenho direito nenhum de aparecer aqui.

- Não tem mesmo. - Eu o corto e ele parece se encolher ainda mais. Ele concorda com a cabeça rapidamente, completamente esmagado.

- Você tem razão. - Ele fala, trazendo os olhos para mim. - Eu só gostaria de conversar com você. Apenas para me desculpar. - Ele diz, soando completamente recomposto e sério. - Não te mereço de volta, mas você mais do que qualquer pessoa na minha vida, precisa saber que vou me arrepender pelo resto da minha vida pelo que aconteceu. Por cada palavra que saiu da minha boca. Ninguém merece ser julgado e crucificado e eu fui simplesmente baixo. - Ele fala, rapidamente. Os olhos encarando o chão.

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora