24 | A verdade é crua

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C A P Í T U L O -  V I N T E -  E -  Q U A T R O:
Seus olhos mentem

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Violeta


11 de maio de 1997

Por onde quer que eu vagasse, os olhares se cravavam em mim, incessantes e inquisidores, como se eu fosse presa de uma caçada sem fim. Sentia-me deslocada, uma solitária em meio à multidão. Talvez fosses tu, o único a me acolher sem reservas, sem me julgar como um volume desprovido de valor e significado.

Talvez fosse as vozes da minha cabeça.

- Demorei? -  A voz de Morgan rompeu o silêncio, pontual em seu atraso habitual. Havíamos combinado um encontro neste parque distante, um refúgio longe do meu lar. Ansiava por sua presença. Sentou-se ao meu lado, em silêncio, contemplando o alvoroço infantil que também capturava meu olhar. Minha resposta veio em um sussurro.

- Sim.- A verdade escapou, acompanhada pelo som abafado de sua risada. O reencontro era um bálsamo, após um período de distância autoimposta. Não me sentia digna de sua companhia, de suas mensagens e chamadas que optei por ignorar. Mas no fundo, suplicava para que não desistisses de mim. Sua mão encontrou a minha, um toque que despertou calafrios, um gesto de ternura que nunca havia experimentado. - É bom vê-lo.

- A satisfação é mútua. - Sua resposta veio rápida, quase ansioso. O aperto de sua mão era firme, reconfortante. Morgan, como eu o chamava pelo seu sobrenome, mantinha o olhar perdido no horizonte, evitando o meu. Seu peito inflava e, lentamente, exalava o ar preso em seus pulmões.

- Você está bem? - A pergunta emergiu diante de seu comportamento atípico. O Morgan que conhecia era efervescente, loquaz. Hoje, sua quietude era desconcertante.

- Estou, por que não estaria? - Sua resposta veio nervosa, o olhar ainda desviado. O suor frio de suas mãos e o aperto que se intensificava denunciavam sua inquietação. Um suspiro profundo escapou de mim, capturando sua atenção. Nossos olhares se encontraram, mas apenas por um instante, antes dele simular uma tosse e desviar a atenção. - Qual o motivo de me chamar hoje, após semanas sem notícias?

- Apenas senti falta de você, quis vê-lo hoje. - Minha confissão tremulava no ar. Morgan me encarava, incrédulo, desconforto evidente em sua expressão.

- É mesmo? Eu devo esperar sua boa vontade para vê-la? -  Sua indignação era palpável, o rubor em seu rosto intensificando-se. Baixei o olhar, envergonhada, consciente do espetáculo que proporcionávamos aos transeuntes. Morgan, percebendo meu desconforto, acalmou-se, sua respiração pesada a única prova de sua fúria anterior. Sua mão, contudo, permanecia entrelaçada à minha.

- Estive imersa nos treinos nessas semanas, evitando distrações. - Minha voz era calma, embora meus olhos ainda evitassem os dele. Morgan relaxou, sua respiração normalizou, e o aperto em minha mão se tornou mais suave.

- Então, sou uma distração para ti? - Sua pergunta me fez erguer o olhar, encarando-o finalmente. "Sim." A sinceridade era inevitável, embora soasse cruel. Morgan era a luz em meio ao caos da minha existência. Ele permaneceu em silêncio, analisando minhas palavras, enquanto checava o relógio de pulso. - Está atrasado para algum compromisso?

- Nada que eu não possa esperar, apenas visitar um amigo. - Sua resposta foi despretensiosa.

- Ah, seu amigo. - A revelação surpreendente me interessava. - Você deveria ir.

- Está me expulsando? - Seu olhar era inquisitivo.

- Apenas que não deixasse esperando-o.

- Não se preocupe. - Seu sorriso era contagiante. - Você sabe como Jungkook é.

Um garoto extraordinário.

- Como eu poderia esquecer, você está aqui para descrevê-lo para mim em todos os momentos em que nos encontramos.

Ele me olhou, como se eu estivesse provocando-o.
- E você é tão curiosa.

Sim, mil vezes sim.

- Eu sou?

- Ninguém melhor do que você. -  Morgan riu. Eu também sorri para ele. - Eu ainda quero que você o conheça.

Meu peito doeu como se uma lâmina atravesse meu coração.

- Talvez um dia

- Você poderia ir comigo hoje conhecê-lo.

- Não!

Seus olhos expressaram desconfiava.

- Porque não?

- Eu não me sinto confortável com a situação.

Eu não poderia agora.

- Eu não entendo. - murmurou.

- Eu não me sinto segura. - meus olhos tremeram como se eu não pudesse controla-los. - E se ele não gostar de mim?

- E porque não gostaria? Você é incrível.

Oh não, eu não sou.

- Eu não quero outro amigo, eu quero apenas você.

Ele tremeu.

- Não digas isso.

- Porque não? Eu não poderia tê-lo para mim? - sorri, em meio a tempestade que se formava na minha cabeça. - Ou pelo menos a metade.

Seus olhos sempre tornava-se fixo para os meus em algum momento.

- Você sempre terá uma parte minha.

- Obrigada. - digo

- Não irei pressiona-la. Quando o momento certo acontecer, será o destino

- O destino?

- Sim.

- Pensei que não acreditasse nisso.

- Não sou eu quem não acredita em destinos.

- Você está certo.
Ri. Mas ele poderia vir mais do que um simples sorriso em meu rosto.

- Diga-me o verdadeiro motivo deste encontro. Conheço-te bem, Rebecca, não me iludas.

O aperto em meu peito era quase insuportável, uma dor que me consumia por dentro. A verdade queimava, pronta para ser revelada.

Oh, meu garoto da janela,
Eu estou apavorada.

A garota da JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora