CAPÍTULO 2 - DANILO

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Dias Atuais 



Olhar para você torna isso mais difícil
Mas eu sei que você encontrará outro
Que nem sempre a faça querer chorar
Começou com o beijo perfeito, então
Podíamos sentir o veneno se instalar
A perfeição não pôde manter este amor vivo"

Already Gone - Sleeping At Last

Porra, ela sabia ser uma vadia.

Uma vadia tão linda que meu coração perdia a porra de uma batida, mas ainda assim, uma vadia.

Não que eu fosse muito melhor. Eu sabia que não era. Eu não tinha direito nenhum de falar qualquer coisa que fosse sobre a natureza arisca de Ana uma vez que fui eu quem a tornei naquele pedaço de pedra fria que ela havia se tornado, comigo pelo menos. Era óbvio que Ana não era mais a mesma e talvez por isso eu me odiasse tanto. Eu a quebrei. Eu mandei toda a sua espontaneidade, bom humor e simpatia para puta que pariu e a culpa era toda minha.

Tento ao máximo não pensar sobre a noite que arruinou toda a minha vida, mas é impossível. Basta que o semblante de pesar se abata no rosto de Ana para que eu me lembre que eu fodi tudo pra nós dois. Não havia volta, não havia perdão, eu tinha plena consciência disso.

Apesar de toda aquela noite ser apenas um borrão e eu me lembrar apenas de Ana fazendo maravilhas com meu corpo, parece que não foi bem isso que aconteceu. Nós brigamos, eu fui para um bar, enchi a cara e transei com três mulheres. Ao mesmo tempo. E Ana flagrou toda a cena.

O gosto amargo preenche a minha boca conforme a lembrança – ou o que deveria ser uma lembrança – toma todos os meus pensamentos, enquanto a observo levantar com Melissa no colo e sumir no corredor que levava a cozinha. Eu nem havia bebido tanto, não fazia ideia como aquilo tinha sido possível. Eu só lembro de acordar no dia seguinte, sozinho na minha cama e com uma puta dor de cabeça. Procurei por Ana pelo apartamento, sorrindo um pouco ao lembrar da "nossa" noite juntos. Só fui entender tudo o que estava acontecendo quando abri a porta do meu apartamento e o irmão do meio de Nina – o melhor amigo de Ana que eu odiava – me cumprimentou com um belo gancho de direita. Meu primeiro impulso foi reagir, mas primeiro eu precisava entender que porra estava acontecendo. E então Daniel me explicou. É incrível como algumas palavras, poucos segundos, podem destruir coisas muito preciosas. Eu não conseguia acreditar de forma nenhuma. Eu havia transado com a Ana na noite passada, não com outras três mulheres. Nada daquilo fazia sentido. Então eu fui atrás dela e ela se recusou a falar comigo. E continuou assim por um mês inteiro, até eu saber por Alex que ela estava indo embora. Ela estava indo para São Paulo. Para longe de mim. Era um recado claro. Nós estávamos acabados. E eu a deixei ir. Com ela, meu coração.

Eu me lembro com muita clareza o dia que nos vimos pela primeira vez desde que tudo havia acontecido. Foi no seu apartamento, ela estava voltando para casa. Eu havia passado para ver Alex e as meninas, já que eu daria um tempo para Ana se acostumar a minha presença, mas todo o meu precioso esforço foi por água a baixo e eu só piorei tudo. Ana partiu meu coração naquele dia. Ela cagou e estava de fato feliz, enquanto eu parecia um zumbi meio-alcoólatra. Eu estava destruído.

Viver sem Ana era como viver num estado de escuridão eterna. Era o que eu sentia antes de ela chegar e iluminar cada canto de mim. Meu corpo amava o seu, mas nossas almas... Elas é que foram feitas uma para outra e viver sem amor depois que você o encontra... isso é pior que morrer. Acho que isso definia bem como eu me sentia. Eu estava morrendo, um dia após o outro e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito disso.

Eu mereço a escuridão, já que fui eu quem apaguei a minha luz.

Mas ela precisava parecer tão indiferente?

Ela riu ao dizer que não tivemos nada sério e foi aí que eu fiquei puto de verdade. Eu era perdidamente apaixonado por aquela mulher e ela estava cagando na minha cabeça. Ela zombou de toda a nossa história. Bastou que eu fosse embora, me trancasse no meu quarto e começasse a chorar para que a raiva que eu estava sentindo de Ana voltasse para mim mesmo. Ela pode até ter zombado do nosso relacionamento, mas eu o havia destruído.

Eu sei que eu deveria respeitar seu espaço. Mas não consigo. Entre o silêncio e seus xingamentos eu sempre vou escolher seus xingamentos. É melhor receber qualquer coisa dela – até mesmo o ódio – do que a indiferença total. Nós teríamos que conviver o resto de nossas vidas e eu não me preocupava em piorar as coisas entre nós dois.

Não é como se nós tivéssemos volta.

Olhei para Violeta aconchegada a mim e sugando seus dedos e tento relaxar, falando-lhe palavras doces e brincando com seus cabelos escuros. Sorrio ao pensar no trabalho que essa menina dará a Alex. O babaca merece isso e coisa pior depois de ter feito o comentário desnecessário antes de sair. O constrangimento no rosto de Ana só torna tudo pior. Porra, porque tudo estava tão errado?

QUEBRADOS - Irmãos Fiori: Livro II - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora