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C A P Í T U L O - V I N T E - E - C I N C O:
MentirasVioleta
11 de maio de 1997
- Então, Rebecca, o que tem para me dizer? - Morgan me encarava com uma intensidade penetrante, minha imagem refletida com clareza em suas íris. Uma apreensão me consumia, hesitando entre o silêncio e a revelação, enquanto a coragem de outrora lentamente se esvaía.As palavras lutavam para encontrar a liberdade.
- Ocorreu algo?
Por vezes, questiono se a verdade é de fato indispensável, ou se serve apenas para infligir dor e mágoa. Uma dor lancinante e incurável, como uma ferida perene que se recusa a cicatrizar. Uma verdade que te condena a um lamento profundo, te incapacitando de erguer-te ao alvorecer. Entre litros de lágrimas incontidas, a dor no peito se eterniza. A verdade é implacável, ainda que crua.
Contudo, proclamam que uma mentira é mil vezes mais devastadora, capaz de me despojar de tudo, inclusive do amor e da confiança. Uma lesão mais grave que a anterior, que se agrava a cada segundo que transcorre. Uma mentira é um segredo resguardado a sete chaves, que ao ser desvelado, transforma-se em um artefato explosivo. Afinal, qual seria a escolha acertada? Ambos os caminhos são tortuosos, como lâminas afiadas aguardando para serem cravadas em meu peito.
- Parece tão trivial agora.
- Nada do que dizes será jamais trivial para mim.
- Está dizendo isso agora, mas quando descobrir, irá me abominar.
- Não! - Ele exclamou.- Jamais seria capaz de te abominar.
Encarei-o, desprovida de coragem para prosseguir, aqueles olhos expectantes. Mas eu nunca correspondi à sua bondade, à sua generosidade. Eu menti, falsifiquei cada aspecto da minha existência. Eu não era uma pessoa real, não para Morgan.
E agora, tudo desmoronava sobre mim.
- As coisas têm sido como um vendaval para mim.
Proferir tais palavras seria mais doloroso do que reviver cada tormento passado, como se nada na vida me fosse facilitado. Um fardo colossal repousava sobre meus ombros, despejando seu peso sobre esta alma desafortunada.
- Como um vendaval? - Sua voz ecoava temor, antecipando o pior. Meus olhos ardiam, queimando como brasa, as lágrimas ansiavam por liberdade, e eu não possuía forças para contê-las, não desejava que Morgan se angustiasse além do que já estava. - O que está acontecendo? O que diabos estás ocultando de mim? Rebecca! - Sua voz se elevou, o aperto de sua mão em minha pele se intensificou, e meu temor apenas crescia.
- Perdoa-me, mas existem falsidades sobre mim, falsidades que te confessei enquanto fitava teus olhos. - Sua mão subitamente se tornou gélida, ele havia se distanciado.
- Que tipos de mentiras?
Aquelas mentiras que utilizei inúmeras vezes, que empreguei para me aproximar de ti. Aquelas falsidades que brandi porque tinhas uma conexão com ele. Um vínculo que eu jamais possuiria. Eras tudo o que eu não tinha, eras como um elo entre mim e Jungkook.
Eras a minha falsidade.
Aquela em que eu também acreditei ser verdade.- Não sou a pessoa que imaginas ser. Não há definição para mim. Não sou nada do que pensas... Não sou aquela pessoa que conheceste naquele primeiro encontro.
Naquela mesma praça quando te vi, solitário, parecias tão melancólico como um dia ruim. Sob a chuva tempestuosa que caía sobre tua cabeça, lágrimas se mesclavam às gotas. E eu sabia que era a única que podia vê-las, pois compartilhava daquela dor. Eu sabia o que era sentir-se deslocado, como se não pertencesse a ninguém ou a nada.
Como se nunca tivesse existido.
Eu sabia como explorar isso contra ti, sabia como oferecer consolo com algo que eu possuía.
- E então, quem é você de verdade? - Seu semblante não era sombrio, mas parecia ter se estilhaçado naquele instante.
- A pessoa que está enxergando agora. Uma maldita mentira.
Seus olhos se arregalaram.
- Como o quê?
- Eu poderia te destruir.
- É mesmo? - Vi sua garganta engolir em seco. - Como assim?
Sorri. Ele ainda possuía a audácia de me indagar?
Eu estava sem resposta.- Não quero te perder.
Vi o medo em seu olhar.
Ele também temia o que eu poderia dizer.- Não irás.
- Gostaria de acreditar nisso também.
- Rebecca! - Suas mãos agarraram meus dedos subitamente, seu peito se expandiu como se aspirasse todo o ar do mundo. - Não me importo com o que diz!
- Não?
Por que ele parecia ignorar minhas palavras, como se estivesse cego?
- Não. - Ele disse. - Não me importo, mas gostaria que me revelasses algo. Por favor, fala para mim.
Não, por favor, não perguntes.
Eu implorava para que não o fizesse, para que não falasse, para que não me olhasse como se buscasse alguma esperança.Não, por favor, não.
- Isso inclui também a nossa amizade? Realmente te importaste comigo?
A dúvida assombrava seu rosto. Todos os seus sentimentos, toda a chuva que uma vez caiu. Todo o azul. Todas as dores que uma vez compartilhou comigo, todos os ferimentos que vi em sua pele alva. Todas as cicatrizes. Todos os nomes que atormentaram sua mente, todos os pesadelos que me confidenciou.
- Sim.
- Estás a mentir!
- Não estou.
- Então por que não consigo acreditar?
- Está feriado.
- Muito mais do que ferido, estou enfurecido. Não sei com quem estou a falar agora, não sei com quem compartilhei todos os meus segredos.
- Pensei que não te importavas com o que digo.
- Não me importo! - Ele gritou. - Mas tudo isso... Dói. Dói como se nada disso fosse real.
- Talvez eu não seja.
Ele me encarou com aqueles olhos furiosos, desejando desvendar toda a verdade. Mas como aquele mesmo menino solidário que olhei um dia
- Diga me quem é você.
Oh, meu garoto da janela,
Eu terei um final feliz?
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A garota da Janela
Fanfic𝐕𝐎𝐋𝐔𝐌𝐄 𝟏: 𝐚 𝐠𝐚𝐫𝐨𝐭𝐚 𝐝𝐚 𝐣𝐚𝐧𝐞𝐥𝐚 ━━━━━━━━━━━━━━ Jungkook sempre se sentiu meio obcecado pela sua vizinha da casa ao lado. Mas ao contrário do que todos pensariam, era algo completamente ingênuo e doce. Jungkook não tinha maldades e...