QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETO

CAPÍTULO 20 - DANILO FLASHBACK

Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso

Quando você recebe o que quer, mas não o que precisa

Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir

Preso em marcha -ré,

E as lágrimas escorrem pelo seu rosto,

Quando você perde algo que não pode substituir,

Quando você ama alguém, mas isso se torna um desperdício,

Poderia ser pior?

Fix you - Coldplay

As memórias me atingem antes de qualquer outra coisa.

Ou melhor, fragmentos de memórias.

A briga com Ana, as bebidas, ela me trazendo para casa e só. Lembro também de beijá-la, de risos soltos, da sua boca no meu pau. Ela tinha me perdoado pela briga. Estávamos bem. Eu tinha certeza que sim.

Abro meus olhos e fecho-os novamente, surpreso com a enxaqueca infernal e a dor que toma todo o meu corpo. Resmungo e pisco algumas vezes, tentando me adaptar a claridade que invade o quarto pelas cortinas. O teto parece ainda parece turvo, mas consigo discernir a maioria das coisas, principalmente a cama vazia ao meu lado. Giro pelo colchão, gemendo pelo excesso de movimentos, procurando o corpo de Ana, mas não a encontro. Ao invés disso, meus pulmões são enchidos por um cheiro muito doce de baunilha, ao invés do floral suave que normalmente nos envolve sempre que estamos juntos.

Levanto da cama num pulo, engolindo a bile que sobe até minha garganta.

-Ana? - Eu chamo, andando até a sala, sendo respondido pelo silêncio. Meu coração acelera de forma desconfortável porque sei que tem algo terrivelmente errado acontecendo. Sinto o suor grudando o cabelo da minha nuca, e minhas mãos tremem tanto que preciso me sentar no sofá. Não faço ideia de onde meu telefone está, então reviro meu apartamento, tentando encontrar algum indício do que diabos pode ter acontecido e não encontro absolutamente nada. As roupas de Ana e seus produtos ainda estão no mesmo lugar, mas porque ela teria saído sem dar nenhuma explicação?

Completamente frustrado, me enfio debaixo do chuveiro gelado, esfregando meu corpo dolorido. Forço minha memória novamente, tentando juntar cada fragmento que posso, mas é tudo um grande borrão. Não devia ter bebido da forma que bebi. Isso é certo. Tudo parece uma grande nuvem cinza.

Me arrasto para fora do chuveiro, visto a primeira roupa que encontro e saio do apartamento, pronto para pegar um táxi. Não tinha condições nenhumas de dirigir no meu estado. Sei que se algo de errado tivesse acontecido, Ana teria ido para Salvatore ou Daniel. Principalmente se eu estivesse envolvido, ela não envolveria Nina em algo assim. Arrisco então seu melhor amigo. Dou o endereço da casa da mãe de Marina, pois Daniel está lá, e fecho meus olhos durante toda a viagem, tentando arranjar uma explicação para todo o caos que se instalou no meu subconsciente. Por que eu tinha tanta certeza que algo tinha se quebrado? Por que eu sentia esse afastamento irremediável dentro do meu coração?

- Chegamos, amigo. - O motorista diz, fazendo eu sobressaltar no banco de trás. Entrego algumas notas em sua mão, e saio apressado, tropeçando em meus próprios pés, ainda sem controle total dos meus membros.

Paro em frente ao portão de madeira da casa bonita, e nem penso muito antes de tocar a campainha três vezes, secando o suor que se acumula em minha testa sem meu controle. Afundo minhas mãos trêmulas no bolso dos meus jeans assim que ouço o barulho da fechadura se mexendo. O portão finalmente se movimenta, e um Daniel com a expressão mais assassina que eu já presenciei em toda a minha vida, me encara com ódio mortal. Nem tenho tempo de perguntar sobre Ana, pois ele já avançou em minha direção e socou meu rosto com tanta força, que caio no chão, sem nem conseguir me movimentar. Me levanto com dificuldade, mas Daniel já me segurou pela camisa e está me jogando contra o muro da casa de seus pais.