27 | A pior das espécies

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CAPÍTULO VINTE E SETE:
Era um adeus

━━━━━━━━━━━━CAPÍTULO VINTE E SETE: Era um adeus

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Violeta

12 de maio de 1997

Um dia marcado por silêncios intrigantes e olhos castanhos vazios, como os da minha mãe no enterro do meu pai. E agora, Morgan, com seus olhos tão diferentes, mas igualmente enigmáticos.

Ethan Morgan, ou simplesmente Morgan, era o oposto de mim: barulhento, desafiador e tagarela. Nossa primeira interação naquela ponte foi rude, mas algo mudou desde então. Seus olhos castanhos não eram mais ocos; eles escondiam algo que eu não entendia, mas sabia como usar.

Eu o chamava pelo sobrenome, como se isso justificasse o que estava fazendo. Morgan tinha algo que eu nunca poderia ter, e eu não me arrependeria, mesmo que soasse errado. Ele era meu laço vermelho para o outro lado da ponte.

Mas eu nunca questionei o preço que pagaria por isso.

- Esse momento parece tão nostálgico, você não acha? - Morgan disse, seus olhos vagando pelo horizonte.

Eu o observei respirar devagar e se silenciar novamente.

- Sim. -  respondi simplista. Seu olhar caiu sobre mim, como se ponderasse antes de falar.

Morgan escolhia suas palavras com cuidado, mas às vezes deixava seus pensamentos escaparem. Ele pensava tanto que suas bochechas inflavam e sua testa se enrugava, expressando sua frustração.

- É como se ainda fosse a primeira vez. - ele murmurou. Era como se fosse, mas agora sem a chuva para disfarçar nossas lágrimas.

- Mas não é. Você sabe disso, não sabe? - Peguei sua mão com delicadeza, e Morgan tremeu. Quando o calor da minha pele encontrou a dele, ele parou.

Morgan tentou falar comigo novamente, mas sua voz desapareceu abruptamente, como se tivesse sido silenciada por alguma força invisível. Seus olhos, porém, pareciam sorrir, como se duvidassem do meu interesse genuíno.

- Como está sua mãe? - perguntei, lembrando-me de que fazia muito tempo desde a última vez que ele mencionara a mais velha.

Ele hesitou antes de responder, seus dedos trêmulos. Morgan tremia quando falava de sua mãe, ele se sentia ansioso. Talvez sentisse todos os pensamentos ruins no mundo, mas ele sabia disfarçar bem.

- Ela teve outra recaída. - disse Morgan. - Meu pai e eu estamos fazendo o possível.

- Tentando. - murmurei, desconfiada. A palavra soava vazia, como se não fosse suficiente. Sua mãe não precisava apenas de tentativas; ela precisava de uma solução definitiva para seus demônios internos. - E quando vocês vão parar?

Morgan franziu a testa, surpreso com minha pergunta direta. Sua mãe sempre fora gentil comigo, mas eu não podia ignorar a realidade.

- Às vezes, tudo o que queremos é descansar em paz. - respondi, minha voz baixa.

A fúria se acendeu nos olhos de Morgan. Ele se levantou abruptamente, as palavras explodindo como um grito.
- Você é uma maldita filha da puta!

Nossos olhares se encontraram, e eu o encarei com firmeza.

- Talvez eu seja. - respondi, um sorriso triste nos lábios. - Mas não insulte minha mãe.

Morgan parecia frustrado, os olhos buscando algo em mim.

- Eu não consigo reconhecê-la agora. - ele murmurou.

- Às vezes, talvez nunca a tenha conhecido de verdade. - retruquei. - Entre nós, só existem mentiras.

Ele explodiu:

- Então, conte-me qual é a sua grande mentira!

Minha voz saiu fria e cortante.
- A verdade é que você é patético. Sempre foi

Morgan engoliu em seco, os olhos suplicantes.
- Patético? É isso que você tem a dizer? Que sou patético? Essa é a mentira que você conta quando olha nos meus olhos?

Eu desviei o olhar, evitando encará-lo.

- Esqueça tudo isso. -  murmurei. - Faça de conta que nada disso importa para você. Faça como desejar.

Ele se aproximou, a voz rouca.
- Olhe para mim e diga novamente o que você quer.

Espero que um dia você me perdoe.
Mas eu também espero que não.

- Não preciso mais vê-lo.

Isso era um adeus.

E assim, entre palavras afiadas e sentimentos dilacerados, eu me tornei a pior das espécies: aquela que machuca sem piedade.

A garota da JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora